A ação do Copom de reduzir consideralmente a Selic representa um dos maiores triunfos econômicos deste ano, equiparável à diminuição do custo dos combustíveis e ao gerenciamento da inflação. No cenário político, esse é um marco relevante para o presidente Lula, que desde o começo de seu mandato encara um embate intenso com Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central.
O corte de 50 pontos (0,5) superou as expectativas do mercado, que previa 0,25, emitindo um forte indicativo para os participantes do mercado financeiro. Como consequência imediata, há a expectativa de um declínio nas taxas de juros futuros do mercado. Contudo, o impacto mais significativo deverá ser observado na redução dos juros reais cobrados dos consumidores em situações como cheque especial, cartão de crédito e aquisições parceladas.
Contudo, a relevância máxima reside no impulso que esta ação oferece aos empresários e investidores do setor industrial, que aguardavam por esse gesto do Banco Central para prosseguirem com decisões críticas de aporte financeiro.
Agora sim, uma das iniciativas mais estimadas pelo governo, a implementação de um programa de ‘neoindustrialização verde’, ganha contornos mais realistas.
Para Lula, a notícia não poderia ser mais encorajadora e vir em momento mais adequado, dado que o governo está prestes a apresentar um robusto plano de investimentos, o PAC 3. Este plano deverá ser financiado por bancos públicos, Tesouro e parcerias com instituições financeiras privadas. Com taxas de juros reduzidas, tudo se torna mais viável.
Vamos ao resumo da notícia.
Nesta quarta-feira (2), o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) anunciou um corte de 0,5 ponto percentual na taxa Selic, passando de 13,75% para 13,25% ao ano. A decisão veio após um placar de votação com maioria favorável a esta redução, contra uma minoria que apoiava um corte para 13,50%.
Esse é o primeiro corte na taxa básica de juros desde agosto de 2020, quando a Selic foi reduzida de 2,5% para 2% ao ano em resposta à crise da Covid-19. No comunicado oficial após a reunião, o Copom justificou o corte alegando melhorias no cenário inflacionário, o que permitiria a flexibilização monetária.
Apesar de a possibilidade de um corte de 0,25 ponto percentual ter sido considerada, o Comitê optou pela redução de 0,5 ponto percentual, dado o atual cenário de inflação. Em maio, a inflação oficial desacelerou para 0,23%, e em junho, houve deflação de 0,08%.
Além disso, o comunicado do Copom também destaca que a redução na taxa Selic poderá suavizar as flutuações do nível de atividade econômica e promover o pleno emprego.
A decisão ocorre em meio às críticas constantes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de membros do governo federal ao patamar anterior da Selic, alegando que a alta taxa de juros tem prejudicado o crescimento econômico. No entanto, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, defendeu a manutenção da taxa como forma de conter a inflação.
Entre os diretores que votaram a favor do corte de 0,5 ponto percentual estão o presidente do BC, Roberto Campos Neto, e o diretor de Política Fiscal, Gabriel Galípolo, indicado pelo presidente Lula. Os outros votaram por reduzir em 0,25%.
Essa reunião foi a primeira do Copom com a participação de Galípolo e Ailton Aquino, após a aprovação de suas indicações pelo Senado. O Copom, formado pelo presidente do BC e por oito diretores, se reúne a cada 45 dias para definir o patamar da Selic.
A Selic, a taxa básica de juros da economia, é o principal instrumento de política monetária utilizado pelo BC para controlar a inflação. A Selic tem impacto sobre todas as taxas de juros do país, desde empréstimos e financiamentos até aplicações financeiras. Quando a inflação está alta, o BC eleva a Selic, e quando as projeções para a inflação estão alinhadas à meta, a Selic pode ser reduzida. Para 2023, a meta de inflação é de 3,25%.