‘Ser chamado de comunista é orgulho’, diz Lula em Foro de SP

Foto: Ricardo Stuckert

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que é motivo de “orgulho” ser chamado de “comunista” pela oposição. A declaração foi feita no discurso de abertura do 26º Encontro do Foro de São Paulo, em Brasília, nesta quinta-feira (29).

O petista ressalta a visão negativa que alguns opositores moldam da esquerda em poder nos países latinos, mas a tentativa de ofendê-lo com o termo é em vão. Lula ainda disse que, na verdade, se sentiria ofendido caso fosse acusado de ser nazista, neofascista ou terrorista.

“Vocês sabem quantas vezes nós somos acusados. Vocês sabem quanta difamação e quantos ataques pejorativos se faz contra a esquerda na América do Sul. Nós não somos vistos pela extrema-direita fascista, nem do Brasil, nem do mundo, como organizações democráticas. Eles nos tratam como se nós fôssemos terroristas. Eles nos acusam de comunistas, como se nós ficássemos ofendidos com isso”, disse. “Nós ficaríamos ofendidos se nos chamasse de nazista, neofascista, de terrorista. Mas, de comunista, de socialista, nunca. Isso não nos ofende. Isso nos orgulha muitas vezes. E, muitas vezes, nós sabemos que merecemos isso”, continua.

O Foro e a esquerda

O Foro de São Paulo é um evento criado em 1990 que reúne lideranças e representantes de esquerda da América Latina para discussões e decisões políticas e sociais que envolvem todas as regiões. O encontro é muito criticado por opositores de direita, principalmente por notícias mentirosas a respeito do projeto.

No primeiro dia do evento, Lula disse que a América Latina, com foco na América do Sul, viveu o melhor momento entre 2002 e 2010, quando os políticos alinhados às posições de esquerda estavam no poder.

“Foi a vitória na Argentina, no Chile, no Brasil, na Venezuela, no Equador. Foi a vitória, inclusive, de pessoas mais progressistas nos outros países que estiveram do nosso lado. Além da vitória do nosso companheiro [Hugo] Chávez na Venezuela. Nós vivemos um período de muita expansão, de conquista social e de participação política no nosso continente”, citou o presidente.

Lula acredita que não há nenhum outro momento histórico para os países sul americanos com “tantas conquistas e tantas políticas de inclusão social” neste período, até 2015, quando Dilma sofreu impeachment.

O presidente, apesar de reconhecer as “perdas” para os países nos últimos anos, sugere uma autocrítica e reflexão da esquerda na América Latina a respeito dos erros cometidos. Para ele, é preciso haver uma integração entre a esquerda dos Estados latinos, alegando que aliados não deveriam ter tempo para “brigar por coisas menores”.

“Eu sei o quanto nós perdemos no nosso continente. Eu sei o quanto foi triste, sabe, a Argentina ter um presidente de direita há pouco tempo atrás. Eu sei o quanto foi triste a saída do Rafael Correa [ex-presidente do Equador]. Eu sei o quanto foi triste a direita chilena. Eu sei o quanto foi triste o golpe na Bolívia. Eu sei o quanto foi triste ter a companheira Dilma Rousseff impichada aqui nesse país”, diz.

O petista comparou a esquerda e a direita mundialmente e, diante disso, afirmou que os âmbitos conservadores têm mais facilidade em encontrar apoio, mesmo com um “discurso fascista”.

“Aqui, no Brasil, nós enfrentamos o discurso do costume, da família, do patriotismo. Ou seja, aqui nós enfrentamos um discurso de tudo aquilo que nós aprendemos a combater. Na Europa, a esquerda perdeu o discurso para a questão da migração. Ou seja, a esquerda não sabe defender a questão dos imigrantes”, declarou.

Lula afirma que não é hora de se lamentar, mas, sim, tirar as lições do que já aconteceu para que não se repita no futuro.

“A gente não pode ficar a vida inteira criticando os outros. De vez em quanto, nós temos que olhar para dentro de nós e saber o que nós fizemos de errado, porque aconteceu aquilo. Por que que aconteceu o impeachment da Dilma? Foi só erro da extrema-direita ou nós temos erros enquanto partido político? De vez em quando, nós temos que pensar. Temos que meditar para conseguirmos evitar que novos erros atropelem a caminhada pela conquista da qualidade de vida do nosso povo”, conclui Lula.

Letícia Souza:
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