perseguição jurídica contra Cristina Kirchner, criminalização do Peronismo e crise econômica gerada pelo FMI leva ao renascimento do fascismo na Argentina, assim como aconteceu no Brasil em 2016-2018.
O cenário que muitos especialistas previram para as eleições primárias na Argentina, em que os votos se dividiram em três terços, teve um protagonista inesperado, que contrariou todas as pesquisas poucas horas antes das eleições da PASO (Primárias, Abertas, Simultâneas e Obrigatórias), realizadas neste domingo na Argentina: o candidato de extrema-direita Javier Milei foi o mais votado em todo o arco político.
Pode-se dizer que houve um triplo empate técnico. Com 97% dos votos apurados, o candidato de extrema-direita Javier Milei, do A Libertade Avança, obteve 30,06% dos votos. Segue-se a vencedora da disputa interna da coalização opositora Juntos pela Mudança, Patrícia Bullrich, que foi ministra da Segurança no Governo de Mauricio Macri (2015-2019), em segundo lugar, com 28,25% dos votos. E em terceiro lugar está o candidato Sergio Massa, do União pela Pátria, da esquerda peronista, que obteve 27,24%.
Os pesquisadores acreditam que pode ter ocorrido um apoio oculto a Milei. Eles também sustentam que o apoio ao candidato extremista pode ter crescido fortemente na última semana, antes das eleições. Esses dois argumentos levaram a uma votação expressiva e inesperada obtida por ele.
Após a perplexidade, que significou para os dois partidos mais importantes do país a irrupção de Javier Milei como o candidato mais votado da PASO presidencial, o partido no poder trabalha para reconfigurar seu discurso, analisar opções com o objetivo de aumentar a participação, conseguir votos de diversos setores e polarizar totalmente com o candidato da extrema direita para chegar ao segundo turno e deixar de fora Patrícia Bullrich. Fontes do governo analisam que a disputa de Milei com Bullrich pelo eleitor do mesmo perfil pode levar o candidato peronista ao segundo turno. “A tarefa é unificar tudo o que está solto e expandir onde for possível. Essa é a ordem que Massa deu em todos os distritos”.
A fórmula governamental foi derrotada em 18 províncias, incluindo aquelas que já foram bastiões inexpugnáveis do peronismo, como Tucumán, La Rioja ou La Pampa, e em setores sociodemográficos que têm sido apoiadores estáveis do peronismo desde a recuperação da democracia, 40 anos atrás. Uma demonstração tangível da crise de representação que hoje atravessa o movimento popular por excelência da Argentina. A crise econômica do país, provocada originalmente pelas desastrosas iniciativas do governo direitista de Macri, que se submeteu às imposições do Fundo Monetário Internacional – FMI, estão dramaticamente refletidas no resultado eleitoral da PASO.
As cartas estão lançadas. As pesquisas foram as grandes perdedoras e serviram de orientação, não só para a classe política, mas também para os investidores. Hoje o mercado dolarizou mais forte do que na semana passada, quando o Banco Central teve que intervir com US$ 230 milhões para que não subisse.
Segundo o site InfoMoney, os mercados estão reagindo de forma negativa à vitória de Javier Milei, nas prévias das eleições presidenciais na Argentina. Os papéis da dívida argentina são negociados em situação de estresse rotineiramente, dada a situação econômica do país, mas vinham em um movimento de alta nas últimas sessões. A reação negativa ao nome de Milei está ligada às suas ideias econômicas: ele defende a dolarização da economia, o fim do Banco Central e tem um forte discurso contra as medidas de cunho social. A Argentina possui uma inflação que passa dos 100% neste ano e o candidato afirma que dolarizar o país será suficiente para domar a alta dos preços — o que economistas rechaçam.
Nesse quadro turbulento, o peronismo manteve seu grande reduto eleitoral, a província de Buenos Aires, o mais populoso do país, onde obteve 36,37% dos votos para o atual governador, Axel Kicillof, único candidato do partido governista. Já na cidade de Buenos Aires, o candidato Jorge Macri, primo do ex-presidente Mauricio Macri, derrotou Martín Lousteau, que contava com o apoio de Rodríguez Larreta, o atual prefeito da capital, que foi derrotado por Patrícia Bullrich nas prévias internas do partido.
A partir desta segunda-feira, a Argentina inicia a corrida presidencial que culminará em 22 de outubro. Se nenhum dos candidatos obtiver maioria absoluta nesse primeiro turno, os dois mais votados disputarão no dia 19 de novembro o mandato que terá início em 10 de dezembro e término em 2027.