Na última quinta-feira (17), um ofício do Ministério da Justiça divulgado pelo site Sociedade Militar mostrou que, diferente de outros anos, a Polícia Federal não irá acompanhar os militares nos desfiles do feriado do 7 de setembro. A medida vem de uma determinação do Cerimonial da Presidência da República.
Embora a medida em si não signifique muita coisa, o ofício vem de um momento, no mínimo, peculiar, onde militares estão sendo arrolados em inquéritos, investigações e apurações envolvendo não só as tentativas de golpe de Estado no Brasil, mas também flagrantes contravenções, como no caso das joias.
Não faltam militares presos, próximos de serem presos e alvos de operações pela Polícia Federal. Sem falar da rusga que ficou entre os agentes federais e os militares do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), que acabou com os militares vencendo a batalha pela segurança presidencial.
Mas não é só isso! No dia seguinte, na sexta-feira (18), uma nota publicada no Estadão era uma verdadeira ameaça anônima de generais contra a República. Uma flagrante e direta resposta contra o andamento das últimas investigações e operações que visam acabar, momentaneamente, com uma série de crimes nas forças armadas.
No dia seguinte, no sábado (19), saiu uma outra nota na CNN com o general Tomás Paiva afirmando defender a legalidade. A nota foi baseada num documento publicado pelos militares, também na última sexta-feira (18). Porém, o general que sempre quis deixar a política fora dos quartéis, mais uma vez vai no sentido contrário do que diz.
Flagrado mais de uma vez fazendo discursos políticos dentro de quartéis, agora a nota fala sobre a importância de fazer com que as forças armadas retomem o prestígio da sociedade. Um flagrante exercício de ampliação do protagonismo político e inserção indevida na sociedade civil.
Mas se não bastasse só isso, hoje, no domingo (20), integrantes da PF denunciaram que as forças armadas estão sabotando o seu trabalho de segurança presidencial.
Já está mais do que claro que as coisas não vão bem. Ainda na semana passada tivemos os vazamentos de e-mails da segurança presidencial para militares bolsonaristas como o tenente-coronel Mauro Cid. Além disso, um militar envolvido em grupos golpistas e que atuava no GSI só foi demitido na última terça-feira (15).
Tudo isso acompanhado do mais indecoroso silêncio do presidente Lula, que assim como o resto do Palácio do Planalto, finge desconhecer o descalabro envolvendo os militares ou a série de problemas envolvendo a sua própria segurança. O último é o que causa ainda mais perplexidade.
Lula ainda acha que pode ganhar os militares, erro cometido em seus dois primeiros governos e que só aprofundou ainda mais os problemas e que em certa medida contribuíram para o descalabro do governo Bolsonaro e para a situação atual.
Os militares não precisam de um golpe. Mesmo que precisassem, não conseguiriam ir adiante. Não foram nem no ano passado quando tinham condições mais “favoráveis”. Quem dirá agora? E mesmo após 10 anos (novamente) tumultuando o país, receberam grandiosos investimentos no novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e ao que tudo indica, estão bem longe de passarem por uma necessária e essencial reforma.
A única coisa que os militares precisam é manter esse estado de ameaça permanente, imobilizando, cooptando e drenando o orçamento público para a manutenção dos seus benefícios. Se em 1964 os militares atuavam por ideologia e ganância, agora restou apenas a ganância.
Não importa se analisarmos a história do Brasil por completo ou apenas os últimos 10 anos, veremos os militares no centro dos tumultos e agitações institucionais que esse país já viveu. Bolsonaro não era presidente entre 2013 e 2018.
Bolsonaro pode até ter perdido e estar cada vez mais próximo da cadeia, mas o clima de “tumulto institucional” permanece. E qual é a constante que permanece durante todos estes anos? As forças armadas.
João Ferreira Bastos
21/08/2023 - 12h47
Existem mais criminosos nas ffaa do que numa reunião do PCC
Ligeiro
20/08/2023 - 20h25
O poder do sindicalismo de negociação do Lula vem da era da ditadura – e não estou falando exatamente de que Lula apoiou a ditadura, longe disso. Mas sim que Lula desde esta época é um ser político com canais de negociação dentro e fora do exército, senão não conseguiria a força que tem para hoje estar no poder.
Entendo que Lula sempre “deixou passar” os militares pois pensa que brigar com eles é (talvez) esperar um golpe de Estado. Sei lá, isso é uma suposição, e como tal não tem tanto o devido valor em uma área de comentários. :V
No entanto, tenho em mente que justamente o fato de Lula ter estes canais dentro do meio militar é que o ainda permite estar no poder. Senão já estaríamos em uma ditadura de salnorabo. :\
Sou defensor do fim das forças armadas da forma atual – entendo que um exército não precisa ser militar para funcionar e a forma da qual o militarismo hoje age é apenas um fantasma inútil do passado, dado que hierarquia em tempos de liberdade de atuação é só apenas “jogar os mais fracos para os leões”.
Luise
20/08/2023 - 20h16
Obrigada pelo trabalho Cleber. Quem diria que eu andaria do lado da PF contra as Forças Armadas? O Lula fortaleceu ambas, e por conta disso ocorreu o golpe de 2016 e a eleição do Genocida. Lula é muito leniente com ameaças contra ele, é de foder.