Aproximações sucessivas

Brazilian President Luiz Inacio Lula da Silva (2nd-L) is greeted by Army Brigade General Francisco Albuquerque (R), next to Sao Paulo´s state Governor Claudio Lembo (L), during a ceremony at an Army headquarters, in Barueri, 26km west of Sao Paulo, Brazil, 11 August 2006. Lula da Silva said he will mobilize the army to help guard against crime in Sao Paulo state, where 180 people have been killed in violent clashes over the past three months. Lula told that he would visit Sao Paulo to speak with the army chief and ask for help in solving the crisis. Local officials in Sao Paulo have resisted previous offers of military involvement. AFP PHOTO/Mauricio LIMA (Photo by MAURICIO LIMA / AFP)

Na última quinta-feira (17), um ofício do Ministério da Justiça divulgado pelo site Sociedade Militar mostrou que, diferente de outros anos, a Polícia Federal não irá acompanhar os militares nos desfiles do feriado do 7 de setembro. A medida vem de uma determinação do Cerimonial da Presidência da República.

Embora a medida em si não signifique muita coisa, o ofício vem de um momento, no mínimo, peculiar, onde militares estão sendo arrolados em inquéritos, investigações e apurações envolvendo não só as tentativas de golpe de Estado no Brasil, mas também flagrantes contravenções, como no caso das joias.

Não faltam militares presos, próximos de serem presos e alvos de operações pela Polícia Federal. Sem falar da rusga que ficou entre os agentes federais e os militares do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), que acabou com os militares vencendo a batalha pela segurança presidencial.

Mas não é só isso! No dia seguinte, na sexta-feira (18), uma nota publicada no Estadão era uma verdadeira ameaça anônima de generais contra a República. Uma flagrante e direta resposta contra o andamento das últimas investigações e operações que visam acabar, momentaneamente, com uma série de crimes nas forças armadas.

No dia seguinte, no sábado (19), saiu uma outra nota na CNN com o general Tomás Paiva afirmando defender a legalidade. A nota foi baseada num documento publicado pelos militares, também na última sexta-feira (18). Porém, o general que sempre quis deixar a política fora dos quartéis, mais uma vez vai no sentido contrário do que diz.

Flagrado mais de uma vez fazendo discursos políticos dentro de quartéis, agora a nota fala sobre a importância de fazer com que as forças armadas retomem o prestígio da sociedade. Um flagrante exercício de ampliação do protagonismo político e inserção indevida na sociedade civil.

Mas se não bastasse só isso, hoje, no domingo (20), integrantes da PF denunciaram que as forças armadas estão sabotando o seu trabalho de segurança presidencial.

Já está mais do que claro que as coisas não vão bem. Ainda na semana passada tivemos os vazamentos de e-mails da segurança presidencial para militares bolsonaristas como o tenente-coronel Mauro Cid. Além disso, um militar envolvido em grupos golpistas e que atuava no GSI só foi demitido na última terça-feira (15).

Tudo isso acompanhado do mais indecoroso silêncio do presidente Lula, que assim como o resto do Palácio do Planalto, finge desconhecer o descalabro envolvendo os militares ou a série de problemas envolvendo a sua própria segurança. O último é o que causa ainda mais perplexidade.

Lula ainda acha que pode ganhar os militares, erro cometido em seus dois primeiros governos e que só aprofundou ainda mais os problemas e que em certa medida contribuíram para o descalabro do governo Bolsonaro e para a situação atual.

Os militares não precisam de um golpe. Mesmo que precisassem, não conseguiriam ir adiante. Não foram nem no ano passado quando tinham condições mais “favoráveis”. Quem dirá agora? E mesmo após 10 anos (novamente) tumultuando o país, receberam grandiosos investimentos no novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e ao que tudo indica, estão bem longe de passarem por uma necessária e essencial reforma.

A única coisa que os militares precisam é manter esse estado de ameaça permanente, imobilizando, cooptando e drenando o orçamento público para a manutenção dos seus benefícios. Se em 1964 os militares atuavam por ideologia e ganância, agora restou apenas a ganância.

Não importa se analisarmos a história do Brasil por completo ou apenas os últimos 10 anos, veremos os militares no centro dos tumultos e agitações institucionais que esse país já viveu. Bolsonaro não era presidente entre 2013 e 2018.

Bolsonaro pode até ter perdido e estar cada vez mais próximo da cadeia, mas o clima de “tumulto institucional” permanece. E qual é a constante que permanece durante todos estes anos? As forças armadas.

Cleber Lourenço: Defensor intransigente da política, do Estado Democrático de Direito e Constituição. | Colunista n'O Cafézinho com passagens pelo Congresso em Foco, Brasil de Fato e Revista Fórum | Nas redes: @ocolunista_
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