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INEEP: Resultados operacionais da Petrobras no 2° trimestre revelam impacto desastroso dos desinvestimentos de gestões passadas

Por Mahatma Ramos dos Santos O relatório de produção e vendas da Petrobras do 2º trimestre de 2023 (2T23), divulgado ontem (26/07), aponta uma queda no nível de produção de óleo e gás da companhia, que alcançou menor volume trimestral desde 2019, além da recuperação da produção de derivados a níveis observados em 2021 e […]

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Agência Petrobras

Por Mahatma Ramos dos Santos

O relatório de produção e vendas da Petrobras do 2º trimestre de 2023 (2T23), divulgado ontem (26/07), aponta uma queda no nível de produção de óleo e gás da companhia, que alcançou menor volume trimestral desde 2019, além da recuperação da produção de derivados a níveis observados em 2021 e estabilidade na comercialização de derivados no mercado interno.

A política de desinvestimentos adotada pela estatal nos últimos anos, o declínio natural da produtividade dos campos maduros, paradas e manutenções explicam a queda de 0,6% na produção de óleo e gás da companhia neste 2T23, quando comparada ao 2T22. A produção de óleo e gás no polígono do pré-sal, por outro lado, cresceu 6,2% na comparação anual, e já representa  78% da produção da companhia, o que evidencia a dependência operacional, cada vez maior, da companhia das bacias do sudeste. 

No segundo trimestre de 2023, a produção de óleo, LGN e gás natural da estatal caiu 0,6% em comparação com segundo trimestre de 2022 (2T22), registrando a marca de 2,60 milhões de barris equivalente de petróleo por dia (boed), ante 2,61 milhões de boed registrados no 2T22. 

A despeito dos recorde de produção no pré-sal neste trimestre, a redução produtiva da empresa, na comparação entre o 2T23 e o 2T22, é explicada pelas quedas de 32,4% na produção de óleo e LGN em terra e águas rasas e de 20,3% no pós-sal profundo e ultra profundo, além da diminuição de 0,2% na produção total de gás natural. A conclusão das vendas de 57 ativos no upstream ao longo de 2022 também foram fatores decisivos para esse cenário.

Já a produção trimestral de derivados de petróleo reagiu após dois trimestres consecutivos de queda, decorrentes da venda da REMAN, em novembro de 2022, e paradas programadas de três refinarias no 1T23 (REVAP, REFAP e RBPC). A produção de derivados subiu 2,1% no 2T23, quando comparado ao mesmo trimestre do ano anterior, e alcançou 1,80 milhão de barris por dia (bpd) no 2T23, ante 1,77 milhão de barris por dia no 2T22. 

O fator de utilização (FUT) do atual parque de refino foi de 93% no 2T23, oito pontos percentuais acima do verificado no 1T23 (85%) e quatorze pontos superior ao percentual do 2T22 (89%). Esses números revelam o apetite da companhia em recuperar seu market share no mercado interno e a reversão, mesmo que parcial, da tendência de abertura de mercado a importadores, tal como observado nos últimos anos.

O volume de vendas de derivados no mercado interno registrou estabilidade nesse trimestre, variação positiva de apenas 0,3%, puxada pelas altas na comercialização da gasolina (15,6%), óleo combustível (6,7%) e de 5,4% do querosene de aviação (QAV). Mais uma vez, a venda de ativos estratégicos no segmento do refino justifica o atual desempenho. A conclusão da venda da RLAM (atual Mataripe), em novembro de 2021, e a posterior venda da REMAN fizeram com que a companhia perdesse mercado nas regiões Norte e Nordeste do país.

O saldo líquido das exportações/importações da Petrobras registrou piora significativa na comparação anual. O resultado líquido foi  38,0% menor neste trimestre, exportação líquida de  268 mil barris por dia, ante os 432 mil barris de petróleo por dia no 2T22. Esse resultado se deveu, principalmente, à queda de 19,5% das exportações, em especial de petróleo cru (22,6%) e do óleo combustível (18,1%), e ao incremento de 3,5% nas importações. As importações de gasolina da estatal cresceram 642,9% no 2T23, na comparação anual, alcançando 52 mil barris por dia, maior volume desde 2018.  

No segmento de gás e energia, a Petrobras registrou um crescimento de 3,4% na geração de energia elétrica e queda de 10,7% na venda de gás natural para consumo interno no 2T23, quando comparado ao mesmo trimestre ano anterior.

O presente relatório revelou o quanto o atual desempenho operacional da Petrobras ainda reflete a estratégia de negócios adotada  por gestões anteriores, que concentram as atividades operacionais da companhia no desenvolvimento da produção nas águas profundas e ultra profundas do pré-sal, vendeu ativos estratégicos e restringiu sua capacidade de investimento com objetivo de geração de valor no curto prazo e distribuição de dividendos bilionários. Essa estratégia não apenas resultou na explosão dos preços dos derivados no mercado interno, como colocou em risco a sustentabilidade operacional e financeira da Petrobras no longo prazo.  

A nova gestão da Petrobras, capitaneada por Jean Paul Prates, iniciou um processo de reavaliação das diretrizes estratégicas da companhia herdadas de gestões anteriores, mas os detalhes do trabalho da direção atual ainda não são públicos. As primeiras marcas desse processo, expressas no relatório de produção e vendas do 2T23, são a retomada do uso da plena capacidade do atual parque de refino e a recente mudança na política comercial da empresa, que combinados têm o potencial, mesmo que limitado, de ampliar a oferta de combustíveis no mercado interno no curto prazo e de suavizar a volatilidade dos preços dos derivados no mercado interno. Contudo, apenas um robusto plano de investimentos será capaz de transformar o panorama operacional da empresa no longo prazo. 

Mahatma Ramos é Pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), doutorando em Sociologia no PPGSA-UFRJ e membro do núcleo de pesquisas Desenvolvimento, Trabalho e Ambiente (DTA-UFRJ).

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