Tic Tacla: o tiro de misericórdia na Lava Jato

Rodrigo Tacla Duran esteve hoje na TV 247, numa entrevista ao jornalista Joaquim de Carvalho, onde reiterou suas acusações contra a Lava Jato.

A diferença é que o ex-advogado da Odebrecht agora está sob proteção do Supremo Tribunal Federal (STF), que lhe concedeu habeas corpus preventivo, garantindo a sua integridade física e sua liberdade enquanto estiver no Brasil.

A decisão, assinada pelo ministro Dias Toffoli, obriga o Ministério da Justiça e a Polícia Federal a garantirem a segurança e a livre circulação do advogado no Brasil. Toffoli também anulou supostas provas que a Lava Jato tinha reunido contra Tacla Duran.

Tacla participaria hoje (19/jun) de uma audiência pública, exibida ao vivo pela TV Câmara, na Comissão de Administração e Serviço Público, mas o seu passaporte não foi liberado a tempo, pelo governo da Espanha em virtude de supostos problemas burocráticos. Na entrevista ao 247, Duran disse que suspeita de que Moro ainda exerça influência em algumas instâncias judiciais.

Duran, que atuou para a Odebrecht de 2011 a 2016, acusa Carlos Zucolotto Junior, amigo e padrinho de casamento do juiz Sergio Moro, de ser o intermediário de negociações paralelas com a força-tarefa da Operação Lava Jato.

Rosangela, esposa de Moro, era sócia do escritório de Zucolotto.

Zucolotto também defendeu o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima em uma ação trabalhista no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Carlos Fernando é investigado por irregularidades cometidas quando comandava a Lava Jato.

Irregularidades cometidas, aliás, tanto antes como depois da Lava Jato.

Há uma ação no TCU que investiga o valor de R$ 28 milhões recebidos por Carlos Fernando, através de sua empresa W Faria, logo depois dele sair da Lava Jato, de uma das empresas que ele mesmo investigava, a Eletrobrás.

Segundo Tacla, as negociações entre ele e Zucolotto resultariam no abrandamento da pena e na redução da multa que deveria pagar.

Duran afirma que Zucolotto pedia, via caixa dois, a quantia de 5 milhões de dólares, que seriam utilizados para “cuidar” das pessoas que facilitariam a negociação. Em manifestações anteriores, Tacla apresentou prints, autenticados por especialistas, desses diálogos com Zucolotto.

Segundo o deputado federal Rogério Correia (PT-MG), responsável pelo convite para que Tacla fale à Comissão, a audiência de Tacla ainda não tem ainda nada marcada, mas o será em breve.

Ao final de março deste ano, Tacla Duran prestou um longo depoimento ao juiz Eduardo Appio, onde reiterou suas acusações, e declarou que possui provas contundentes de tudo que fala, mas que as apresentaria apenas quando tivesse proteção da justiça brasileira e, sobretudo, pudesse vir pessoalmente ao Brasil para apresentá-las às autoridades. É o que ele vinha fazer esta semana no Brasil.

Com os dados da operação Spoofing vazando quase que diariamente, sobretudo após a justiça (via TRF-1) liberar os arquivos para todos os processados pela Lava Jato, a operação está mais desmoralizada do que nunca.

As denúncias de Tacla Duran, caso venham acompanhadas de provas contundentes, como ele promete, podem ser o tiro de misericórdia no que tiquinho de respeito e prestígio que a Lava Jato ainda possuía.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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