A classe média está voltando a gostar de Lula?

O bairro de Laranjeiras, ocupado por famílias de classe média, vota tradicionalmente na esquerda há várias eleições

A grande novidade do último Datafolha, com entrevistas realizadas entre os dias 12 e 14 de junho, é a forte queda de 15 pontos percentuais (!) da rejeição ao governo Lula entre eleitores de classe média.

E aqui usamos o termo classe média em sua acepção, por assim dizer, clássica, referindo-se a famílias com renda de 5 a 10 salários, ou de R$ 6,6 a R$ 13,2 mil.

Segundo a pesquisa, a reprovação desse grupo a Lula era de 47% em abril, e caiu para 32% em junho.

A margem de erro para dados estratificados é sempre mais elevada. Neste caso, é de 7 pontos. Mesmo assim, portanto, é uma mudança excepcional.

No geral, com quase seis meses no cargo, a aprovação do presidente Lula, do PT, se mantém constante: 37% da população considera seu governo ótimo ou bom, enquanto 27% o avalia como ruim ou péssimo. Para 33% dos brasileiros, o desempenho do presidente é regular, e 3% preferiram não expressar opinião.

Lula é mais aprovado por pessoas com menor renda, até 2 salários mínimos, com uma aprovação de 43%, e também por menos escolarizados, com uma aprovação de 47%. Entre os nordestinos, a aprovação chega a 47%. Contudo, neste último grupo, houve uma oscilação negativa de 6 pontos na aprovação em comparação a março, considerando uma margem de erro de 4 pontos.

A reprovação a Lula está acima da média em grupos específicos. Os que ganham de 2 a 5 salários mínimos, considerada a classe média baixa, e os moradores do Centro-Oeste reprovam Lula em 34%. Entre os evangélicos, a reprovação atinge 37%. Por fim, a minoria mais rica, com mais de 10 salários mínimos mensais e representando 4% da amostra, rejeita Lula em 49%.

A Folha não divulgou o relatório completo da pesquisa, então temos que analisar com base nos números parciais divulgados nos textos do jornal.

É interessante, de qualquer forma, por diversão, responder a um trecho da matéria da Folha:

Começando pelo lado negativo, eles repetem o pior desempenho de um mandatário eleito em primeiro mandato desde a redemocratização de 1985 e, para desgosto da militância, emula o desempenho do rival derrotado em outubro passado, Jair Bolsonaro (PL).

A esta altura do mandato, o ex-presidente tinha 33% de aprovação, 33% de reprovação e 31% de avaliação regular. Usando os limites da margem de erro, é um empate técnico com ligeira vantagem numérica para Lula.

Essas comparações com outros momentos históricos me parecem complicadas. Porque compara situações e conjunturas muito diferentes. O Brasil e o mundo mudaram muito. Faz mais sentido comparar apenas com o governo anterior, o de Bolsonaro, quando já tínhamos as tecnologias de informação que temos hoje.

Mas a comparação da Folha, para “desgosto da militância” antipetista, é forçação de barra. Lula tem aprovação de 37%. Bolsonaro tinha de 33%. Usar os “limites da margem de erro” para falar em empate técnico é meio ridículo. Além disso, Bolsonaro era visto como um presidente muito bem aprovado no início de seu governo. Lula ter 4 pontos a mais que Bolsonaro é outra vitória política importante do petista.

Além do mais, reitero que é preciso olhar toda pesquisa com o filtro do bom senso, e à luz dos dados conjunturais.

Bolsonaro tinha 33% de aprovação em junho de 2019 num contexto em que nem o Brasil nem o mundo ainda o conheciam direito. Ou seja, daí em diante, seria ladeira a baixo. Os números da economia de Bolsonaro também não apresentavam nenhum horizonte positivo, ao contrário do que vemos hoje.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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