Os irmãos Cid Gomes, senador, e Ciro Gomes, ex-governador, que tiveram um embate público durante as eleições do ano passado, agora se encontram em meio a outro impasse. Como figuras influentes na política cearense, eles discordam sobre a abordagem a ser adotada na próxima disputa pela prefeitura de Fortaleza, prevista para o próximo ano.
Diferentemente do ocorrido em 2022, Ciro mantém sua posição em favor de um palanque exclusivo do PDT. Nesse contexto, o candidato natural seria o atual prefeito, José Sarto (PDT), que já expressou seu interesse em concorrer à reeleição. Durante um recente evento realizado no diretório do partido, o ex-candidato à Presidência ressaltou que seu aliado deve ter o direito de buscar mais um mandato. Por outro lado, Cid retoma a estratégia da conciliação, visando a reconstrução da aliança entre PDT e PT, lançando assim uma candidatura única.
Porém, a gestão de Sarto tem sido alvo de críticas, tanto internamente quanto externamente ao PDT. Recentemente, enfrentou perda de apoio popular devido a crises, como a desencadeada pela taxa do lixo, uma cobrança aprovada pela Câmara Municipal em dezembro passado, mas suspensa por uma decisão judicial. O projeto introduziu um imposto que variava de R$ 258 a R$ 1.600 por ano para imóveis na capital, com base na quantidade de resíduos produzidos.
Portanto, devido a esses motivos e apesar da defesa da ala ligada a Ciro, Cid aposta novamente em um discurso conciliador e na retomada da aliança com o PT. “Fazemos uma comparação: Fortaleza vinha sendo muito bem avaliada na gestão de Roberto Cláudio, vinha imprimindo um ritmo alto de ações. Não há dúvidas de que era melhor (que a gestão de Sarto). Creio que antes de se pensar em reeleição, precisamos pensar em projeto político. O nome é consequência, temos primeiro que fazer essa reaproximação”, declarou.
Evandro Leitão, também membro do PDT, está aberto a uma possível composição com a ala majoritária do PT.
Durante mais de duas décadas, PDT e PT mantiveram uma aliança tanto na capital quanto no estado. No entanto, a ruptura ocorreu no ano passado devido à recusa de Ciro em se associar à figura de Lula nos palanques estaduais. Cid, por sua vez, declarou publicamente seu apoio ao atual presidente já no primeiro turno.
O impasse entre PDT e PT é evidente na relação fria entre o governador Elmano de Freitas (PT) e o prefeito Sarto, o que pode dificultar ainda mais uma possível reaproximação entre os dois partidos. O governador também defende a candidatura própria do PT. Até o momento, o nome ventilado pelo PT é o da deputada federal Luizianne Lins, considerada uma fervorosa defensora de Lula, mas que enfrenta resistência devido à sua postura mais ideológica.
O rompimento entre as legendas é motivo de preocupação devido ao simbolismo dessa disputa na capital, visto como um prenúncio do que pode ocorrer em 2026. No seu primeiro mandato, Elmano de Freitas deve buscar a reeleição, o que poderá prolongar a separação entre o PT e o PDT por mais um pleito.
Além da corrida pela prefeitura de Fortaleza, Ciro e Cid estão em lados opostos na disputa interna pelo controle do PDT local. Embora seu irmão tenha se candidatado ao cargo, Ciro defende publicamente que o deputado federal André Figueiredo permaneça na posição. “André, você conta comigo, nós precisamos de você em nome da unidade do partido”, afirmou.
Durante uma entrevista ao site Ponto Poder, Ciro expressou profunda mágoa em relação ao rompimento com Cid, afirmando que “levará essa dor até o fim”. No passado, os dois principais representantes da influente família Ferreira Gomes, uma das mais proeminentes na política cearense, eram aliados políticos. Ciro, pioneiro nesse contexto, emergiu no cenário político antes mesmo da redemocratização, conquistando uma cadeira na Assembleia Legislativa como deputado estadual em 1982.
Anteriormente aliados de Tasso Jeiressati (PSDB) até o início dos anos 2000, foi Cid quem se desvinculou da imagem dos irmãos em relação ao ex-governador. Foi graças a esse descolamento que Ciro recebeu apoio político suficiente para alcançar o Palácio da Abolição.
“Até 2018, Ciro e Cid dividiam as funções políticas: um se encarregava das relações federais, outro das domésticas. Tudo funcionava muito bem. Em 2022 ocorreram os rompimentos internos, pela disputa da sucessão de Camilo Santana (governador), e externo, pelo desejo de Ciro em se descolar de Lula”, disse a mestre em a mestre em Políticas Públicas pela Universidade Estadual do Ceará (Uece), Monalisa Torres.