O ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro prestou depoimento, nesta terça-feira (11), na comissão que apura os atos golpistas do 8 de janeiro. Mauro Cid compareceu ao local fardado, expondo sua patente de tenente-coronel do exército e ligando a imagem das forças armadas à investigação.
O deputado Arthur Maia (União-BA), presidente da CPMI, disse ao jornal O Globo que a atitude de Cid de ir prestar o depoimento vestindo a farda do exército foi um “erro”. “Eu acho que foi ruim para a imagem do Exército. Eu sou um entusiasta e uma pessoa que tem muita admiração pelo Exército, tenho falado isso repetidamente durante a CPMI. E acho que era melhor ter separado as coisas”, disse o parlamentar.
O presidente da comissão reforçou que evita fazer qualquer tipo de pré-julgamento dos investigados, mas não pode deixar de levar em conta a atual situação de Cid perante a justiça. “O tenente-coronel está sendo investigado em inquéritos no Supremo Tribunal Federal, uma série de coisas, está preso”, completou Maia.
O deputado do União Brasil, disse, inclusive, que sentiu “pena” de Cid durante o depoimento. “O meu sentimento em relação a ele – isso obviamente que não o isenta da responsabilidade dos crimes que ele eventualmente cometeu –, como pai, como homem mais velho do que ele, eu senti muita pena dele, porque as informações que eu tenho dele, de um homem brilhante, trabalhador, estar envolvido em tudo isso…”, concluiu Arthur Maia.
Mauro Cid compareceu ao depoimento fardado por conta de uma recomendação do próprio exército. A força emitiu um comunicado dizendo que o tenente-coronel estaria respondendo como “militar da ativa” para “tratar de temas referentes à função para a qual fora designado pela Força”.
Depoimento de Cid
Durante o depoimento, Mauro Cid decidiu não responder perguntas que poderiam incriminá-lo de algum modo, usando de seu “direito constitucional ao silêncio”. A estratégia de Cid consiste, entre outras coisas, em transmitir uma imagem de seriedade.
O ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, ao utilizar da estratégia do silêncio, não respondeu se teria inserido dados falsos sobre vacinação no sistema do Ministério da Saúde ou que o ex-presidente soubesse das falsificações, não confirmou se familiares viajaram para os EUA com cartões falsificados e também não explicou sua relação com o sargento Reis, que também fazia parte da equipe da ajudância de ordens.
O tenente-coronel disse, no entanto, que não participava das atividades relacionadas à administração pública, nem questionava Bolsonaro sobre o que era discutido em reuniões e encontros com autoridades dos poderes Executivo, Judiciário e Legislativo. Segundo Mauro Cid, sua função era como um “secretário executivo do ex-presidente”
O militar está preso desde o dia 3 de maio, devido à uma operação da PF que investigava supostas falsificações em cartões de vacinação. Depois de sua prisão, a Polícia Federal encontrou no celular do tenente-coronel a minuta de um decreto de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) e materiais que dariam suporte a um eventual golpe de estado para impedir a posse do presidente Lula.