O Projeto de Lei Orçamentária de 2014 indica o investimento do governo federal no valor de R$ 1,5 bilhão para projetos estratégicos do Exército no ano que vem. Quatro ações são os principais focos da renda: expandir o sistema de monitoramento das fronteiras (Sisfron), investir na produção do míssil de cruzeiro Astros, nas Forças Blindadas e desenvolver drones e novos helicópteros com a Avibras.
A medida será benéfica para Lula, que busca se aproximar e normalizar as relações com os campos militares após um período conturbado, entre o final do mandato de Jair Bolsonaro e o início da terceira gestão do petista neste ano.
“Somos uma instituição apartidária e apolítica e isso já está mais do que claro”, declarou o general Fernando José Sant’Ana Soares, chefe do Estado-Maior do Exército, em entrevista ao Estadão. Para ele, os militares têm perdido destaque entre os veículos de comunicação e isso é ótimo.
O valor destinado às Forças Militares no ano que vem é de quase R$ 300 milhões a mais do que em 2023. “Os recursos garantem que possamos adquirir mais material de emprego militar, são extremamente importantes e, assim, vamos melhorando nossa capacidade de Defesa”, explicou o general.
O Estadão relembra que a Força precisará diminuir despesas para se adequar ao orçamento deste ano, o militar explica que não há estudos sobre esse tópico, portanto a entidade não sabe o que ainda vai ser mantido e o será cortado. “A gente espera que a medida ainda sofra alterações por que está relacionada à arrecadação. Mas são despesas importantes, combustível, energia, munição, tudo importante para o nosso dia-a-dia. Mas é um assunto que ainda está em negociação”.
Ainda sobre os recursos que o governo federal irá direcionar ao Exército, o sargento indica que são vários projetos contemplados pelo valor, além do projeto Guarani, um veículo militar de combate, e o Astros, um míssil de precisão. “Temos viaturas similares ao Guarani que desempenham outra função em combate como, por exemplo, um canhão de artilharia sobre rodas que se movimenta rápido. Nosso país tem uma característica que é o de ser muito grande, nós não temos condições de ter tropas em todo o País, então precisamos de mobilidade. Teremos recursos para o Sisfron, o sistema de monitoramento das fronteiras que, também, poderá ganhar em velocidade com a expansão.”
O Estadão relembrou que a Avibras, a empresa nacional de aviação, tem dívidas de, pelo menos, R$ 640 milhões. Referente a isso, Sant’Ana afirma que “a indústria nacional não está bem, mas tem muita capacidade”. Para ele, o principal problema é a pouca demanda e, consequentemente, pouca oferta de certos aparelhos necessários. “O que às vezes dificulta é que nós encomendamos pouco, então eles não têm escala para nos atenderem. Esse é um ponto muito importante porque quando recebemos recursos para desenvolver projetos estratégicos, estamos acionando toda uma cadeia que envolve também as universidades e, principalmente, a indústria”, explicou.
Relações com países da América Latina
A respeito da colaboração com países vizinhos do Brasil, o militar afirma que o Exército mantém uma “estreita cooperação”. “O Exército brasileiro está à disposição para qualquer colaboração, temos que transformar a América do Sul numa área de paz onde potências extracontinentais não queiram fazer suas guerras aqui. Se quiserem fazer guerras que façam longe daqui” disse.
De acordo com o Estadão, o Alto Comando do Brasil e da Argentina irão participar de um exercício em conjunto, que, para Sant’Ana, é muito importante. Ele ainda adiantou que, em agosto, outras oportunidades como essa serão feitas com países da América Latina e Central, integrantes da Comissão dos Exércitos Americanos (CEA).
“Será uma oportunidade muito importante de treinarmos em conjunto como seria a reação e a ação de vários exércitos trabalhando juntos diante de uma catástrofe, dando apoio à defesa civil”, explicou.
No entanto, o sargento também apontou duas preocupações sobre relações diplomáticas após o período da gestão de Bolsonaro, quando os laços com países sul-americanos foram enfraquecidos. “Imaginamos que a Defesa tem que ter duas preocupações ao falar com entes externos: capacidade de dissuasão que consiste em ter forças suficientes para que outras potências não queiram intervir no Brasil, não queiram fazer pressão militar sob o Brasil, para que a sociedade brasileira tenha autonomia decisória. Possa decidir o que ela quiser, independente de pressões externas.”
Decreto de controle sobre armas
Para Sant’Ana Soares, não há problema que a fiscalização de armas de fogo de caçadores, atiradores e colecionadores tenha sido realocada a outros órgãos – o que antes era de responsabilidade do Exército e, agora, é da Polícia Federal. Ele deixa claro que as duas entidades, bem como a Polícia Rodoviária Federal, cultivam um bom relacionamento.