A Polícia Rodoviária Federal (PRF) rejeitou as informações apresentadas por Silvinei Vasques, ex-diretor-geral da corporação, durante seu depoimento à CPI dos Ataques Golpistas. As declarações em questão referiam-se às blitzes realizadas no segundo turno das eleições do ano passado. Vasques está sendo investigado por supostamente utilizar a PRF com motivações políticas para dificultar a mobilidade dos eleitores do presidente Lula. Na última quinta-feira, a senadora Eliziane Gama (PSD-MA), relatora da comissão, anunciou que irá solicitar ao Ministério Público Federal (MPF) a abertura de uma notícia-crime contra Vasques por falso testemunho.
Durante seu depoimento na terça-feira, Vasques declarou aos parlamentares que a Polícia Rodoviária Federal havia recolhido apenas cinco ônibus na região Nordeste em 30 de outubro de 2022. No entanto, nesta quinta-feira, a corporação informou ao GLOBO que, na realidade, foram apreendidos nove ônibus. No Sudeste, que abriga os dois maiores colégios eleitorais do país, apenas uma apreensão ocorreu. De acordo com a PRF, naquele dia, um total de 13 veículos com passageiros foram retidos, sendo 70% deles no Nordeste.
Atualmente aposentado, Vasques está sendo investigado em um inquérito da Polícia Federal e enfrenta um procedimento interno da PRF para apurar os bloqueios concentrados no Nordeste, que é um reduto eleitoral de Lula. Durante a CPI, Silvinei negou as acusações, qualificando-as como a “maior injustiça da História da PRF”. O GLOBO tentou contatar o advogado de Silvinei para comentar sobre a discrepância nos dados, porém não obteve resposta.
A atual administração da PRF compilou os números registrados durante a Operação das Eleições 2022 para enviá-los oficialmente à CPI. Um dado que chama a atenção é o número de ônibus fiscalizados com abordagem de agentes no dia do segundo turno. Segundo a análise da PRF, o Nordeste liderou nesse tipo de procedimento, com 322 veículos fiscalizados, representando 46,6%, enquanto no Sudeste foram fiscalizados 79 ônibus, equivalendo a 11,43%.
No decorrer do depoimento, Vasques contornou essas informações, mencionando a média de ônibus fiscalizados por pontos de controle como uma resposta às acusações. “Falou-se que a quantidade de veículos naquela região foi a mais fiscalizada. Também não é verdade. Nós tivemos, em média, no Nordeste, 26,5 veículos fiscalizados, de 26 a 27 veículos fiscalizados, por ponto de fiscalização. Então, o Nordeste ficou na quarta posição, juntamente com o Sul: 26 veículos fiscalizados por ponto”, declarou Vasques aos parlamentares.
Os parlamentares bolsonaristas repetiram os dados apresentados pelo ex-diretor e o defenderam durante a CPI. No entanto, de acordo com os dados oficiais da PRF, o Nordeste foi a região com o maior número de pontos de bloqueio e fiscalização montados pela corporação em 30 de outubro, totalizando 272 pontos. Como resultado, a média de veículos fiscalizados em cada ponto diminuiu.
Vasques foi convocado como testemunha e chegou a ter sua prisão solicitada pela relatora e por parlamentares governistas, alegando que ele havia mentido em seu depoimento. O Código Penal permite a prisão em flagrante de depoentes que prestam falso testemunho em comissões de inquérito. No entanto, o presidente da CPI, deputado Arthur Maia (União-BA), decidiu que não havia fundamento suficiente para tomar tal medida.