Um casal do interior de São Paulo invadiu uma escola municipal armados, acusando as professoras de ensinarem “conteúdos ideológicos” às crianças. O caso foi registrado nesta quarta-feira (16), em Ribeirão Preto.
Segundo o boletim de ocorrência, um casal de pais de uma aluna do 1º ano do ensino fundamental entrou na escola Maria Inês Vieira Machado por volta de 13h, no horário de almoço dos funcionários. Eles questionaram por que não foi enviado “lembrança de dia dos pais” à família e, em seguida, o homem, visivelmente alterado, acusou e ameaçou duas professoras.
O diretor contou à Polícia Civil que o homem perguntou às professoras quais eram as concepções de família para elas e quais os motivos de abordarem assuntos como “mulher e sociedade” e “mulher, trabalho e lazer”.Ele acusou as professoras de ensinarem conteúdo doutrinário para a filha, baseados em “ideologia de gênero”.
Na sequência, ele sacou uma arma e disse que “se as professoras não estavam ensinando nada errado, não era para ter medo”. Além da ameaça, o casal questionou de onde viria a orientação para as disciplinas ministradas pelas professoras. Elas apontaram que eram indicações dos livros aprovados pelo Ministério da Educação (MEC), ainda registrados na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Apenas neste momento a mulher pediu que o marido guardasse a arma de fogo e, então, eles saíram da escola e avisaram que iriam retornar no dia seguinte.
Em nota, a Secretaria da Educação de Ribeirão Preto afirmou repudiar “quaisquer atos de violência e a ameaça de um pai aos nossos professores, dentro de uma escola, é inaceitável. A pasta tomou as medidas cabíveis no mesmo dia da ocorrência, que ocorreu na última quarta-feira, dia 16, onde um Boletim de Ocorrência foi lavrado e o caso está sendo investigado pela Polícia Civil”.
O posicionamento foi seguido pela administração municipal, que solicitou apoio da Polícia Militar e da Guarda Civil Metropolitana. Os órgãos estão, agora, fazendo ronda na entrada e saída da escola.
Questionado pela Folha de S. Paulo, o homem não quis responder às perguntas, mas confirmou que estava armado quando entrou na instituição de ensino. Segundo o homem, ele sempre anda com arma de fogo, pois trabalha em comércio e é CAC (caçador, atirador ou colecionador), e por isso tem registro do item.
O decreto de armas em vigência no Brasil proíbe que CACs circulem com armas de fogo. O transporte só pode ser feito do local de guarda até o clube de tiro ou caça.
A equipe da escola se manifestou totalmente contra o ocorrido. Em uma carta de esclarecimento aos pais, a instituição considerou a atitude como uma “afronta contra toda a comunidade escolar. É uma ameaça contra cada estudante, pai, docente, funcionário e toda a sociedade”.
Os profissionais da educação também explicaram a lição de casa questionada pelo homem no ocorrido: era uma atividade de pesquisa sobre a vida das mulheres no passado, que pedia aos alunos que entrevistasse familiares para “descobrir como era a vida das mulheres da sua família em outras épocas” e, depois, dividir a conversa em sala de aula.
Nenhum comentário ainda, seja o primeiro!