Um episódio controverso envolvendo a Lava Jato veio à tona recentemente, revelando um jogo de palavras e estratégias entre procuradores e autoridades suíças. Segundo documentos obtidos pela reportagem em parceria com o UOL e o boletim A Grande Guerra, o ex-procurador Deltan Dallagnol teria distorcido uma decisão da Justiça suíça que declarava ilegal o envio de documentos sobre a Odebrecht para a operação no Brasil. O que poderia ser uma má notícia para a Lava Jato, foi habilmente transformado em algo positivo pelos procuradores.
O cenário de disputa começou quando a Odebrecht recorreu contra o envio dos documentos bancários ao Brasil em um pedido de cooperação internacional feito pela Suíça. A empresa buscava evitar que provas de pagamentos de propinas a funcionários da Petrobras fossem utilizadas no país. O Tribunal suíço concedeu à Odebrecht o direito a um recurso interno, o que não implicou na devolução dos documentos ao Brasil. Contudo, isso não foi aceito pelos procuradores brasileiros como uma derrota.
Conversas pelo aplicativo Telegram revelam que a Lava Jato, em parceria com autoridades suíças, explorou duas opções para contornar a situação. A primeira consistia em reinterpretar a decisão como positiva no Brasil, alegando que os documentos poderiam ser retirados do arquivo do caso. A segunda estratégia envolvia encontrar uma forma de “legalizar” os documentos já obtidos.
Deltan Dallagnol teria sugerido uma maneira de “esquentar” a documentação, argumentando que uma teoria alternativa, como a descoberta de localização, poderia ser apresentada para justificar o uso dos documentos. A comunicação entre a Lava Jato e as autoridades suíças evidencia uma preocupação em criar uma narrativa que minimizasse a derrota da Odebrecht.
Em 2 de fevereiro de 2016, os procuradores brasileiros informaram aos suíços sobre a decisão dos advogados da Odebrecht de divulgar a resolução para a imprensa. Com a colaboração de um comunicador de imprensa, a declaração oficial foi redigida e publicada, omitindo as preocupações expressas nas conversas e enfatizando a vitória contra a Odebrecht.
Oficialmente, a Lava Jato só pôde utilizar os documentos e extratos bancários cerca de um ano após o comunicado de imprensa que afirmava a “derrota” da empresa. A decisão da Justiça suíça, que era vista como um marco crucial para a operação, ocorreu somente em outubro de 2016, após 11 meses de intensas discussões entre as autoridades dos dois países.
As revelações desse episódio têm gerado questionamentos sobre a conduta dos procuradores e as táticas utilizadas na operação. A polêmica também alcançou o Ministério Público Federal, levando o ministro da Justiça, Flávio Dino, a instruir a Polícia Federal para fiscalizar o caso, especialmente em relação ao fluxo de dinheiro movimentado na Lava Jato.
Diante das complexidades e nuances apresentadas, as autoridades e a sociedade civil aguardam novos desdobramentos para entender melhor as implicações dessa controvérsia que abalou uma das maiores operações anticorrupção do país.
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