De acordo com a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o percentual de famílias que relataram ter dívidas a vencer aumentou 0,2 ponto percentual em junho, atingindo o maior volume da série histórica, que teve início em janeiro de 2010. Do total de famílias endividadas, 18,5% consideram-se muito endividadas.
A pesquisa mensal, chamada de Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), revelou que esse aumento interrompeu uma sequência de quatro meses de estabilidade no indicador.
Segundo o presidente da CNC, José Roberto Tadros, a economia brasileira enfrenta um cenário de endividamento e inadimplência em crescimento, o que afeta a capacidade de consumo das famílias. Ele ressalta que o equilíbrio entre a estabilidade de preços e o crescimento econômico é um desafio crucial para a retomada do desenvolvimento do país.
Embora o endividamento tenha aumentado em junho, a parcela média da renda comprometida com dívidas registrou o menor percentual desde setembro de 2020, atingindo 29,6%. Segundo a economista responsável pela pesquisa, Izis Ferreira, isso pode ser atribuído à melhora na renda de parte dos consumidores, especialmente aqueles que recebem até 10 salários mínimos, impulsionada pela dinâmica favorável da inflação em desaceleração desde o final do ano passado.
A inadimplência também apresentou um aumento em junho, acompanhando a tendência de crescimento do endividamento. O total de famílias com dívidas atrasadas chegou a 29,2%, com um acréscimo de 0,1 ponto percentual. Entre os consumidores com dívidas atrasadas, 4 em cada 10 não têm condições de pagar os compromissos de meses anteriores, a maior proporção desde agosto de 2021.
Izis Ferreira destacou que, embora o mercado de trabalho tenha apresentado melhorias e a inflação tenha diminuído, o alívio desses fatores não foi suficiente para reduzir a inadimplência entre os consumidores com dívidas atrasadas há mais tempo. Ela ressalta que os juros elevados continuam dificultando a melhora dessa situação.
Em termos regionais, as regiões Sul e Sudeste foram as mais endividadas, com destaque para Minas Gerais, onde 94,9% das famílias relataram ter dívidas. Em relação à faixa de renda, todas as faixas pesquisadas apresentaram aumento no número de endividados no semestre, indicando uma tendência de alta na segunda metade do ano. A maior proporção de crescimento na proporção de endividados foi observada entre os consumidores com renda mensal de 5 a 10 salários.
A economista da CNC ressalta que, apesar do avanço, as famílias de renda mais baixa vêm sendo contidas em seu crescimento devido à absorção de pessoas com menor nível de escolaridade pelo mercado de trabalho e programas de transferência de renda mais robustos.