Manuella Mirella, ex-diretora de comunicação da UNE, foi eleita a nova líder da entidade neste domingo (16).
A UNE fez uma eleição muito emblemática: passa a faixa de presidente de uma mulher negra para outra. É desta maneira que a vitória da nova líder da União Nacional dos Estudantes, Manuella Mirella, é vista pela organização que abrange a luta pelos direitos estudantis dentro e fora das universidades.
Neste domingo (16), o fim de semana de eleições do 59º Congresso da UNE, em Brasília, chegou ao fim, junto com a consagração da nova presidente da organização. Eleita pela chapa “Coragem e unidade: nas ruas para reconstruir o Brasil”, a pernambucana Manuella Mirella promete um mandato até 2025 com foco na entrada e permanência dos alunos nas universidades do país.
“Essa eleição representa a representação hoje da universidade brasileira e também os desafios dos próximos anos: ampliar a democratização do acesso ao ensino superior e garantir que [os alunos] se formem”, declarou a entidade em entrevista ao Cafezinho.
Mais de 6 mil delegados entre 98% das instituições de ensino brasileiro votaram entre sete chapas para a nova presidência da organização. Com 4593 votos, 74,27% do total, a ex-diretora de comunicação da UNE levou o título.
Para a instituição, muitos movimentos participaram da representação política e social que garantiram a vitória à chapa. Foram mais de 3500 votos entre o primeiro e o segundo colocado da eleição, mas, apesar das boas propostas apresentadas por todos os candidatos, “como o próprio nome diz, a unidade” foi o principal fator diferencial de Manuella.
Pela primeira vez em 85 anos, a presidência passou de uma mulher negra para outra – motivo de orgulho para a UNE. A nortista Bruna Brelaz encerrou sua gestão de dois anos neste final de semana.
“Essa é a nossa revolução. A UNE com a cara do povo brasileiro, feita por nós, mulheres negras, indígenas, quilombolas, LGBTs, dos mais pobres, que acreditam na universidade como um instrumento de desenvolvimento nacional”, destacou Brelaz no discurso durante o evento.
A gestão de Manuella
A estudante de Engenharia Ambiental da FMU (Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas), em São Paulo, e agora presidente da UNE teve acesso à graduação por meio de cotas sociais e raciais. Nesse quesito, é de extrema importância para a Manuella a manutenção dessas políticas de auxílio aos estudantes no período universitário.
Além das cotas, ela recebeu bolsa de iniciação científica, moradia estudantil e acesso ao restaurante universitário. Todos esses incentivos financeiros e sociais oferecidos pelas universidades representam uma maneira de promover a democratização do ensino e viabilizar a permanência estudantil nos ambientes acadêmicos.
Uma coleta de dados da Pró-Reitoria de Graduação da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) indicou que na década de 2010 a 2019, a taxa anual de estudantes que abandonaram o curso de graduação foi de 11%. No entanto, a pesquisa da pedagoga Melina Klitzke mostrou que, dentre todos os alunos consultados que recebem algum tipo de auxílio, nenhum deixou o ensino superior.
Outro exemplo é na UFBA (Universidade Federal da Bahia), que anunciou na última quarta (12) o reajuste no valor de 3.800 bolsas oferecidas pela instituição a partir de agosto deste ano.
Diante disso, a Manuella Mirella reafirmou o compromisso da UNE frente a defesa destas medidas. Os planos futuros para a organização incluem que, “essencialmente”, as políticas de assistência estudantil sejam “renovadas, aprimoradas e ampliadas” para todos os estudantes do ensino superior no Brasil.
“A UNE, além da organização estudantil nas universidades, pressão nas ruas e redes, também leva as urgências para os parlamentares, em constante diálogo”, disse a entidade.
Por outro lado, uma das áreas de combate da entidade é a proposta do Novo Ensino Médio. As mudanças no modelo de ensino das escolas estão em trâmite no Palácio do Planalto desde o governo Temer, mas sofrem críticas de especialistas. Segundo a UNE, a revogação do Novo Ensino Médio é uma das urgências da nova gestão.
O governo disponibilizou neste ano uma pesquisa online para medir a satisfação da nova proposta e analisar possíveis alterações de acordo com as respostas, porém ainda não foi anunciada nenhuma modificação no texto.
Manuella Mirella se inicia no cargo de presidência em um período considerado favorável ao avanço da educação no país. Com o governo Lula, as mudanças de prioridade e a valorização do ensino por meio de medidas, projetos de leis e emendas governamentais, a entidade acredita que o atual presidente da República pode favorecer muito nos próximos anos.
“Entregamos uma carta de reivindicações ao Lula durante o Congresso e estamos com a abertura de diálogo com o MEC, o que não acontecia no governo anterior de [Jair] Bolsonaro” declarou. “Ter espaço para levar nossas urgências e demandas é essencial”, concluiu a UNE.