Por Altamiro Borges
A TV aberta segue perdendo audiência. Ela não vai sumir do mapa, mas ficará cada dia mais frágil. A explosão da internet, com o streaming e outras opções, é o principal motivo dessa queda. Mas não é o único. A péssima qualidade da programação também ajuda a explicar o crescente fiasco no Ibope. Na semana passada, o jornalista Ricardo Feltrin apresentou alguns dados assustadores sobre esse fenômeno no artigo intitulado “TV aberta tem 190 horas de reprises ou igrejas por semana”. O especialista em mídia foi ácido em suas críticas:
“Que a programação da TV aberta é uma porcaria, ninguém duvida. Mas, o que torna ainda mais enfadonha é que, além de ser ruim, ela ainda ocupa boa parte da grade com reprises ou igrejas. Nenhuma das emissoras escapa dessa sina. Dados compilados por este site mostram que todos os canais abertos somados exibem 190 horas dedicadas à pregação religiosa ou reprise de programas – especialmente novelas, desenhos ou seriados. Isso representa quase 8 dias por semana na TV aberta dedicados a conteúdo velho ou pregação religiosa”.
O ranking das “porcarias” nas emissoras
A reportagem apresenta o ranking dessas “porcarias”. A RedeTV! surge em primeiro lugar. São quase 8 horas diárias de igrejas e reprises, como dos programas ‘João Kleber Show’ e ‘Zap da Semana’. São mais 56 horas semanais. Na segunda colocação está a TV Record, da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd). É a emissora que mais ocupa a grade com programas religiosos, com seis horas diárias. Além disso, “um terço de sua programação atual é feita de reprises de novelas, como ‘Jesus’ e ‘Os Dez Mandamentos’. Ou seja, seis horas por dia só de pregação e outras duas horas de novelas repetidas. Só ela exibe mais de 50 horas semanais desse tipo de conteúdo (reprises ou a Universal)”.
Em terceiro lugar aparece o SBT. “A TV de Silvio Santos já recebeu dezenas de propostas de igrejas para que vendesse horas nas madrugadas. Silvio Santos sempre disse não. Hoje ela exibe cerca de 5h15 por dia de reprises, sejam novelas infanto-juvenis como ‘Chiquititas’ e ‘Rebelde’, como o ‘Jornal do SBT’ na madrugada ou o ‘Jornal da Semana’ (o nome diz tudo). Esse é uma compilação de notícias velhas. Porém, de vez em quando o dono da emissora manda reprisar algumas das novelas mexicanas indefectíveis e o horário aumenta. Mas são cerca de 35 horas semanais desses conteúdos”.
No que se refere à TV Globo, líder em audiência, Ricardo Feltrin explica que a emissora “não tem igreja, mas o que não faltam são repetecos de novelas. São hoje 4h10 minutos diários, em média, de folhetins repetidos, inclusive de madrugada. ‘Vai na Fé’, ‘Mulheres de Areia’ e ‘Vai que Cola’ estão entre as reprises diárias ou semanais. Colocamos cerca de 30 horas na conta da Globo com seus repetecos”.
A juventude não assiste mais televisão
Já em quinto lugar, o autor cita a Band. “É a emissora que menos tem vendido horário, mas o cliente continua o mesmo: pastor R.R. Soares e a Igreja Internacional da Graça ocupam duas horas diárias da programação matinal. Nos fins de semana entram mais pastores, mais igrejas e desenhos ou séries repetidas. Na média podemos colocar aí 21 horas semanais desperdiçadas”.
Em artigo postado em meados de julho, o autor já havia alertado que a TV aberta estava se tornando “coisa de velho” em função da sua programação. “Sempre achei isso um puro preconceito e etarismo. Até finalmente obter dados inéditos sobre quais faixas etárias que mais e menos assistem à TV aberta no país. Os números não deixam dúvidas: TV parece ser ‘coisa de velho’ mesmo”.
“A faixa etária que mais vê TV aberta é das pessoas que têm mais de 60 anos: 27% das pessoas que estão diante de um aparelho vendo a Globo ou algo assim. Somando com a faixa imediatamente anterior, de 50 a 59 anos, o resultado é de incríveis 43%. Do lado oposto do ringue estão os jovens, que estão bocejando para a TV aberta. De 12 a 17 anos, o público diante da TV representa apenas 5%. De 18 a 24 anos, 6%”.
Ligeiro
10/08/2023 - 21h11
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Pensando aqui: não vejo tanto as reprises como problema, mas sim a questão dos religiosos. Explico.
A TV Aberta atende mais a população pobre, e/ou muitas vezes que é leiga em tecnologias e não está adaptada a ver YouTube / TikTok e similares, que hoje atuam meio que como uma espécie de “TV Aberta” – e detalhe que as mesmas permitem uma reprise ad-infinitum. Se as reprises tem audiência (o da Globo salvo engano hoje serve para dar programação da madrugada), então ok.
O problema maior de fato são as programações ecumênicas. Não que seja ruim as igrejas terem voz, mas sim o excesso das mesmas, quando não questões de tentar influenciar culturalmente de forma a servirem como “única verdade”, e em alguns casos proliferando preconceitos ou ações enganosas.
Há exceções, mas são raras.
O ponto a se pensar também é que programações “diferenciadas”, ou seja, fora do que é considerado “mainstream” não tem tanta audiência. Difícil ouvir falar nas ruas sobre algum canal de TV regional por exemplo, ou de canais como TVT ou até mesmo Record News, diga-se. Televisão em espaço público como restaurantes ou salas de espera geralmente está na Globo ou Record, ou para o Futebol ou para Notícias. E no caso de TV paga é GloboNews ou CNN.
Enfim, lidar com TV Aberta hoje é bem difícil, e as próprias emissoras e grupos controladores se perderam um pouco. Teoricamente a TV deveria ser um espaço para a educação e elucidação da população, mas a credibilidade das jornalísticas, (muit)as vezes à serviço do capital, dificulta. Nem a lendária TV Cultura escapa.
Em tempos, algo que deveria ser observado seria também a audiência das rádios, sejam FM, AM ou até mesmo online.