As declarações firmes do presidente Lula em sua visita à Itália e à França, em relação às novas exigências da União Europeia (UE) para finalizar o acordo comercial com o Mercosul, foram recebidas positivamente pelo Itamaraty, que busca desbloquear as negociações entre os dois blocos.
Diplomatas consultados pelo GLOBO avaliam que era necessário que uma liderança política com a visibilidade e a credibilidade que Lula possui na Europa chamasse a atenção para os novos pontos apresentados pelos representantes da UE na “side letter” – um anexo apresentado em abril que efetivamente amplia e modifica o texto do acordo que havia sido estabelecido em meados de 2019.
O anexo exige a antecipação das metas ambientais anunciadas pelos países em conferências internacionais, em especial a redução das emissões de gases de efeito estufa previstas no Acordo de Paris de 2015.
Aqueles com acesso a informações sobre as negociações acreditam que as novas exigências inviabilizam a assinatura do acordo. Para os membros do Itamaraty, as preocupações ambientais estão sendo utilizadas como pretexto para atender às demandas internas dos produtores agrícolas europeus em busca de protecionismo. Como a questão é política, os brasileiros acreditam que deve ser respondida politicamente.
Durante uma entrevista ao final de sua visita à Itália na quinta-feira, Lula afirmou que os termos adicionais propostos pelo bloco europeu são “inaceitáveis”. Na sexta-feira, durante seu discurso na Cúpula para um Novo Pacto Financeiro Global, em Paris, ele reforçou sua posição ao afirmar que a União Europeia (UE) “ameaça” o Mercosul com suas demandas para o acordo de livre comércio.
De acordo com fontes do Itamaraty, ao expressar suas críticas, Lula também representa a posição dos outros países do bloco: Argentina, Uruguai e Paraguai. O impasse em relação ao acordo será discutido na cúpula do Mercosul agendada para os dias 3 e 4 de julho em Porto Iguaçu, Argentina.