A defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro alegou que ele nunca teve conhecimento da existência de um relógio da marca suíça Patek Philippe, avaliado em US$ 51 mil (R$ 255 mil, de acordo com a cotação atual), que supostamente teria sido presenteado ao governo brasileiro por autoridades do Bahrein em novembro de 2021. Contudo, conforme informações da Polícia Federal, o relógio foi entregue à comitiva brasileira e posteriormente vendido pelo ex-ajudante de ordens Mauro Cid a uma loja nos Estados Unidos em junho de 2022, juntamente com um Rolex oferecido pela Arábia Saudita.
No decorrer de março deste ano, o Rolex foi adquirido novamente pelo advogado Frederick Wassef, conforme ele mesmo reconheceu. Essa recompra, apelidada de “operação de resgate” pela polícia, teve como intuito permitir que o presente fosse restituído ao poder público, em cumprimento a uma determinação do Tribunal de Contas da União (TCU). As autoridades tinham conhecimento da existência do Rolex, pois este estava registrado como parte do acervo privado do ex-presidente. Contrariamente, o relógio Patek Philippe não foi incluído no registro do acervo.
Segundo O GLOBO, após uma análise da lista contendo os registros de todos os 9.158 presentes catalogados nos acervos público e privado de Bolsonaro, não foi encontrado qualquer menção a esse relógio em particular. A Polícia Federal também mencionou no inquérito que não conseguiu localizar nenhum registro referente à peça. Dado a essa ausência, a existência do Patek Philippe permaneceu desconhecida e, como resultado, o TCU não solicitou sua restituição. O paradeiro do relógio permanece incerto.
“Nunca ouvimos falar (desse relógio), nem Bolsonaro nem a defesa. Surpresa para todos nós”, declarou o ex-secretário de Comunicação e advogado Fábio Wajngarten, integrante da equipe jurídica do ex-presidente.
A Polícia Federal identificou a presença do relógio Patek Philippe durante uma análise minuciosa dos arquivos contidos no armazenamento em nuvem e em um computador pertencente a Mauro Cid, o qual havia sido apreendido. A investigação revelou a existência de fotos do relógio, juntamente com seu certificado de autenticidade, além de uma captura de tela de um anúncio online que exibia o valor da peça (US$ 51 mil). Essas imagens foram compartilhadas por Cid no dia 16 de novembro de 2021, utilizando um número de telefone que supostamente pertenceria a Bolsonaro, conforme registros encontrados na agenda telefônica do militar. Nessa data, a comitiva presidencial se encontrava na capital do Bahrein, Manama.
Ainda na investigação, os agentes localizaram um comprovante de venda de dois relógios — o Rolex e o Patek Philippe — a uma loja situada na Pensilvânia, Estados Unidos, em 13 de junho de 2022. Por essa transação, Cid teria recebido US$ 68 mil (aproximadamente R$ 340 mil, conforme a cotação atual). Esse montante foi depositado no mesmo dia na conta bancária do general Mauro Cesar Lourena Cid, pai do ex-ajudante de ordens.
Segundo a Polícia Federal, a ausência de qualquer registro do relógio Patek Philippe no acervo presidencial sugere a possibilidade de que esse bem sequer tenha passado pelo Gabinete Adjunto de Documentação Histórica na época, sendo desviado diretamente para a posse do ex-presidente Jair Bolsonaro. A PF também afirmou que esse fato poderia explicar a falta de uma operação para recuperar o item em questão, visto que, até o momento, o Estado brasileiro não tinha conhecimento de sua existência.