México se destaca em parceria comercial com os Estados Unidos

Andrés Manuel Lopéz Obrador, presidente do México, e Joe Biden, presidente dos EUA. Foto: Reprodução/Governo do México

O México ultrapassou a China e se tornou o maior parceiro comercial dos Estados Unidos, indicam os dados do primeiro quadrimestre de 2023, divulgados pelo Federal Reserve de Dallas.

O aumento de tensões com Pequim, a contínua dificuldade na cadeia global de suprimentos após a pandemia e a Guerra da Ucrânia são alguns dos pontos apontados para a nova posição na relação entre os dois países.

De acordo com os dados de uma das 12 unidades de sistema do Federal Reserve, banco central dos EUA, a relação econômica mexicana e norte-americana já chegou a US$ 263 bilhões, um equivalente a R$ 1,2 trilhões. Já foram contabilizados US$ 157 bilhões (R$ 743 bi) em exportações do México para os EUA e US$ 107 bilhões (R$ 506 bi) em importações.

Em comparação com o volume de trocas entre o Brasil e os EUA, US$ 26,3 bilhões foram movimentados no mesmo período, sendo 56% exportações dos americanos.

Dessa forma, o México chegou a 15,4% do total do comércio internacional dos EUA. A China havia assumido este posto em 2014, mas o período de baixa se iniciou em 2019, após a guerra comercial do governo de Donald Trump.

De acordo com o Fed de Dallas, além da China ter determinado tarifas de 21,2% sobre as importações americanas, as exportações também são mais caras: cerca de dois terços dos produtos chineses exportados aos EUA são tarifados em 19,3%, uma porcentagem muito acima da média dos países da Organização Mundial do Comércio, de apenas 9%.

Apesar destes fatores, as trocas comerciais com Pequim seguem altas. Durante os primeiros quatro meses do ano, a China ficou atrás apenas do México e do Canadá – que tem acordo de livre comércio com os EUA – ocupando 12% do comércio internacional com os norte-americanos.

O economista sênior do Fed, com passagem pelo banco central mexicano, Luis Torres, explicou que o que irá definir se o México irá se consolidar a longo prazo como maior parceiro comercial dos EUA é a postura dos americanos em relação à China.

“Como bom economista, a resposta sobre o futuro das relações comerciais entre México e Estados Unidos é ‘depende’. A imposição de tarifas é o principal fator. Além disso, há os riscos à cadeia global de suprimentos, tensões geopolíticas, a questão de Taiwan. Se essas tensões permanecerem, acredito que o México pode definitivamente se consolidar nessa posição”, disse ele à Folha de S. Paulo.

Ainda que esta seja a realidade, o México ainda pode tomar medidas para aproveitar o momento. As eleições presidenciais do país acontecem no ano que vem e é esperado pelos especialistas que este tema continue em pauta, para acelerar o crescimento econômico e benéfico ao país. A projeção do Banxico (banco central mexicano) para o crescimento do PIB neste ano, por exemplo, é de 2,3%.

Além disso, o México é o país que mais se beneficia do chamado nearshoring, uma tendência de trazer fornecedores para países próximos geograficamente. Neste caso, países da América Latina, incluindo o Brasil, podem se beneficiar.

“A oportunidade está aqui e eles [governos da região] precisam tirar vantagem disso. É um casamento de conveniência, a América Latina está bem posicionada”, afirmou José W. Fernández, subsecretário de Crescimento Econômico, Energia e Ambiente, em fórum das Americas Society.

As indústrias automotivas e de eletrônicos são a porta de entrada do México para a economia e cadeia de produção norte-americana. Esses fatores correspondem a 24,5% e 22,4% das exportações, respectivamente. Diante disso, as regiões de fronteira são as mais beneficiadas, como a Ciudad Juárez, ligada ao Texas.

A cidade tem mais de 300 fábricas e 300 mil trabalhadores em indústrias de ponta que favorecem os EUA. O bilionário Elon Musk, por exemplo, pretende abrir no ano que vem uma fábrica da Tesla em Nuevo Leon, estado mexicano também na fronteira.

E não é somente os EUA que estão atentos aos potenciais mexicanos. A BMW anunciou em fevereiro o investimento de US$ 866 milhões em uma fábrica de baterias de alta voltagem para carros em San Luis Potosi a ser criada a partir do ano que vem. 

Além disso, os chineses também estão investindo no México, como uma maneira de facilitar o acesso ao mercado norte americano. No ano passado, o país recebeu US$ 282 milhões em investimento da China, segundo a Secretaria de Economia mexicana.

Letícia Souza:
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