De acordo com informações do Metrópoles, Walter Delgatti, também chamado de hacker do escândalo “Vaza Jato”, reservou revelações explosivas para sua mais recente aparição pública na semana passada, sob os holofotes da Comissão Parlamentar Mista (CPMI) sobre Tentativas de Golpe.
A Polícia Federal (PF) se viu obrigada a convocá-lo para outro depoimento, que ocorreu na última sexta-feira (18). A polícia já havia ouvido Delgatti, mas ainda não tinha ouvido muito sobre o alegado plano para criar dúvidas sobre a confiabilidade das urnas eletrônicas. Essa ação supostamente tinha a aprovação do ex-presidente Jair Bolsonaro e envolveria até o Ministério da Defesa e a interceptação do ministro Alexandre de Moraes, que é o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e um Ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).
No entanto, segundo o Metrópoles, há um material que mostra no “off” o hacker contou aos conhecidos os bastidores do plano enquanto ele estava se desenrolando. Desde o segundo semestre do ano passado, Delgatti vinha revelando, em conversas mais íntimas, a existência de um plano para tentar mudar o rumo da eleição presidencial de 2022.
Esses detalhes ainda são desconhecidos pela PF ou pela CPI e foram documentados durante a própria execução do suposto projeto de golpe entre agosto e setembro do ano passado. O conteúdo das conversas foi apresentado dentro do contexto de cada áudio. O relatório fez cortes para preservar a confidencialidade da fonte.
Durante a véspera de sua reunião com o ex-presidente presidente Jair Bolsonaro (PL), Delgatti foi gravado antecipando o que sabia sobre a pauta da reunião — horas antes do áudio, o programador já havia ido à sede do partido PL para falar com o presidente nacional do partido, Valdemar Costa Neto, quando o plano também teria sido discutido.
“Eles vão configurar o código-fonte para dar o resultado que eles querem. Eles vão pegar agora uma urna. Eles mesmo vão fazer isso”, declarou. Naquele momento, o programador esclareceu que as ações tinham o propósito de instigar o TSE a permitir a supervisão das urnas por parte dos militares, preparando o terreno para questionar um eventual triunfo do então candidato Lula, do PT.
Ainda no mesmo dia, 9 de agosto, ele foi gravado no interior do hotel Phenícia, localizado no Setor Hoteleiro Sul de Brasília. No vídeo, até então não divulgado, ele é visto junto ao balcão, engajando numa conversa com um funcionário do estabelecimento. Foi nesse momento, antes do encontro com o ex-presidente no Palácio do Alvorada, que um motorista, utilizando uma placa falsa, o apanhou, conforme revelado pela revista Veja em agosto de 2022.
No mês seguinte, em 22 de setembro, apenas 10 dias antes do primeiro turno das eleições, o programador detalha o que poderia ser uma liderança do ex-presidente Bolsonaro na empreitada, sugerindo que os dois tivessem se encontrado várias vezes.
“O Bolsonaro, ele tá fazendo questão que eu vá lá. Aí, teve alguém da equipe que falou: “Irmão, é bom ele não vir aqui porque pode queimar”. Logo, Bolsonaro afirmou: “Quem manda aqui sou eu, e ele vai vir”.
De acordo com Delgatti, o plano traria vantagens diretas para o ex-presidente. “Ou você acha que o Presidente da República estaria correndo esse risco de me receber lá, me receber lá, se não fosse algo que ajudasse muito ele?”, indagou.
Na mesma conversa, ele deixa claro de maneira sarcástica que o grupo associado ao presidente Lula, que acabou sendo beneficiado indiretamente pela divulgação dos diálogos dos procuradores da Lava Jato feita por Delgatti, não teria tratado ele da mesma maneira.
Durante a audiência na CPI, questionaram Delgatti sobre sua relação próxima com a deputada Carla Zambelli, que estava sob investigação por tê-lo recrutado. De acordo com a defesa da parlamentar, essa proximidade se devia a um projeto profissional relacionado à gestão das redes sociais da política. Contudo, de acordo com a gravação obtida pelo Metrópoles, o testemunho do hacker contradiz essa explicação ao afirmar que ele e Zambelli mantinham uma relação quase familiar.
“Eles estenderam a mão para mim, cara. A Carla me tratou hoje como se fosse um filho, coisa que nunca aconteceu na minha vida. A ponto da mãe dela me servir leite com Nescau, na mesa, e acompanhado com ela”, declarou Delgatti.
Nesta segunda-feira (21), veio à tona um áudio entregue à Polícia Federal (PF) pela defesa de Walter Delgatti, que aparentemente seria uma evidência do vínculo financeiro entre eles. Na mensagem, uma mulher, supostamente ligada à campanha eleitoral da deputada federal, promete a ele discutir sobre o pagamento e “sobre a tua proposta”, referindo-se a Delgatti.
Apesar do acesso ao áudio pelo Metrópoles, a mensagem não deixa claro qual serviço estava sendo debatido ou qual era a ideia apresentada pelo programador. O advogado de Delgatti alega que esse áudio é uma “via de prova”.
Entretanto, o advogado de Carla Zambelli, Daniel Bialski, afirma que todas as interações entre a equipe da deputada e Delgatti envolviam uma proposta de trabalho que o programador encaminhou aos assessores da parlamentar, relacionada à administração das publicações da política em redes sociais. Ele categoriza outras interpretações do áudio como “falácias”.
No último sábado, dia 26 de agosto, o Metrópoles divulgou de forma exclusiva prints de um extrato do banco digital Cora. Foi com base nesse documento que os investigadores puderam dar algum crédito ao depoimento do programador e “hacker” Walter Delgatti, que descreve um plano golpista envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro.
A defesa de Zambelli, por meio de nota, rejeita qualquer acusação de comportamento ilegal ou imoral por parte da parlamentar, também negando as alegações feitas por Walter Delgatti. O advogado Daniel Bialski afirma que as versões do programador “mudam a cada dia” e contêm distorções e invenções cheias de mentiras, destacando que as alterações constantes nos fatos demonstram a falta de idoneidade e credibilidade em suas palavras.