Há quase 10 anos atrás, mais precisamente em 2016, o então ministro da Casa Civil do governo de Michel Temer, Romero Jucá, foi flagrado em uma conversa gravada com o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado. Na conversa, Jucá e Machado discutem a possibilidade de um “grande acordo nacional” para acabar com as investigações da Operação Lava Jato. Jucá diz que isso só seria possível com o apoio do Supremo Tribunal Federal (STF). Machado concorda e diz que o STF “é a chave” para acabar com a Lava Jato. Nasce então a famosa frase “um grande acordo nacional, com o supremo, com tudo” que gerou uma grande polêmica na ocasião.
Anos depois, de forma muito mais silenciosa, discreta e perversa, um novo acordo nacional parece ter sido firmado em Brasília. Os engravatados do centrão saem de cena e entram os fardados do centrão.
Depois de tumultuarem a política e a sociedade brasileira por 10 anos, já há quem atue paulatinamente para que ocorra uma nova anistia aos militares e, principalmente, em favor da cúpula das forças armadas.
No Palácio do Planalto qualquer assunto envolvendo militares é tratado com tabu. Poucos são os que falam alguma coisa, isso quando não falam nada ou algo como “não sei”, “não vamos render intrigas”, “não posso falar”. Na verdade, este é um dos poucos temas que não são vazados no Planalto, há uma espécie de lei do silêncio.
Lula até o momento não disse uma palavra sequer sobre os escândalos envolvendo o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) ou sobre o Ministério da Defesa, que na gestão anterior participou ativamente para tumultuar as eleições com militares que ainda hoje integram o alto-comando.
No começo do ano, Lula nomeou Gonçalves Dias para comandar o GSI, general que já havia sido flagrado confraternizando com policiais amotinados e que espalhavam o terror pelo estado da Bahia anos atrás. Não é de se surpreender que quando assumiu o GSI, manteve o máximo possível de quadros da gestão anterior dentro do órgão. O desfecho disso todos nós sabemos.
No Congresso Nacional, parlamentares da própria base do governo apontam que existem sim outros parlamentares da base empenhados em uma espécie de anistia aos militares. O próprio Ministro da Defesa, constantemente está por lá para evitar danos ao militares, principalmente na CPMI. Mais de uma fonte revelou à coluna que Múcio pediu para que parlamentares pegassem leve com Mauro Cid em seu depoimento.
A própria manutenção de Múcio no cargo após ir seguidamente contra o próprio governo (seja ao afagar acampados, defender veladamente Jair Bolsonaro ou defender uma operação de Garantia da Lei e da Ordem) e que hoje atua unicamente como um mero despachante da cúpula militar é um gritante indicativo disso. Além disso, basta ver também que membros do governo e até mesmo do partido do presidente já trocaram fogo-amigo em público e críticas públicas sem o menor constrangimento, algo que nunca ocorreu com Múcio.
Já falei à exaustão que Lula tem um compromisso irrevogável com o erro quando o assunto é livrar a democracia da ameaça verde-oliva que periodicamente coloca o seu coturno no pescoço do Estado Democrático de Direito.
O silêncio conivente das autoridades do governo Lula só reforçam que um fato lamentável: estamos diante de um novo grande acordo nacional, se antes era com o supremo, agora é com os militares e com tudo.
Estamos apenas adiando uma nova crise.