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Copa do Mundo Feminina: as portas para um sonho

Além da primeira vitória da seleção brasileira no Mundial, a esperança desta Copa é aguçar a valorização do esporte feminino no Brasil A Copa do Mundo Feminina de 2023 teve início em 20 de julho e já consagrou momentos muito importantes para o esporte feminino e a valorização dele no contexto brasileiro. Apesar do Brasil […]

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Foto: Lucas Figueiredo/CBF

Além da primeira vitória da seleção brasileira no Mundial, a esperança desta Copa é aguçar a valorização do esporte feminino no Brasil

A Copa do Mundo Feminina de 2023 teve início em 20 de julho e já consagrou momentos muito importantes para o esporte feminino e a valorização dele no contexto brasileiro. Apesar do Brasil ter jogado apenas duas partidas e conquistado uma vitória, a equipe das brasileiras reflete em campo o caminho árduo para chegar até aqui – ou melhor, até a Austrália e Nova Zelândia.

“Estamos batendo recorde de audiência em todas as plataformas, com uma audiência mais diversa, principalmente. Esse é um ponto que o futebol feminino também traz”, aponta a jornalista e pesquisadora de futebol feminino, Letícia Merotto. “Eu sinto que o futebol masculino não tem espaço para pautas sociais, e o feminino é o contrário, o que atrai um público mais diverso também”.

Para muitos especialistas, o Mundial chegou com um gostinho de ser, também, o ponto de virada para o futebol feminino no país. Com o alcance gigantesco e a mobilização social para esta Copa, a esperança é de que o esporte protagonizado por mulheres tenha cada vez mais visibilidade por parte da população, bem como da grande mídia.

Marta, Rainha do Futebol. Foto: Sam Robles/CBF

As dificuldades fora dos gramados

“O maior percalço, sem dúvidas, é o machismo, a falta de investimento e reconhecimento”, continua a jornalista. “Jogos de um mesmo time masculino e feminino que acontecem no mesmo horário, por exemplo, ou mulheres que nunca jogam nos estádios oficiais do clube. Ainda tem muita coisa para mudar.”

Merotto relembra um dos principais fatores de distinção entre os atletas de times masculinos e femininos: a diferença salarial. Em junho de 2023, a Fifa anunciou os prêmios do Mundial deste ano e afirmou que a organização estava embarcando em “uma jornada histórica pelo futebol feminino e pela igualdade”. Embora a premiação em dinheiro tenha quase quadruplicado desde 2019, data da última edição do campeonato, as mulheres ainda irão receber R$ 330 milhões a menos do que os homens receberam na Copa do Mundo de 2022, indica o jornal CNN.

“Tem muitas jogadores que precisam ter outro trabalho para poder se sustentar num clube, porque o futebol feminino paga extremamente abaixo do que o masculino. Algumas têm que largar o sonho de ser jogadora, porque a remuneração não permite viver apenas daquilo. Imagina quantos talentos não perdemos nisso”, aponta a jornalista.

As jogadoras de futebol da Copa deste ano irão ganhar, em média, 25 centavos para cada dólar que os homens ganharam em 2022, indica a CNN. Essa quantidade é ainda maior do que no último torneio, quando elas ganharam oito centavos por dólar.

Apesar da evidente desigualdade salarial, em fevereiro deste ano esse cenário teve uma significativa mudança: a Federação Americana de Futebol (US Soccer) anunciou que as seleções feminina e masculina dos Estados Unidos irão receber a mesma quantia em Mundiais. 

A conquista de direitos veio após uma grande reivindicação que envolveu os clubes dos EUA e a justiça do país em 2018 e 2019. A jogadora Megan Rapinoe, destaque do futebol feminino dos Estados Unidos e do mundo, acusou a federação de se “recusar obstinadamente” a pagar os jogadores de maneira justa e todas as atletas entraram com uma denúncia contra a US Soccer, pedindo por igualdade salarial.

A equipe feminina é o carro-chefe do futebol norte americano e já foram campeãs da Copa do Mundo e do ouro olímpico quatro vezes. Ainda que a seleção brasileira não tenha conquistado o Mundial, a expectativa para este ano é que, junto da vitória nos gramados, as jogadoras também sejam devidamente valorizadas. 

“Essa Copa faz a gente ter a sensação de que agora falta um pouquinho menos! Acho que ela pode ser um ponto alto e marcante para a história do futebol feminino [no Brasil]”, disse Letícia Merotto.

A recepção dos brasileiros

Neste ano, as partidas do campeonato estão batendo recorde de audiência em canais fechados e abertos. Na TV Globo, por exemplo, durante o jogo do Brasil contra a França, na manhã do último sábado (29), o Rio de Janeiro marcou de 18 a 22 pontos de audiência, enquanto as outras capitais brasileiras marcaram 16 pontos em média. De acordo com o PNT (Painel Nacional de Televisão), cada ponto equivale a 125,4 mil televisões sintonizadas.

Vitória do Brasil contra o Panamá, por 4 gols a 0. Foto: Thais Magalhães/CBF

Um destaque para a transmissão dos jogos femininos do Brasil é o canal no YouTube e Twitch, CazéTV. As partidas são exibidas de graça e pela internet por intermédio do youtuber e streamer Casimiro Miguel, junto à equipe especializada. No confronto Brasil x França, o canal atingiu o pico de 1,232 milhão de dispositivos conectados simultaneamente assistindo ao jogo ao vivo.

Para Merotto, os canais independentes são muito importantes para a valorização do esporte feminino. “A CazéTV está transmitindo todos os 64 jogos dessa Copa e o streaming atinge um público bastante específico, que são os jovens! Pensando no futuro e na criação de uma audiência fiel a modalidade, é uma iniciativa excelente”, explica.

Os recordes de transmissão do canal não se restringem apenas aos jogos do Brasil. Durante a partida dos Estados Unidos contra a Holanda, na última quarta-feira (26), foram mais de 200 mil pessoas assistindo ao vivo. Esse jogo era um dos mais esperados da competição, tendo em vista que as duas equipes disputaram a final da última Copa, em 2019, e também protagonizaram o confronto – com direito a decisão nos pênaltis – nas quartas de final das últimas Olimpíadas, em 2020. 

“Pensando no mercado, esses recordes de audiência no streaming acabam sendo um concorrente para a grande mídia e faz com que ela perceba que transmitir mais jogos femininos de Copa do Mundo é, sim, interessante financeiramente! Percebendo isso, o movimento ideal é que, então, ela passe também a querer dar ainda mais espaço para a modalidade”, completa Merotto.

Desta Copa em diante, a expectativa é que todos os resultados positivos de audiência e destaque gerem frutos ao futebol feminino no Brasil, como indica a jornalista. “Se toda essa visibilidade realmente for revertida em mais patrocínios de marcas e mais investimento dos clubes para melhorar as condições de treinamento e remuneração das meninas, acredito que possamos ver cada vez mais o futebol ganhar o espaço de igualdade que merece e finalmente acabar com a desigualdade com o masculino”.

O próximo jogo do Brasil será na quarta-feira, dia 2 de agosto, contra a Jamaica. As seleções se enfrentam na última rodada do Grupo F e a partida é decisiva para a classificação da seleção verde e amarela nas oitavas de final.

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