A África subsaariana tem enfrentado um cenário de instabilidade política nos últimos anos, com destaque para o Níger, onde ocorreram seis golpes de Estado desde 2020, incluindo dois apenas no espaço de nove meses no Mali. O professor de História da África, Alexandre Costa, apontou para O GLOBO alguns fatores que podem explicar essa situação em entrevista recente.
Segundo Costa, o histórico de golpes no Níger é extenso, e o presidente anterior, Mahamadou Issoufou, deixou o governo com baixa avaliação tanto da população quanto dos militares. Mohamed Bazoum, herdeiro político de Issoufou, assumiu a presidência e prometeu combater personalidades políticas ligadas a escândalos de corrupção, mas não cumpriu a promessa, o que aumentou o descontentamento popular e entre as Forças Armadas.
O país já enfrenta desafios de longa data com a presença de grupos jihadistas na região do Sahel. A França, que tem enviado tropas para suas ex-colônias na luta contra os jihadistas, não tem conseguido debelar completamente a ameaça. Isso leva as Forças Armadas a buscar outras fontes de apoio, e a Rússia, junto com o grupo Wagner, tem se destacado nesse cenário. A Rússia oferece treinamento militar e auxílio na luta contra os jihadistas em troca de direitos para explorar recursos minerais na região.
Essa mudança geopolítica tem levado à perda de influência da França e do Ocidente na região, com a Rússia ganhando terreno. O Níger tem acordos com a França e a União Europeia para combater a imigração irregular através do deserto do Saara, uma rota importante para a imigração ilegal rumo à Líbia e à Europa. Além disso, o Níger representava o último bastião de influência ocidental na região e a esperança de amadurecimento democrático, mas o recente golpe de Estado pôs em xeque essas perspectivas.
Com o cenário em constante mudança, o futuro da estabilidade política e dos acordos com o Ocidente no Níger permanecem incertos, o que pode ter implicações significativas para a região da África subsaariana como um todo.