Walter Delgatti Netto, o hacker conhecido por sua participação no caso Vaza Jato, relatou em depoimento à Polícia Federal que a deputada Carla Zambelli (PL-SP) lhe pediu para invadir as urnas eletrônicas ou, caso não fosse possível, a conta de e-mail e o telefone de Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e ex-presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Segundo apurações do g1, o hacker revelou que o pedido ocorreu durante um encontro entre ele e Zambelli em setembro de 2022, na Rodovia dos Bandeirantes, em São Paulo. Naquela época, as pesquisas indicavam que Lula (PT) estava à frente de Jair Bolsonaro (PL) na corrida eleitoral, e o então presidente e seus apoiadores estavam lançando ataques infundados à segurança do sistema eleitoral.
Durante o depoimento, conforme também apurado pelo g1, Delgatti admitiu que não conseguiu acessar o sistema das urnas eletrônicas nem o celular de Moraes. Além disso, afirmou que não encontrou nada comprometedor na conta de e-mail do magistrado, à qual teve acesso em 2019, quando invadiu aplicativos de outras autoridades.
Delgatti foi preso naquele ano devido às suas ações de invasão, mas foi posteriormente colocado em liberdade. Contudo, em junho, ele foi detido novamente por descumprimento de medidas judiciais, uma vez que estava proibido de acessar a internet. No entanto, em entrevista, ele afirmou que estava cuidando do site e das redes sociais de Zambelli.
Após a nova detenção, Delgatti foi interrogado pela PF no âmbito de um inquérito que investiga a invasão do sistema de mandados de prisão do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e a inclusão de uma falsa ordem de detenção de Moraes.
O g1 buscou entrar em contato com a assessoria de Zambelli, que até o momento da publicação desta matéria não se manifestou. O advogado de Delgatti, Ariovaldo Moreira, informou que a defesa não iria se pronunciar sobre o assunto.
A assessoria de Moraes informou que não comenta investigações em andamento.
Delgatti revelou que a criação da falsa ordem de detenção de Moraes foi uma ideia dele, como uma espécie de alternativa, uma vez que Zambelli, segundo o hacker, desejava algo que pudesse evidenciar a suposta fragilidade da Justiça brasileira.
De acordo com o depoimento do hacker à PF, ele informou a Zambelli que tinha acesso ao sistema do CNJ e sugeriu a emissão da ordem de prisão.
Segundo o relato do hacker, Zambelli ficou animada, redigiu o documento e enviou para que Delgatti o incluísse no sistema. Delgatti afirmou à PF que fez algumas correções para ajustar falhas de português antes de emitir o documento.