Mensagens de Mauro Cid revelam intenções golpistas, incluindo a demanda por eleições com voto impresso

Imagem: Reprodução / Redes Sociais

No conteúdo das conversas identificadas pela Polícia Federal, são discutidas estratégias a serem adotadas após a derrota nas eleições para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Uma análise realizada nos arquivos do telefone celular do tenente-coronel Mauro Cid, ex-auxiliar do presidente Jair Bolsonaro, e de pessoas próximas a ele revelou mensagens que sugerem a tramóia de um golpe de estado, com o afastamento de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e a intervenção militar no país. Essas conversas rastreadas pela Polícia Federal mencionam estratégias que poderiam ser adotadas após a derrota nas eleições para o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva.

No relatório produzido pela Diretoria de Inteligência da PF sobre a análise dos dados extraídos, consta um documento chamado “Forças Armadas como poder moderador”, no qual é apresentado um plano baseado em uma tese polêmica de que os militares poderiam ser convocados para arbitrar conflitos entre os poderes.

O relatório detalha um “passo a passo” do golpe e sugere que Bolsonaro encaminhasse as supostas inconstitucionalidades praticadas pelo Judiciário aos comandantes das Forças Armadas. Os militares, então, poderiam nomear um interventor com poderes absolutos.

O coronel Jean Lawand Junior, que mantinha contato frequente com o ex-auxiliar da presidência, o tenente-coronel Mauro Cid, e que ocupava o cargo de subchefe do Estado Maior do Exército, passou a pressioná-lo repetidamente por um plano para contestar o resultado das eleições. Nas conversas, são utilizadas frases como “convença o 01 a salvar esse país”, “o presidente vai ser preso” e “pelo amor de Deus, faça alguma coisa”.

Outra pessoa investigada no inquérito sobre a inclusão de dados falsos de vacinação nos sistemas do Ministério da Saúde, a esposa de Mauro Cid, teve seu telefone apreendido. No aparelho de Gabriela Cid, os agentes da Polícia Federal encontraram mensagens trocadas entre ela e Ticiana Villas-Bôas, filha do general Eduardo Villas-Bôas, ex-comandante do Exército.

Nessas mensagens, as duas discutem sobre a realização de novas eleições com voto impresso, expressando insatisfação com o resultado e defendendo que os manifestantes não deveriam pedir por intervenção federal, mas sim pelo impeachment do ministro do STF, Alexandre de Moraes. Elas também sugerem que o Exército poderia orientar os caminhoneiros sobre as reivindicações nos protestos.


Além disso, o sargento do Exército Luís Marcos dos Reis, outro ex-colaborador de Bolsonaro investigado no esquema de supostas fraudes em cartões de vacina, teve seu celular apreendido.

A análise do aparelho revelou que o militar participou de atos antidemocráticos. Em uma das conversas com uma pessoa não identificada, Reis filmou uma manifestação em frente ao Quartel-General de Goiânia, em Goiás, e escreveu: “Hoje, domingo, treze de novembro, uma hora e cinco da tarde. Olha só, pessoal! Os patriotas estão firmes, não desistam! Vejam o povo aqui. Desta vez, vamos vencer a batalha!”.

A perícia no celular também revelou que o sargento esteve presente no acampamento em Brasília e incentivou a “tomada de poder pelas Forças Armadas”. O relatório destaca que ele enviou vídeos e imagens mostrando sua participação nas invasões às sedes dos Três Poderes.

Mais tarde, por volta das 20h, ele afirmou que já estava em casa e que no dia seguinte teria que trabalhar cedo, mas que “o recado foi dado”.

Além disso, no telefone de Mauro Cid, a PF descobriu que ele fazia parte de um grupo de WhatsApp com militares ativos, onde foi defendido um golpe de estado após a vitória de Lula. Um contato identificado como Gian defendeu, por exemplo, uma “ação por parte do PR e FA, que espero que ocorra nos próximos dias”, referindo-se a Bolsonaro e às Forças Armadas.

Durante as trocas de mensagens analisadas pela PF, os membros do grupo afirmaram que o país estava caminhando para uma crise “muito grave”. Outro participante do grupo afirmou: “A ruptura institucional já ocorreu há muito tempo. Tudo o que for feito agora pelo PR, FA e outros não vai deter a revolução do povo, que está cansado de tudo isso”, em 27 de novembro do ano passado.

O grupo acreditava que as tropas agiriam independentemente da adesão de seus comandantes. Gian afirmou: “Confio muito em nós, somente em nós”. Ele também acrescentou: “Já comecem a pensar na proteção de nossas famílias”.

Em outro trecho da conversa, ocorrida em 21 de dezembro de 2022, um membro do grupo identificado como Márcio Resende disse: “Se Bolsonaro acionar o artigo 142 (da Constituição), ninguém será capaz de impedir as tropas. Ou você participa ou pede para sair”.

Jair Bolsonaro negou qualquer envolvimento em “conversas sobre um suposto golpe de estado”. Seus advogados defenderam que Cid, como ex-auxiliar, apenas recebia as demandas que deveriam chegar ao presidente, como pedidos de agendamento e recados. Os advogados também afirmaram que o celular de Cid se tornou apenas uma “caixa de correspondência” registrando várias lamentações.

Os advogados de Mauro Cid, Bernardo Fenelon e Bruno Buonicore, afirmaram que “por respeito ao Supremo Tribunal Federal, todas as manifestações de defesa serão feitas somente nos autos do processo”.

Ruann Lima: Paraibano e Estudante de Jornalismo na UFF
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