Fernando Villavicencio, candidato à presidência do Equador, foi morto por suspeitos colombianos e participantes de um grupo criminoso internacional, indicam as autoridades equatorianas nesta quinta-feira (10). Os seis suspeitos de envolvimento no assassinato foram presos nesta tarde.
O atentado contra o 5º colocado da corrida presidencial do país ocorreu na noite desta quarta-feira (9), a menos de duas semanas para a eleição. Villavicencio foi morto a tiros na cabeça ao sair de um comício em uma instituição de ensino no norte de Quito.
O jornalista e ex-sindicalista de 59 anos baseava sua campanha política contra a corrupção e o crime organizado e, com seu assassinato, outros candidatos paralisaram o calendário eleitoral e trouxeram destaque para a crescente violência no país.
A polícia equatoriana indicou que ainda está tentando identificar os “autores intelectuais” do crime, mas o ministro de Interior, Juan Zapata, já informou que seis suspeitos são estrangeiros – mais tarde, confirmados como colombianos, segundo a polícia. Um sétimo suspeito, também da Colômbia, foi morto na noite de quarta após o atentado em uma troca de tiros com policiais.
Zapata afirmou que dois suspeitos estão presos, identificados ainda na cena do crime. No entanto, não confirmou se os criminosos pertencem ao grupo criminoso Los Lobos. Nesta quinta, a facção – considerada a segunda maior do país – reivindicou a autoria do assassinato.
“A polícia nacional tem no momento as primeiras prisões dos supostos autores materiais desse evento abominável e empregará toda a sua capacidade operacional e investigativa para descobrir o motivo desse crime e seus autores intelectuais”, disse o ministro.
Durante as investigações dos policiais equatorianos, o comandante da Polícia Nacional do Equador, Fausto Salinas, indicou que foram apreendidos um veículo, uma motocicleta, um fuzil, quatro pistolas, uma submetralhadora, seis cartuchos de calibre 9 milímetros (mm), dois de calibre 5,56, diversas caixas com munição calibre 9 mm, três granadas de fragmentação, além de diversos quilos de entorpecentes.
O presidente do país, Guillermo Lasso, declarou três dias de luto e afirmou que pediu ajuda à polícia federal dos EUA, o FBI, para prosseguir as investigações do atentado. O embaixador norte-americano em Quito, Michael J. Fitzpatrick, foi o responsável por oferecer a “assistência investigativa urgente” ao Equador – o que também reforça a aproximação entre os dois Estados.
O chefe do Executivo equatoriano disse que o crime foi claramente uma tentativa de sabotar a eleição, que irá continuar conforme o planejado, no dia 20 de agosto. O país estará, durante dois meses, em estado de exceção após a morte de Villavicencio.
“As Forças Armadas estão mobilizadas em todo o território nacional para garantir a segurança dos cidadãos, a tranquilidade do país e as eleições livres e democráticas de 20 de agosto”, afirmou Lasso. “Diante da perda de um democrata e um lutador, as eleições não estão suspensas. Ao contrário. Estas serão realizadas, e a democracia precisa se fortalecer. Essa é a melhor razão para ir votar e defender a democracia”.
Além das diversas críticas de Villavicencio contra a corrupção, o candidato informou nas últimas semanas que vinha sendo vítima de ameaças. Ademais, a violência no Equador está em crescimento nos últimos anos, com destaque para cidades inseridas na rota do tráfico de drogas, como Guayaquil e Esmeraldas.
Por esse motivo, as autoridades recomendaram a todos os candidatos que usassem coletes à provas de balas, mas, dias antes do crime, Villavicencio chegou a afirmar que não usaria, pois tinha o apoio do povo.
“Escutem bem: me disseram para usar o colete (a prova de balas). Aqui estou, de camisa suada, caralho. Vocês são…vocês são meu colete a prova de balas. Eu não preciso…vocês são um povo valente, e eu sou valente como vocês. São vocês que cuidam de mim. Aqui estou. Disseram que vão me quebrar. Aqui estou (…) que venham os chefes do tráfico de drogas, os mafiosos, que venham os vacinadores. Acabou a época de ameaças. Vão me quebrar? Podem me dobrar, mas nunca vão me quebrar”.
O suposto envolvimento de colombianos no crime remete ao assassinato do presidente do Haiti, em 2021. Jovenel Moïse foi morto em casa por um grupo de 26 colombianos e dois haitianos-americanos, também por motivações políticas.
Além da morte de Fernando Villavicencio e de um dos suspeitos, ao menos outras nove pessoas ficaram feridas no atentado – inclusive uma candidata à deputada, Gisella Molina, e dois policiais. O Ministério Público do Equador acompanha as investigações do caso e informou que sete feridos estão internados na mesma clínica onde o presidenciável foi socorrido.