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Polêmica! Evento de clubes de tiro oferece R$ 1,5 mi em armas

No contexto das recentes medidas implementadas para regular o porte de armas no Brasil, sob a administração do presidente Lula, emerge uma intensa agitação entre os entusiastas de clubes de tiro, fervorosos defensores do armamentismo e simpatizantes do movimento bolsonarista. Este alvoroço tem sua origem na próxima edição do W2C – O Desafio, marcada para […]

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Reuters/Diego Vara/ Direitos Reservados

No contexto das recentes medidas implementadas para regular o porte de armas no Brasil, sob a administração do presidente Lula, emerge uma intensa agitação entre os entusiastas de clubes de tiro, fervorosos defensores do armamentismo e simpatizantes do movimento bolsonarista. Este alvoroço tem sua origem na próxima edição do W2C – O Desafio, marcada para a segunda metade de agosto de 2023. Os organizadores estão otimistas quanto a essa edição se converter no “maior evento de tiro global”, com a possibilidade de atrair uma afluência de até 150 mil participantes.

O mentor por trás desse empreendimento é o empresário João Sansone, autodenominado “patriota, empreendedor vocacionado e incansável defensor da atividade policial”. O W2C já celebra sua terceira edição no Brasil, após as duas anteriores realizadas em Itu, São Paulo. Este ano, o W2C se expande para ocorrer em mais de 1.500 clubes de tiro dispersos por todo o território brasileiro. Através da colaboração financeira das principais empresas do setor armamentista, Sansone angariou um financiamento substancial para o evento, que está programado para transcorrer entre os dias 17 e 27 de agosto.

Em seu sítio oficial, o W2C é apregoado como sendo apoiado por duas gigantes do setor: a Taurus, maior fabricante de armas do país, e a Companhia Brasileira de Cartuchos, também conhecida como CBC, uma fábrica de munições e armas que mantém o monopólio da produção de munições no Brasil.

Desempenhando o papel de maior patrocinadora do W2C, a Taurus ofereceu uma seleção de prêmios, somando um valor de R$ 300 mil. Entre eles, estão cinco revólveres Taurus modelo RT 856, armamentos habilitados para miras ópticas; dez unidades da pistola GX4 Graphene; cinco pistolas TS9 Full e cinco TS9c compactas, juntamente com seis fuzis e outras armas.

O site do evento proclama que “nunca na história do cenário de tiro mundial uma premiação de tal magnitude foi proporcionada a atletas amadores e profissionais”. A competição conta ainda com o patrocínio das empresas americanas Springfield Armory e Canik Arms, da Sig do Brasil, representante brasileira da Sig Sauer, e da empresa brasileira BR Weapons, que disponibilizou mais de 20 pistolas como prêmio. A Indústria Brasileira de Munições também contribuiu com R$ 40 mil em munições. Somadas, todas as empresas patrocinadoras proporcionam um montante de R$ 1,5 milhão em prêmios.

A magnitude de financiamento injetado pela indústria armamentista no tiropalooza deste ano possui suas justificativas. Em 21 de julho, o presidente Lula sancionou um decreto que estreita as regulamentações sobre armas no país, revertendo medidas adotadas durante a administração Bolsonaro, as quais resultaram em um aumento exponencial no número de armas em circulação e clubes de tiro no país. A nova regulamentação estabelece limites para a quantidade de armas e munições que os cidadãos podem adquirir, restringindo o acesso a calibres específicos e proibindo clubes de tiro operarem durante 24 horas.

Ao anunciar o novo decreto, Lula enfatizou a importância de evitar “arsenais em posse de indivíduos”. A permissão para compra de armas com fins de defesa pessoal foi reduzida de quatro armas e 200 munições por ano para duas armas e 50 munições anualmente. Sob o governo Bolsonaro, o limite de compra de munições havia sido elevado para 600 unidades.

Há aproximadamente três semanas, uma “superlive” dedicada à divulgação do W2C foi transmitida durante notáveis 11 horas e 26 minutos, contando com diversos convidados. A transmissão ao vivo ocorreu no clube de tiro Top Gun Floripa, em Florianópolis, e teve como destaque o CEO da Taurus, o empresário brasileiro Salésio Nuhs, como convidado principal.

Durante quase uma hora de entrevista conduzida por João Sansone, Nuhs ressaltou a “coragem” necessária para promover um evento em meio a um contexto desfavorável aos praticantes de tiro. “​​É uma oportunidade e um desafio extremamente grande. Fiz questão de vir pessoalmente nessa live para apoiar vocês. Esse evento que vocês estão organizando junto com a Taurus significa muita coragem. É um momento de atenção que estamos passando no Brasil. Ter a coragem de realizar o evento é muito importante para o momento que estamos passando no Brasil”, afirmou o executivo da Taurus, aproveitando a ocasião para criticar diretamente o governo do presidente Lula.

“Infelizmente, algumas pessoas, principalmente do atual governo, não têm a noção do que é um fim de semana em um clube de tiro em um evento esportivo. Não tem a noção do quão é importante e emocionante quando um atirador, desde o principiante até os tops, sobe no pódio. Inclusive, nossos menores e crianças já começam pequenininhos participando disso”, disse.

Além da participação de Salésio Nuhs na extensa transmissão ao vivo do W2C, influenciadores digitais atuantes no âmbito armamentista também se destacaram no evento. Entre eles, encontramos nomes como Luciano Lara, Felipe Wu, Jorge Ohf, Edilaine Mansueto, Thyago Almeida, Bruna Mirandola e até o lutador de MMA e ex-campeão do UFC, Thiago Marreta, que, conforme indicado pelas informações oficiais do W2C, fará uma viagem exclusiva de Miami para participar da ocasião.

O engajamento robusto por parte dos influenciadores pode ser justificado pelo fato de que o W2C não é concebido apenas para os atiradores profissionais. Pelo contrário, desde o começo, o site do evento destaca uma imagem impactante: um retrato de um idoso empunhando dois revólveres, um em cada mão. A legenda proclama o slogan: “Esportivo. Recreativo. Instrutivo. Para todos!”.

O W2C também atrai personalidades de renome no universo armamentista. Indivíduos como o deputado federal pelo PL, Eduardo Bolsonaro, a instrutora de tiro e analista judiciária do Tribunal de Justiça de São Paulo, Juliana Trovão, o atirador esportivo e influenciador, Maurício Superguns, o lutador Thiago Marreta, e o instrutor Zaba Attack estão agendados para participar de transmissões ao vivo durante o decorrer do evento. A lista de “parceiros de mídia” envolvidos no evento é igualmente extensa: SBT, Record, BandSports e JovemPan, juntamente com canais especializados e influenciadores, como InfoArmas, Paulo Royal, Samuel Cout, Shooters e Triggers.

A página também evidencia outros aspectos do evento: além dos 1.500 clubes de tiro brasileiros que se engajaram na iniciativa, há outros 50 clubes espalhados por 16 países, incluindo locais como França, Alemanha, Estados Unidos, Hungria, Argentina, Austrália e até o território de Hong Kong, na Ásia. Contudo, a dimensão internacional do evento tem sido interpretada como uma estratégia para permitir que os atiradores possam cumprir eventuais novas exigências impostas pelas regulamentações de controle de armas no país. A competição é classificada como um evento de Nível III, a categoria mais alta, devido à participação de competidores de diversas nações.

Segundo destacado pelo portal ComeAnanás, a Associação de Caça e Tiro Contestado, um clube de tiro situado em Santa Catarina e participante da competição, emitiu um comunicado enfatizando que “participar desta prova é uma oportunidade única de assegurar seus direitos, permitindo que você garanta os benefícios de atirador Nível III em relação ao seu acervo e para a compra de munições insumos”. O comunicado ainda ressalta: “Não deixe escapar essa oportunidade! Adiante-se em relação ao novo decreto sobre armas de fogo e garanta seus direitos como atirador”.

O W2C representa o segundo evento de cunho armamentista de relevância deste ano. Em junho, a Proarmas, ou Associação Nacional Movimento Pró Armas, promoveu uma manifestação em Brasília em prol da expansão do porte de armas. O grupo se congregou nas proximidades da Catedral Metropolitana e posteriormente marchou em direção ao Congresso Nacional. Aproximadamente 2 mil pessoas participaram do evento. A organização da manifestação afirma que seu propósito é “defender o direito do cidadão de portar armas e preservar a liberdade de escolha.

O deputado federal Eduardo Bolsonaro também engajou-se na ocasião. Do alto de um veículo de som, proferiu um discurso em favor da desregulamentação das armas e contra o Partido dos Trabalhadores (PT). Durante seu discurso, ele criticou os professores, referindo-se a eles como doutrinadores responsáveis por direcionar “nossos filhos” para o mundo do crime, e os comparou a traficantes de drogas, por alegadamente “sequestrarem” seus pensamentos.

“Não tem diferença de um professor doutrinador para um traficante de drogas que tenta sequestrar os nossos filhos para o mundo do crime. Talvez o professor doutrinador seja pior”, declarou o deputado. “Na CPI do 8 de janeiro, vi pró-armas recebendo um ataque e pessoas tentando vincular o [movimento] pró-armas ao 8 de janeiro. Sabe o que isso significa? Que vocês estão fazendo um excelente trabalho”, afirmou.

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