A Polícia Federal (PF) está investigando a possibilidade de que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tenha levado joias adicionais, inúmeras além das já mencionadas, para os Estados Unidos, utilizando o avião presidencial durante sua partida do Brasil em 30 de dezembro do ano passado.
Esta suspeita ganhou força devido a indícios que apontam para atividades de Mauro Cid no exterior, onde ele supostamente negociou relógios que não foram registrados no Gabinete de Documentação Histórica.
Um exemplo notável é o relógio Patek Phillipe, que foi vendido em conjunto com um Rolex por um valor de US$ 68 mil. É importante observar que o Patek Phillipe não está presente nos registros oficiais do gabinete da Presidência da República. Embora tenha sido vendido, não existe informação sobre sua recompra, e até o momento a Polícia Federal não conseguiu determinar sua procedência.
Além desses pontos, há a suspeita de que outras joias tenham sido recebidas por Bolsonaro como presentes, mas não foram devidamente registradas no acervo pessoal ou no patrimônio da União durante o mandato do ex-presidente.
Em relação às joias já identificadas, a Polícia Federal identificou que Bolsonaro transportou dois conjuntos de presentes em uma mala. Um desses conjuntos consistia em duas esculturas de um barco e uma palmeira, recebidas durante sua viagem ao Bahrein em novembro de 2021. Por outro lado, há o conjunto de joias da marca Chopard, oficialmente presenteado a Bolsonaro pela Arábia Saudita. Esse conjunto incluía uma caneta, anel, abotoadura, rosário árabe e um relógio.
O primeiro conjunto de presentes não pôde ser vendido porque se descobriu que era feito de latão e não tinha valor comercial. O segundo conjunto foi devolvido à União, mas não se tem informações se a equipe do ex-presidente o vendeu e posteriormente o readquiriu.
O Tribunal de Contas da União ordenou a devolução, porém, essa determinação não se estendeu ao primeiro conjunto, uma vez que ele não estava registrado nos documentos históricos do Gabinete.
Na próxima semana, em 31 de agosto, a Polícia Federal planeja tomar os depoimentos do ex-presidente, da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, do tenente-coronel Mauro Cid, do general Lourena Cid, do advogado Frederick Wassef, e outros indivíduos envolvidos.
Todos os depoimentos serão colhidos simultaneamente no mesmo dia, como uma estratégia para prevenir a coordenação de narrativas no que diz respeito às negociações das joias nos Estados Unidos. Caso seja constatada uma tentativa de coordenação das versões, a Polícia Federal poderá indiciar a pessoa responsável por obstrução da justiça.
Discordâncias entre defesas de Bolsonaro e Michelle
Na tarde desta terça-feira (22), o advogado da ex-primeira-dama, Michelle Bolsonaro, abandonou o caso das joias, após discordâncias com a defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Até então, os advogados do “capitão” defendiam uma defesa unificada, enquanto a de Michelle não concordava.
A estratégia da equipe de defesa da ex-primeira-dama era reproduzir a abordagem empregada no caso dos cheques totalizando R$ 89 mil depositados na conta dela por Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro, filho do ex-presidente. Na ocasião, Bolsonaro praticamente isentou Michelle de qualquer responsabilidade, ao explicar que havia emprestado o dinheiro a Queiroz e que os depósitos destinados a Michelle representavam a devolução desse valor. O ex-presidente negou a presença de irregularidades nesse caso.
Por outro lado, advogados que se opõem à unificação das defesas avaliam que essa é a única maneira de proteger Michelle: Bolsonaro deveria admitir que as joias eram suas, e que Michelle não tinha conhecimento disso. Qualquer alternativa, argumentam, teria consequências negativas tanto do ponto de vista legal quanto político.
Ao contrário de Bolsonaro, Michelle não está impedida de concorrer a cargos políticos e pode sofrer consequências eleitorais caso seja considerada culpada no caso das joias, por exemplo. Por isso, assessores recomendam que ela se distancie da defesa de Bolsonaro. Enquanto isso, o grupo mais próximo da defesa do ex-presidente deseja unificar as estratégias de defesa.
Os advogados que se opõem à unificação consideram que a única solução para salvaguardar Michelle é que Bolsonaro admita que foi ele quem ordenou a venda das joias recebidas como presente, da mesma forma que fez no caso dos cheques.
Para esse grupo de advogados, unificar as estratégias de defesa seria tornar Michelle vulnerável e desprotegida, deixando-a exposta à possibilidade de uma ofensiva política como ex-primeira-dama.
Em contrapartida, a equipe jurídica de Bolsonaro busca a unificação da defesa, alegando que é viável argumentar que a questão das joias não envolveu a ex-primeira-dama, ao mesmo tempo em que mantém a narrativa de que Bolsonaro recebeu os presentes e baseia-se em uma portaria de 2017, que ele próprio revogou.