Lula conquistou o centro

Lula entre Arthur Lira (presidente da Câmara) e Rodrigo Pacheco (presidente do Senado) assina o termo de posse em solenidade no Congresso.| Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados.

Um das perguntas mais produtivas da pesquisa Quaest entre deputados federais, divulgada hoje, é se o Brasil estaria indo na “direção certa”. Ela tem uma leveza que evita respostas puramente estratégicas.

A pergunta se o governo interage positivamente com o congresso, por exemplo, não estimula uma reação sincera. Muitos deputados com excelente relacionamento com o Executivo preferem fazer uma avaliação negativa, por entender, com razão, que um elogio poderia, neste caso, baratear o preço de seu apoio. Se a relação está perfeita, então o governo não precisa investir mais energia para aperfeiçoá-la, ou seja, não precisa oferecer cargos, aprovar emendas, direcionar recursos, incorporar novas ideias ao plano de governo.

No caso da questão sobre o caminho certo, porém, há mais espaço para o deputado ser franco sem desvalorizar o seu passe.

E como eles responderam?

Do total de 185 parlamantares entrevistados, 52% afirmaram que sim, que o Brasil está indo bem.

Curiosamente, os deputados estão mais otimistas que a média da população, pois uma sondagem da mesma Quaest, realizada em junho, estimava que 46% dos brasileiros achavam que o país segue na direção correta.

Na divisão por grupos ideológicos, a pesquista aponta que 95% da esquerda está confiante na direção seguida pelo Brasil. É um número mais impressionante do que parece à primeira vista, pois não é comum a esquerda ser tão unida, além de mostrar que os setores antipetistas ou antilulistas desse campo estão mais isolados do que nunca. Mesmo assim, não é surpresa. Lula mantém forte apoio popular entre os que votaram nele. Movimentos hostis contra o governo, vindos de parlamentares de esquerda, são muito mal recebidos por seus próprios eleitores.

Outro número interessante para Lula é os 70% de apoio entre deputados de centro e 16%  de apoio entre os de direita.

Usando os percentuais da Quaest para os grupos ideológicos, chega-se a um número aproximado de 139 deputados de esquerda, outros 139 deputados de centro, 210 deputados de direita, além de 26 que disseram não se identificar com nenhum desses rótulos. Esse apoio do centro, naturalmente, é importante para a governabilidade.

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Analisemos outro gráfico da Quaest, que nos ajudará a medir o tamanho real da oposição. É o gráfico com a avaliação do governo: 35% positivo, 30% de regular, 33% de negativo e 2% de indecisos.

Extrapolamos esses percentuais para números de deputados, e associamos a nota positiva a deputados governistas duros, a nota regular aos independentes, mas com uma tendência pró-governo, e a nota negativa à oposição dura. Os indecisos foram incorporados aos independentes.

Chegamos a um total de 180 governistas duros, 144 neutros pró-governo e 169 de oposição. Esses números explicam as recentes vitórias do governo no parlamento, incluindo a mais recente, que aprovou a reforma tributária por 375 votos a 113. .

Somando governistas duros e neutros pró-governo, temos 344 deputados que podem votar alinhados ao governo Lula, número suficiente para aprovar a mudança mais difícil, uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC), que precisa de um mínimo de três quintos dos votos totais, ou 308 votos.

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No comparativo com a aprovação do governo na opinião pública e no mercado financeiro, também medidos pela Quaest em pesquisas recentes, vemos que a avaliação da Câmara dos Deputados está bastante alinhada com a da sociedade.

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A pesquisa também apurou a avaliação dos principais ministros de Lula junto aos deputados. E o mais bem avaliado é Fernando Haddad, ministro da Economia, que recebeu 52% de positivo e apenas 20% de negativo. Em seguido lugar, vem Flavio Dino, ministro da Justiça, que recebeu 48% de positivo e 34% de negativo.

Simone Tebet, ministra do Planejamento, também pontuou bem junto aos deputados, com 47%  de positivo e 20% de negativo.

Os dois ministros diretamente responsáveis pela relação com o congresso, Alexandre Padilha (Relações Institucionais) e Rui Costa (Casa Civil) tem notas  bem diferentes. Padilha ainda é bem avaliado, com 41% de posititov e 27% de negativo. Rui Costa, que tem a função impopular de aprovar ou negar os indicados aos cargos federais, é rejeitado por 41% dos parlamentares, e tem apenas 25% de apoio.

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Ainda sobre os ministros, a avaliação segundo os grupos ideológicos traz algumas nuances interessantes. Haddad é bem avaliado em todos os espectros: tem 83% de apoio na esquerda, 64% ao centro, e ainda belisca 20% de apoio entre deputados de direita.

Flavio Dino, por sua vez, é uma verdadeira unanimidade na bancada de esquerda, com 96% de apoio, mantém uma excelente pontuação ao centro, com 55% de positivo, mas se tornou o inimigo número 1 dos parlamentares autoidentificados à direita, 74% dos quais o rejeitam.

Destaque ainda para os 75% de apoio da esquerda a Simone Tebet, e aos 21% de apoio da direita a Alexandre Padilha.

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A Quaest perguntou aos deputados qual o problema mais grave do Brasil hoje. É interessante analisar o gráfico que traz as respostas, estratificadas por grupo ideológico.

Para a esquerda, as questões sociais são o maior problema para 45%. O centro divide suas preocupações entre questões sociais e desemprego. Já a direita inclui uma outra questão que é quase ausente para os outros dois grupos: a relação com outros poderes. Naturalmente, a direita está influenciada pela narrativa bolsonarista, segundo a qual o Brasil vive uma “ditadura judicial”.

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Conclusão

A pesquisa confirma o que já tínhamos observado nas principais votações realizadas na Câmara dos Deputados: o governo Lula conquistou o centro.

Com a reforma ministerial, a ser concluída a qualquer momento, e que deve consolidar a entrada de PP e União Brasil na base do governo, tudo indica que Lula terá um segundo semestre sem surpresas no congresso nacional.

Clique aqui para baixar a íntegra da pesquisa.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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