A nova estratégia da defesa de Walter Delgatti Neto, o hacker, consiste em renunciar a um acordo de delação premiada e buscar a inclusão no programa de proteção a testemunhas, visando obter liberdade com segurança. O advogado de Delgatti entende que ele já compartilhou todas as informações que possuía, tornando a delação premiada dispensável.
No momento de sua prisão e primeiro depoimento à Polícia Federal (PF), Delgatti estava desacompanhado de um advogado, o que levou a revelar todos os detalhes. Além disso, apesar de realizar atividades criminosas, Delgatti, também conhecido como o “hacker da Vaza Jato,” nutre um certo orgulho por sua atuação, almejando ser reconhecido como um “grande hacker.”
Delgatti testemunhou, nesta quinta-feira (17), perante a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga os atos golpistas no Congresso Nacional. Ele comunicou aos membros da comissão que, em uma reunião realizada no Palácio da Alvorada com Jair Bolsonaro (PL) antes das eleições de 2022, o então presidente assegurou a possibilidade de conceder-lhe um indulto presidencial, caso Delgatti fosse preso ou condenado em relação a atividades envolvendo urnas eletrônicas.
“A ideia ali era que eu receberia um indulto do presidente. Ele havia concedido um indulto a um deputado federal. E como eu estava com o processo da Spoofing à época, e com as cautelares que me proibiam de acessar a internet e trabalhar, eu visava a esse indulto. E foi oferecido no dia”, afirmou.
Na mesma ocasião, relatou que, durante uma conversa com Bolsonaro, foi informado de que o círculo próximo ao então presidente havia realizado a interceptação das comunicações do ministro Alexandre de Moraes, membro do Supremo Tribunal Federal e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). De acordo com Delgatti, na ligação, Bolsonaro teria insinuado que Delgatti Neto deveria “reivindicar a responsabilidade” pelo monitoramento.
“Segundo ele [Bolsonaro], eles haviam conseguido um grampo, que era tão esperado à época, do ministro Alexandre de Moraes. Que teria conversas comprometedoras do ministro, e ele precisava que eu assumisse a autoria desse grampo”, declarou.
Durante sua declaração, Delgatti também compartilhou que assessores de Bolsonaro recomendaram a elaboração de um “código-fonte” fictício, com o intuito de insinuar que a urna eletrônica poderia ser explorada e sujeita a fraudes. A sugestão teria sido apresentada pelo estrategista de marketing Duda Lima em uma reunião que envolveu o líder do PL, Valdemar Costa Neto, a deputada Carla Zambelli (PL-SP) e outras indivíduos associados à parlamentar. No entanto, Lima refuta ter participado dessa reunião.
A declaração contra Bolsonaro
No testemunho dado à CPMI, o hacker originário de Araraquara (SP), Walter Delgatti Neto, expôs que o estrategista de campanha de Bolsonaro, Duda Lima, solicitou que ele criasse um código fictício para a urna eletrônica, com o intuito de iludir a população brasileira a respeito das eleições. Segundo Delgatti, o plano conspiratório recebeu aprovação do então presidente Bolsonaro.
Delgatti também revelou que o plano envolvia uma demonstração no dia 7 de setembro, visando mostrar que era viável inserir um voto na urna eletrônica e ter o dispositivo registrar uma informação diferente.
“O Duda inicialmente disse que o ideal seria eu fazer uma reunião com a esquerda e de forma espontânea falar das urnas, falar da fragilidade das urnas. Não ocorreu porque o meu encontro saiu na mídia e eles cancelaram isso”, comentou.
“A segunda ideia era no dia 7 de setembro eles pegarem uma urna emprestada da OAB e que eu colocasse um aplicativo meu lá e mostrasse à população que é possível apertar um voto e sair outro. O código-fonte da urna, eu faria o meu, só mostrando, a população vendo que é possível apertar um voto e imprimir outro”, declarou.