Há 125 anos, inimigo da indiferença

Foto: Claquete/Pexels

Eu vejo filmes porque quero sentir. Quero sentir asco. Quero sentir ódio. Quero sentir compaixão. Quero sentir medo. Quero rir. Quero chorar. Quero gargalhar. Quero ter esperança de que a vida vai melhorar. Quero ter meu mundo virado de cabeça pra baixo. Quero enxergar coisas que nunca vi. Quero, acima de tudo, sentir.

E por que desejo tanto sentir? Porque sou humano. Porque o sangue que corre nas minhas veias deve ter algum sentido. Porque sou latino. Porque sou Brasileiro. Então esse é o sentido.
Sinto porque desde que nasci nunca pude deixar de sentir o calor das pessoas e do país. Nunca pude deixar de perceber tudo que podemos ser, tudo que já poderíamos ser, e seremos.

Há 125 anos o Brasil de Grande Otelo, de Fernanda Montenegro, de Glauber Rocha, de Juliana Rojas, de Gabriela Amaral, de Eduardo Coutinho, de Sônia Braga, de Leila Diniz, de Zezé Motta e de tantas outras milhares de pessoas que dirigem, atuam, produzem e escrevem é casa de um cinema que é e nunca deixou de ser. O cinema brasileiro, acima de tudo, nos faz sentir.

Brasil, que é a poesia de uma terra em transe constante, abriga vidas secas no Rio que ultrapassa os 40 graus. Brasil, que é devoto do auto da compadecida e não sabe que horas ela volta, deve explicações à Madame Satã e ao Boca de Ouro por conta do caso daquele cabra que estava marcado pra morrer.

Brasil, que sabe que trabalhar cansa, não perde de vista o animal cordial que com certeza não conhece as boas maneiras. Brasil que ama todas as mulheres do mundo e torce que apenas a sorte os separe. Brasil que por vezes é seu próprio lobo atrás da porta. Brasil, que à meia-noite leva minha alma, que é mundo cão e me embrulha o estômago. Brasil que sempre se guarda pra quando o Carnaval chegar.

Não diria nunca bye bye Brasil, porque desejo ficar e sentir o que esse país tem pra oferecer.
Desejo esse cinema mais do que tudo, porque só com ele sinto e as coisas tem sentido.
Viva o cinema nacional! Viva os 125 anos do cinema brasileiro!

Essa crônica é uma singela homenagem ao cinema brasileiro que, nesta segunda-feira (19), celebra seus 125 anos. O texto não contempla todos os nomes mais conhecidos ou filmes mais badalados porque se trata da minha experiência enquanto espectador, mas estendo minha admiração a todos que fizeram e ainda fazem parte de um dos bens mais importantes do país.

A data é comemorada no dia 19 de junho porque esse seria o dia em que as primeiras imagens em movimento foram realizadas no país por Afonso Segreto, italiano que filmou a entrada da Baía de Guanabara à bordo do navio Brésil em 1898.

O Canal Brasil também faz uma homenagem ao cinema nacional. Estão sendo exibidos, desde a madrugada do último domingo (18), 125 filmes clássicos brasileiros para celebrar a data. O canal fará a maratona até as 21h30 do dia 27 de junho (terça).

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Patrick Chaia:
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