Márcio Holland analisa as questões internas e externas que podem impactar o preço da moeda americana no Brasil, em constante queda desde janeiro.
O valor do dólar tem caído nas últimas semanas. Em 3 de janeiro, a cotação era de R$ 5,45 e no final de maio chegou aos R$ 5,07. A partir desse ponto a moeda começou a cair regularmente até alcançar o menor valor em mais de um ano na última quarta-feira (21): R$ 4,76.
Em entrevista ao portal Metrópoles, o economista e professor da FGV (Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas), Márcio Holland, aponta vários fatores que podem contribuir para a valorização do real e, consequentemente, que o dólar atinja o valor de R$ 4,40.
Para ele, até o final de 2023 a moeda americana pode chegar até R$ 4,00 por questões externas e internas. Holland cita ainda um “movimento a favor de países emergentes com alta taxa de remuneração de curto prazo”, incluindo o Brasil. Outros países são a Colômbia, México e Paquistão.
Há duas semanas atrás, o Federal Reserve (Fed, banco central americano), determinou taxa de juros nos Estados Unidos entre 5% e %5,25%. “Isso ajuda a acomodar a expectativa dos agentes econômicos, precifica o futuro”, explicou o economista.
Ele fala também sobre os juros brasileiros. Com a decisão do Banco Central (BC) em baixar lentamente a taxa Selic, fixada hoje em 13,75%, os juros altos no Brasil e parados nos EUA podem atrair dólares para o país sulamericano, valorizando o real.
“Essa diferença de juros também favorece o carry trade: uma aplicação financeira que toma o dinheiro a uma taxa de juros mais baixa em um país, como nos Estados Unidos, e aplicá-lo em outra moeda que pague juros maiores, como o real, no Brasil”, afirmou Holland.
Queda do dólar
De acordo com Holland, as políticas e cenários internos do país favorecem a diminuição do valor da moeda americana. Os indicadores positivos do PIB, o arcabouço fiscal e a reforma tributária criam um “otimismo típico do mercado”.
O economista da FGV alerta, no entanto, que ainda há fatores que podem interromper a tendência de queda do câmbio. “A possibilidade de recessão da economia americana, por exemplo, não foi afastada. E quando uma economia central passa por esse tipo de problema existe o medo de contágio. Nesses momentos, o capital volta para países como os EUA. Isso até que fique claro qual o impacto da recessão no resto do mundo”, explica. Holland destaca o impacto econômico chinês, muito importante para todos os outros países. “Eles afetam, em especial, o preço das commodities, como minérios e alimentos, produtos exportados pelo Brasil”.
Ao mesmo tempo que as questões internas do país estão favorecendo o cenário de queda do dólar, elas também podem dificultá-la, diz Holland. Como exemplo, ele cita a meta de inflação. “Isso é ruído negativo. Se a meta for alterada, vai passar o recado de que o governo é mais leniente com o aumento de preços”, diz.
Márcio Holland afirma que há um efeito favorável na inflação, que significa vantagem para o país com o dólar a R$ 4,40 ou R$ 4,50, como ele prevê.
“Com o real apreciado, caem os preços de importados, o que inclui máquinas e equipamentos, além de insumos intermediários para a produção de diversos produtos. Isso favorece a estabilidade dos preços internos”.