De acordo com informações do G1, foi obtido acesso a um novo conjunto de e-mails de Mauro Cid pela CPI dos Atos Golpistas. Essa correspondência revela documentos que indicam que a Ajudância de Ordens da Presidência da República teve conhecimento dos certificados de um segundo lote de joias provenientes do governo da Arábia Saudita, que entraram no Brasil. Os e-mails também abordam as tentativas de resgatar o primeiro conjunto de joias, que havia sido apreendido pela Receita Federal no Aeroporto de Guarulhos.
Em 19 de dezembro do ano passado, Mauro Cid digitalizou quatro certificados emitidos pela marca Chopard:
- O primeiro documento refere-se a um anel com 24 diamantes.
- O segundo certificado é referente a um masbaha, item semelhante a um rosário islâmico, contendo 110 diamantes.
- O terceiro diz respeito a abotoaduras adornadas com 48 diamantes.
- O quarto certificado relaciona-se a um relógio com 33 rubis, parte de uma edição limitada de apenas 25 peças.
Os certificados indicam que as três primeiras joias foram adquiridas em 17 de outubro de 2021, nove dias antes da apreensão do primeiro conjunto de joias pela Receita Federal. O relógio, por sua vez, foi comprado anteriormente, em 16 de março de 2019.
As aquisições foram realizadas na Attar United, uma revendedora autorizada da Chopard situada na Arábia Saudita. O carimbo evidencia que as compras foram feitas em Riad, a capital do país.
Por meio do site da Chopard e utilizando os números de série, é possível encontrar imagens e informações detalhadas das peças.
Nove dias após esse ocorrido, em 28 de dezembro de 2022, outros e-mails indicam a preparação para a tentativa de retirada do primeiro conjunto de joias no Aeroporto de Guarulhos. Na ocasião da apreensão, esse conjunto de joias havia sido avaliado em 5,6 milhões de reais.
Um assistente de Cid, o segundo-tenente Cleiton Henrique Holzschuk, que à época atuava como coordenador administrativo da Ajudância de Ordens, encaminhou um ofício, supostamente por instrução de Cid, ao então chefe da Receita Federal, Julio Cesar Vieira Gomes.
A mensagem, encaminhada às 12h35, dizia: “Atendendo demanda recebida do Chefe da Ajudância de Ordens do Presidente da República, Ten Cel EB MAURO CESAR BARBOSA CID, encaminho o Ofício anexo para conhecimento e providências”.
No documento oficial, Mauro Cid instrui que um conjunto de joias, composto por “colar, par de brincos, anel e relógio de pulso, de acordo com o certificado de autenticidade da Chopard”, seja retirado por um membro das Forças Armadas chamado Jairo, que também era afiliado à Ajudância de Ordens.
Uma hora depois, às 13h38, Mauro Cid reenvia o e-mail de Holzschuk para o chefe da Receita Federal. Nesse segundo envio, o e-mail não contém nenhum novo texto. Não há nos e-mails compartilhados com a CPI nenhum registro de resposta às mensagens.
No entanto, algumas horas mais tarde, às 17h01, Holzschuk informa a Cid que o militar designado para retirar as joias viajará até Guarulhos por meio de um voo da Força Aérea Brasileira (FAB): “Por oportuno, informo que o referido servidor viajará de Brasília para Guarulhos, em voo da FAB, em 29 de dezembro de 2022, para atender demandas do Senhor Presidente da República naquela cidade”.
Mias tarde, ainda pediu uma autorização para a compra de um voo comercial para voltar a Brasília com as joias. “Solicito-vos autorizar o 1º Sgt MB JAIRO (…), desta Ajudância de Ordens, retornar em voo comercial no trecho Guarulhos-SP para Brasília-DF em 29 de dezembro de 2022.”
O ex-ajudante de ordens autorizou a viagem: “Está autorizado a retornar em voo comercial no trecho Guarulhos-SP para Brasília-DF em 29 de dezembro de 2022”.
Os recém-descobertos e-mails serão submetidos à análise dos membros da CPI dos Atos Golpistas, que também estão investigando o uso indevido da Ajudância de Ordens para fins pessoais. Solicitações para a reconvocação de Mauro Cid, que se manteve em silêncio durante seu depoimento anterior, foram apresentadas.
Em uma declaração oficial, o Ministério de Minas e Energia comunicou que “a questão já está sendo investigada pelos órgãos responsáveis – Polícia Federal, Ministério Público Federal e Receita Federal –, que contam com ampla e irrestrita colaboração da atual gestão desta pasta”.
A defesa de Julio Cesar Vieira Gomes afirmou que a única ação realizada pelo ex-chefe da Receita Federal foi “requerer que as equipes técnicas da Receita Federal avaliassem se era cabível o pedido de incorporação das joias ao acervo da Presidência da República. As equipes concluíram que, da forma como o pedido foi formalizado, a incorporação não poderia ser concretizada e, com essa informação, o processo foi encerrado”. Também afirmou que “só soube que existia depois que o assunto veio à tona, já em 2023”.
Os advogados de Mauro Cid indicaram que “no momento, não podemos fazer qualquer manifestação em face dos questionamentos, devido ao fato de que não tivemos acesso ao acervo probatório da CPMI”
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