O evento é símbolo de luta e homenagem à resistência feminina no campo e fora dele.
A Marcha das Margaridas acontece pela sétima vez em Brasília nos dias 15 e 16 de agosto. Nesta edição, as trabalhadoras rurais do campo e da floresta se mobilizam em torno do lema Pela Reconstrução do Brasil e pelo Bem Viver.
Nesta quarta-feira (21), a pauta de reivindicação das mulheres foi entregue aos ministros e ministras do governo, em cerimônia no Palácio do Planalto, conforme as informações da Agência Brasil.
O movimento é organizado pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), com o apoio de entidades sindicais. Estão presentes camponesas, quilombolas, indígenas, cirandeiras, quebradeiras de coco, pescadoras, marisqueiras, ribeirinhas e extrativistas de todo o país.
“Representamos milhares de mulheres que enraízam a sua existência em uma diversidade de territórios rurais, mulheres que vêm de uma realidade bem difícil. Desempenhamos um importante papel na produção de alimentos saudáveis, aquela comida que chega, de verdade, na mesa do brasileiro. Somos fundamentais para preservação da biodiversidade e para a conservação dos nossos biomas, somos guardiões dos saberes populares que herdamos das nossas ancestralidades”, afirmou a coordenadora geral da marcha, Mazé Morais.
No entanto, ainda há dificuldades na vida das mulheres homenageadas e relembradas pelo evento. Segundo ela, essas trabalhadoras ainda vivem “as piores condições de acesso à terra, aos territórios, à água, à renda, aos bens da natureza, à moradia digna, saneamento básico e aos serviços e equipamentos de saúde”.
“Além de vivenciarmos diversas situações de violência, somos constantemente colocadas na invisibilidade social e política”, acrescentou Mazé.
De acordo com ela, a pauta da Marcha das Margaridas deste ano foi construída em várias reuniões pelo país, realizadas desde 2021. Para ela, os temas representam o que as mulheres consideram necessário para “combater a violência sobre os nossos corpos” e “efetivar programas, medidas e ações que contribuam para nossa autonomia econômica”,
“Nós nos guiamos pelos princípios de um feminismo anticapitalista, antirracista, anti-patriarcal que reflete cada uma das nossas realidades; o feminismo que valoriza a vida, vinculando a defesa da agroecologia, dos territórios, dos bens comuns.”
São 13 eixos que compõem a pauta de 2023:
Democracia participativa e soberania popular
- Democracia participativa e soberania popular
- Poder e participação política das mulheres
- Vida livre de todas as formas de violência, sem racismo e sem sexismo
- Autonomia e liberdade das mulheres sobre o seu corpo e a sua sexualidade
- Proteção da natureza com justiça ambiental e climática
- Autodeterminação dos povos, com soberania alimentar, hídrica e energética
- Democratização do acesso à terra e garantia dos direitos territoriais e dos maretórios (territórios costeiros, influenciados pela maré)
- Direito de acesso e uso social da biodiversidade e defesa dos bens comuns
- Vida saudável com agroecologia e segurança alimentar e nutricional
- Autonomia econômica, inclusão produtiva, trabalho e renda
- Saúde, previdência e assistência social pública, universal e solidária
- Educação pública não sexista e antirracista e direito à educação do e no campo
- Universalização do acesso à internet e inclusão digital
O diálogo com a coordenação acontece em uma agenda transversal com os demais ministérios do governo. Ele é liderado pela Secretaria-Geral da Presidência e pelos ministérios das Mulheres e do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar.
O ministro da Secretaria-Geral, Márcio Macedo, informou que na próxima segunda-feira (26) há uma reunião marcada para as equipes dos ministérios abordarem as pautas da marcha, “para que possam ser alcançados os sonhos, os desejos e as necessidades das margaridas, as mulheres desse país inteiro”. O intuito do encontro é ter as respostas para as demandas do evento em agosto.
A ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, defendeu o evento como forma de enfrentar a perseguição às lideranças femininas e a manutenção da democracia no país.
Além disso, o ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, informou que os estímulos ao plano safra para a agricultura familiar, a ser lançado na semana que vem, estão centrados na atividade dirigida por mulheres, na agroecologia e no desenvolvimento de máquinas para apoio à produção.
“Vai ser um plano safra feminista”, afirmou. “Dessa cartilha que vocês entregaram, praticamente todos os itens dizem respeito, também, ao nosso ministério. Nós queremos o Pronera [Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária] na zona rural, nós queremos a cobertura de internet, nós queremos a agroindústria, nós queremos programas para a sucessão rural que envolva as jovens mulheres, nós queremos atenção à saúde na zona rural e nós vamos fazer um diálogo intragovernamental”, concluiu Teixeira.
Homenagem e resistência
O nome do evento organizado a cada quatro anos desde 2000 é em homenagem à trabalhadora rural e líder sindical da Paraíba, Margarida Maria Alves, assassinada em 1983. Ela é uma das figuras mais importantes para a luta social e política das mulheres, por reconhecimento, igualdade e dignidade. Margarida foi a primeira mulher a assumir o Sindicato de Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande (PB) e, dentre outros feitos, se consolidou como referência e símbolo da luta campesina, principalmente da imagem feminina no meio rural. Ela contrariava interesses econômicos dos latifundiários locais e proprietários rurais e, dessa forma, conquistou diversos direitos pela luta trabalhista. No seu discurso do dia 1 de maio, ano em que foi executada pelos latifundiários da região, ela afirmou que “era melhor morrer na luta do que morrer de fome”.
O presidente da Contag, Aristides Veras dos Santos, enfatizou que a marcha é das mulheres, mas a luta por direitos e igualdade envolve a todos. “Nós, os homens, temos que acabar com essa pecha de superioridade, que de superioridade nós não temos nada”
Nós temos que entender que esse mundo é pela igualdade, esse mundo é de respeito e o respeito tem que ser tratado com muita força. A marcha traz todo esse processo. Nós não fazemos uma marcha apenas para reivindicar, mas também para mudar a alma e o coração das pessoas e seus comportamentos. O Brasil precisa enfrentar esse debate, nós vivemos em uma sociedade dividida, uma sociedade muito violenta”, acrescentou Aristides.
Luciano Souza
25/06/2023 - 00h56
A pauta desse movimento é muito rica! Nos chama a atenção para as demandas reprimidas desse nosso país continental. Que seja um evento exitoso e frutífero, já que prospecta melhores condições de vida tanto no campo quanto nas cidades.