O presidente Lula (PT) completou neste sábado (1) seis meses de governo com a marca de 12 países visitados. Uma agenda política que, na avaliação de alguns especialistas, buscou retornar a prática de política externa com diferentes países, a fim de recolocar o Brasil nas principais discursões do cenário internacional.
No primeiro semestre de mandato, Lula visitou países como: Argentina, Uruguai, Estados Unidos, China, Emirados Árabes, Portugal, Espanha, Reino Unido, Japão, Itália, Vaticano e França.
O presidente foi recebido, por exemplo, pelos chefes de estado Joe Biden (EUA), Xi Jinping (China) e Emmanuel Macron(França) e também pelos primeiros-ministros Rishi Sunak(Reino Unido) e Fumio Kishida (Japão). Nessas viagens foram abordadas questões muito importantes, tais como: a redução da desigualdade, o combate à extrema-direita e o financiamento de ações de preservação ambiental.
Nesta semana, o presidente iniciará o segundo semestre com mais duas viagens: Uma reunião do Mercosul na Argentina (Puerto Iguazú), nesta terça-feira (4) e um fórum de debates científicos da Amazônia na Colômbia (Leticia) no próximo sábado (8).
Metade das viagens do petista foram à Europa, ele visitou apenas três países da Ásia e três da América. Para os especialistas em relações internacionais, a frequência das viagens e os destinos mostram a tentativa de reverter o isolamento provocado pelo governo de Jair Bolsonaro (2029-2022).
Para a pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (IBRE-FGV), Lia Valls Pereira, o atual presidente mostra estar disposto a dialogar sem alinhamentos automáticos em um cenário em que EUA e China disputam por uma influência mundial.
“O governo anterior tinha a defesa do Brasil ser um pária. O Brasil sempre teve uma posição de multilateralismo. É um gesto político importante recuperar o papel do Brasil nesta agenda internacional”, afirma a pesquisadora.
Os resultados dessas viagens já podem ser vistos nos convites que levaram Lula à cúpula que discutiu um pacto financeiro, na França, e à reunião do G7, no Japão. O Brasil estava de fora do encontro do bloco formado por Alemanha, Canadá, EUA, França, Itália, Japão e Reino Unido, além da União Europeia há 14 anos.
“Lula restabeleceu o relacionamento ativo, construtivo e positivo com parceiros estratégicos. O Brasil tem cinco parceiros verdadeiramente estratégicos: Argentina, EUA, Alemanha e França, e China”, comenta Roberto Abdenur, diplomata aposentado e ex-embaixador nos EUA e China.
A QUESTÃO AMBIENTAL
As questões ambientais também voltaram a ser discutidas. Lula já reforçou o compromisso de zerar o desmatamento da Amazônia até 2030 e cobrou de nações mais ricas investimentos para preservar as florestas de países em desenvolvimento.
O fundo Amazônia, que serve para custear ações de combate ao desmatamento, foi reativado com o anúncio de intenção de investimentos dos EUA, Reino Unido e União Europeia. Além dos países que já financiavam o fundo, como Noruega e Alemanha.
Segundo Lia Valls Pereira, o Brasil tem “liderança natural” na área ambiental e isso precisa ser explorado “como instrumento de política pública para o desenvolvimento do país”.
Renato Baumann, pesquisador do Instituo de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea), afirma que a política ambiental de Lula será testada com o desfecho da tentativa da Petrobras de explorar petróleo na bacia da foz do Rio Amazonas.
GUERRA NA UCRÂNIA
Alguns especialistas apontam excesso de empenho por parte do governo em ganhar um certo protagonismo em áreas que podem não trazer ganhos à política externa, como a guerra na Ucrânia. Que é um dos temas preferidos de Lula em viagens internacionais.
“O que Lula está fazendo é absolutamente inócuo, ninguém apoiou esse clube da paz, exceto algumas palavras de China e Rússia, porque quando você tem um agressor, o dever de todos os estados membros é vir em socorro e apoio a parte agredida”, afirma Paulo Roberto de Almeida, diplomata e ex-diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais.
O Brasil condenou a invasão russa, porém Lula sofreu críticas ao declarar que Rússia e Ucrânia não tomam “iniciativa de parar a guerra” e que Europa e EUA contribuem para a continuidade do atrito. Essa declaração ajudou a esfriar a relação entre Brasil e EUA, que começou em fevereiro deste ano com o encontro entre Lula e Biden.
INTEGRAÇÃO REGIONAL
A primeira viagem de Lula neste mandato foi para a Argentina, principal parceiro comercial do Brasil na América do Sul. Essa atitude de começar as agendas internacionais pelos países vizinhos passou uma mensagem de integração regional, o que pode tornar a região mais competitiva.
“Mostra uma visão de mundo no sentido de que é importante os laços econômicos na região em termos de promover complementaridade produtiva e ganhar produtividade. O Brasil esteve muito tempo de costas para os vizinhos”, diz Baumann.