O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se encontrou com o presidente da França, Emmanuel Macron, em Paris, no Palácio do Eliseu, nesta sexta-feira (23). Um dos assuntos da conversa entre eles, também do discurso do petista, foi o acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia (UE).
O presidente está em Paris há dois dias para participar de eventos que reúne líderes internacionais. Nesta quinta e sexta, ele compareceu à Cúpula para o Novo Pacto Global de Financiamento, promovida por Macron. Foram mais de 300 entidades públicas, privadas e não governamentais presentes no evento, inclusive mais de 100 chefes de Estado. As informações são da Agência Brasil.
Durante o discurso, Lula disse que as exigências da UE para a finalização de um acordo com o Mercosul são “ameaças”. Nos últimos dias, a organização europeia havia enviado novas propostas para o acordo de livre comércio entre os grupos e falou em aplicação de multa, caso as obrigações ambientais fossem descumpridas.
“A carta adicional que foi feita pela União Europeia não permite que se faça um acordo. Nós vamos fazer a resposta, e vamos mandar a resposta, mas é preciso que a gente comece a discutir. Não é possível que nós tenhamos uma parceria estratégica e haja uma carta adicional fazendo uma ameaça a um parceiro estratégico”, afirmou o petista.
Por outro lado, Lula já defendeu alterações feitas no acordo a respeito de compras governamentais no início deste mês. “Eles querem que o governo brasileiro compre as coisas estrangeiras ao invés das coisas brasileiras. E se eles não aceitarem a posição do Brasil, não tem acordo. Nós não podemos abdicar das compras governamentais que são a oportunidade das pequenas e médias empresas sobreviverem nesse país”, disse ele.
Desigualdade e preservação ambiental
Em seu discurso na cúpula, o presidente do Brasil abordou os principais pontos de foco do terceiro mandato.
Lula convidou que o mundo lute pela Amazônia, relembrando a COP-30 de 2025, que irá acontecer no Pará. O presidente explica que deseja criar um diálogo mundial sobre a preservação ambiental e dos povos indígenas.
“Nós queremos compartilhar uma proposta única entre os países que ainda mantêm grandes florestas em pé. Nós queremos fazer disso um patrimônio não apenas de preservação ambiental, mas um patrimônio econômico, para ajudar os povos que moram na floresta”, disse ele.
Para o presidente, ações contra a pobreza e contra as desigualdades sociais, de raça e gênero são pilares para o combate às mudanças climáticas. Lula cobrou mais investimentos dos países ricos nas economias menos desenvolvidas e em projetos sociais que agreguem os temas citados.
“Nós somos um mundo cada vez mais desigual, e cada vez mais a riqueza está concentrada na mão de menos gente, e a pobreza concentrada na mão de mais gente. Se nós não discutirmos essa questão da desigualdade, e se a gente não colocar isso com tanta prioridade quanto a questão climática, a gente pode ter um clima muito bom e o povo [vai] continuar morrendo de fome em vários países do mundo”, alegou.
Lula ainda reforçou o fato de que as instituições internacionais devem modificar suas ações, voltando-se para uma nova governança mundial de acordo com a geopolítica atual, com o intuito de coordenar esforços e apoiar outras nações em necessidade. Para ele, “os membros permanentes [da ONU] não representam mais a realidade política de 2023”, uma vez que o mundo está sempre em mudança e novas prioridades surgem com o passar do tempo.
O presidente defende que as Nações Unidas, por exemplo, voltem a ter representatividade e força política para que mudanças nas questões climáticas de fato ocorram.
“Se nós não mudarmos essas instituições, a questão climática vira uma brincadeira. E por que vira uma brincadeira? Quem é que vai cumprir as decisões emanadas dos fóruns que nós fazemos?”, questiona Lula. “Não se cumpre porque não tem uma governança mundial com força para decidir as coisas e a gente cumprir”.”É preciso ter clareza que se nós não mudarmos as instituições, o mundo vai continuar o mesmo. Quem é rico vai continuar rico, quem é pobre vai continuar pobre.”, continuou o presidente.