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A desindustrialização do Vale do Silício e o triunfo da China, por Paulo Gala

O economista Paulo Gala fez uma análise interessante em seu perfil no Twitter, abordando a desindustrialização do Vale do Silício e o crescimento econômico da China. O Vale do Silício, conhecido por ser o berço de startups inovadoras e tecnológicas, passou por transformações significativas ao longo dos anos, resultando em mudanças no mercado de trabalho […]

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O economista Paulo Gala fez uma análise interessante em seu perfil no Twitter, abordando a desindustrialização do Vale do Silício e o crescimento econômico da China. O Vale do Silício, conhecido por ser o berço de startups inovadoras e tecnológicas, passou por transformações significativas ao longo dos anos, resultando em mudanças no mercado de trabalho e nas dinâmicas da indústria.

Gala destaca que, embora as startups sejam maravilhosas e possam ter um impacto significativo na sociedade, elas não têm a capacidade de aumentar o emprego no setor de tecnologia por si só. O verdadeiro desafio ocorre quando a tecnologia desenvolvida nas garagens dos empreendedores passa da fase de invenção para a produção em massa. Nesse estágio, as empresas precisam escalar seus negócios, lidar com detalhes de projeto, encontrar formas de produção acessíveis, construir fábricas e contratar milhares de pessoas.

Aumentar a escala é fundamental para que a inovação tenha relevância, e nesse ponto, o papel do Estado pode ser crucial como garantidor de demanda. O economista cita exemplos históricos, como a demanda da NASA por painéis fotovoltaicos e as tecnologias desenvolvidas pelo programa aeroespacial americano, em que o Estado desempenhou um papel importante ao impulsionar o aumento de escala.

No entanto, Gala ressalta que o crescimento de escala costumava funcionar bem no Vale do Silício, com empreendedores recebendo investimentos para construir seus negócios e, eventualmente, alcançar ofertas públicas iniciais que atraíam financiamento para mais crescimento. Grandes empresas como Intel, Tandem Computers, Sun Microsystems, Cisco, Netscape, entre outras, surgiram dessa maneira, aumentando o complexo ecossistema tecnológico conhecido como Vale do Silício e gerando empregos na região.

No entanto, a China emergiu como um competidor formidável. Empresas americanas perceberam que podiam realizar suas produções e engenharia de forma mais econômica no exterior, especialmente na Ásia. Ao fazer isso, aumentavam suas margens de lucro, satisfazendo a administração e acionistas. No entanto, isso também levou ao crescimento do emprego na China em detrimento do Vale do Silício.

O número de empregos industriais no setor de computadores nos Estados Unidos diminuiu consideravelmente ao longo do tempo, enquanto na Ásia surgiram setores de fabricação altamente eficientes, empregando milhares de pessoas. Um exemplo notável é a Foxconn, também conhecida como Hon Hai Precision Industry, que cresceu rapidamente em Taiwan e na China. A empresa emprega mais de 800.000 pessoas, produzindo dispositivos eletrônicos para empresas como Apple, Dell, Microsoft, Hewlett-Packard, Intel e Sony.

Essa mudança na produção industrial levou a uma distribuição desigual de empregos de alto valor agregado. Embora os EUA mantenham o trabalho de conhecimento e grande parte dos lucros, a China absorveu o volume significativo de empregos na indústria de tecnologia. Desde os primórdios do Vale do Silício, o investimento financeiro nas empresas aumentou significativamente, mas a geração de empregos tornou-se cada vez mais escassa. Os Estados Unidos se tornaram ineficientes na criação de empregos no setor de tecnologia para seus próprios cidadãos.

No entanto, essa questão vai além da simples exportação de empregos. Em muitos casos, tanto a escala quanto a inovação ocorrem no exterior. Um exemplo notável é o setor de baterias elétricas avançadas, como as baterias de íons de lítio. Assim como os microprocessadores são essenciais para os computadores, as baterias desempenham um papel fundamental nos veículos elétricos. No entanto, a participação americana na produção de baterias de íons de lítio é mínima.

A perda da liderança nesse setor ocorreu há cerca de 30 anos, quando os Estados Unidos deixaram de produzir dispositivos eletrônicos de consumo em massa. Por não estarem presentes na fase inicial do desenvolvimento de baterias de lítio, as empresas americanas perderam a oportunidade de estabelecer conhecimento e relacionamentos necessários para fornecer baterias para mercados exigentes, como laptops e, posteriormente, veículos elétricos. A China aproveitou essa lacuna e assumiu a liderança nesse mercado.

A mentalidade de menosprezar o setor industrial nos Estados Unidos teve um impacto significativo. A ideia de que, desde que o “trabalho de conhecimento” permaneça no país, os empregos industriais são dispensáveis, rompeu a cadeia de experiência produtiva das empresas americanas, crucial para o avanço tecnológico.

Os Estados Unidos entregaram o Vale do Silício ao livre mercado, permitindo que a produção fosse transferida para o leste asiático com o apoio dos governos locais. O rápido desenvolvimento das economias asiáticas é evidente nessa história. Projetos como os “Projetos Dourados”, iniciativas digitais lideradas pelo governo chinês no final dos anos 1980 e 1990, receberam financiamento público prioritário devido à importância das redes de comunicação e eletrônicas na geração de empregos, especialmente nas regiões menos desenvolvidas do país.

Ao longo do tempo, esses projetos contribuíram para o rápido desenvolvimento da infraestrutura informacional chinesa e para o crescimento econômico do país. A China triunfou nesse contexto, assumindo a liderança em vários setores industriais e tecnológicos.

A análise do economista Paulo Gala nos faz refletir sobre a importância do aumento de escala e da presença industrial para a relevância e competitividade tecnológica de um país. A desindustrialização do Vale do Silício e o triunfo da China são lições importantes para o futuro do setor tecnológico global e para a necessidade de repensar políticas industriais e de inovação nos Estados Unidos e em outros países ao redor do mundo.

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Ruann Lima

Paraibano e Estudante de Jornalismo na UFF

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26/06/2023 - 10h59

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