A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga as invasões do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) ganha um novo contorno político à medida que o governo se articula nos bastidores para moldar a dinâmica da investigação. O deputado Ricardo Salles (PL-SP), relator da CPI, surpreendeu ao desistir de solicitar a prorrogação do prazo da comissão, originalmente programado para encerrar em setembro. Essa decisão ocorreu após partidos do centrão, em resposta ao apelo do líder do governo na Câmara, Zé Guimarães (PT-CE), realizarem substituições estratégicas de membros da comissão.
As mudanças realizadas pelas bancadas do PP, Republicanos e União Brasil alteraram significativamente o perfil dos integrantes da comissão, antes majoritariamente de oposição. Com essa reconfiguração, a composição passou a ser mais centrada, o que pode amenizar o desgaste enfrentado pelo governo desde o início das investigações.
Por trás das substituições de membros da CPI estão as negociações políticas em curso entre essas três bancadas e o Executivo. O deputado Ricardo Salles qualificou essa manobra como uma “clara arregimentação de partidos que estão negociando espaços no governo”. No entanto, o líder do governo na Câmara negou qualquer relação com a recente reforma ministerial e afirmou que a decisão de trocar os membros partiu dele em resposta ao que ele considerou como a CPI “ultrapassando limites”.
De acordo com Zé Guimarães, ele e o deputado Alencar (PT-SP), vice-líder do governo, tiveram uma conversa com Ricardo Salles, onde o relator teria prometido buscar diálogo com o governo. No entanto, o desenrolar dos acontecimentos não seguiu essa direção, segundo o líder. Outro ponto que contribuiu para a decisão de Salles foi o cancelamento da convocação do ministro da Casa Civil, Rui Costa, pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Rui Costa estava programado para prestar depoimento à comissão.
Ricardo Salles, que inicialmente buscava prorrogar a CPI por mais 60 dias, agora revê essa posição à luz das manobras regimentais e da estratégia de reconfiguração dos membros da comissão. Segundo ele, “Diante dessas manobras regimentais e a clara arregimentação de partidos que estão negociando espaços no governo, claramente não é mais o caso de prorrogar a CPI. Não podemos querer prorrogar algo cujas pernas foram amputadas.”
O desenrolar dos acontecimentos aponta para a possível conclusão antecipada da CPI do MST. A decisão de não solicitar a prorrogação por parte do relator, somada ao cancelamento da convocação de um ministro e às substituições de membros por parte do Centrão, sinaliza um movimento de alteração nas forças políticas dentro da comissão. O deputado Salles não esconde sua insatisfação, afirmando que as ações foram tomadas para “agradar ao governo”.
O presidente da CPI, Tenente Coronel Zucco (Republicanos-RS), também expressou preocupações sobre a pressão exercida pelo Palácio do Planalto nas bancadas para a troca de membros opositores por parlamentares alinhados ao governo. Essa mudança na correlação de forças poderia impactar seriamente a natureza e o alcance das investigações, levantando questionamentos sobre a verdadeira independência da CPI.
Em meio a essas reviravoltas políticas, o desfecho da CPI do MST parece estar se desenhando de maneira diferente do que muitos antecipavam. A comissão, que tinha potencial para investigar a fundo as ações do MST, agora enfrenta uma série de obstáculos políticos que podem limitar seu escopo e seu impacto. O desafio da independência das instituições de investigação e do equilíbrio de forças entre governo e oposição continua sendo uma questão crucial no cenário político atual do Brasil.
Fábio
10/08/2023 - 17h45
Essa matéria foi tirada de onde? Do G1, da Folha ou do estadão?