Mais uma vez, as investigações do dia 8 de janeiro levaram o planejamento e o resultado das conspirações golpistas contra a República para o centro dos militares. A quebra de sigilo das comunicações do tenente-coronel Mauro Cid colocou mais dois militares do oficialato no centro da trama golpista: coronel Jean Lawand Júnior, general Édson Rosty e o tenente-coronel Marcelino Haddad, além de uma série de outros militares graduados.
O grupo de WhatsApp de Cid contava com chefes de batalhões e instrutores de escolas militares. Portanto, já passou da hora de o governo tratar a sociedade civil como adultos e parar de insistir na falácia de que o golpismo verde-oliva é algo pontual e isolado.
Na sexta-feira (17), Lula até mesmo desistiu de ir para um evento em Goiás. Embora alegasse mau tempo, quem estava próximo do presidente afirmou que o motivo era outro. Na verdade, havia realmente mau tempo, mas na relação entre Lula e os militares.
Mesmo com militares graduados, especialistas, sua esposa e uma parte considerável da sociedade civil defendendo que é hora de romper com o ciclo de impunidades, o presidente continua insistindo que o melhor caminho talvez seja colocar panos quentes e investir absurdamente parcelas consideráveis do orçamento público no sumidouro de dinheiro alheio que são os militares.
O memso receituário que Lula usou em seus dois primeiros mandatos e que apenas devolveu o protagonismo político dos militares e não os afastou nem um pouco de teses criminosas e delinquentes. Do investimento em estrutura, passando pelo uso descabido de operações de Garantia da Lei e da Ordem e terminando nas escabrosas missões de paz da ONU. Um trem descarrilhado de sucessivos erros que nos trouxeram para o agora.
E embora seja inegável a irritação de Lula com mais esse episódio, até o momento nada indica que o governo Lula presenteará o Brasil com a imagem do primeiro general julgado, condenado e preso, tampouco que haverá alguma mudança na formação dos oficiais que hoje saem convictos de que o maior inimigo do Brasil são os brasileiros (os 500 anos de história nacional estão aí para provar isso).
Ainda em maio deste ano, a jornalista Miriam Leitão revelou que, segundo o próprio presidente do Superior Tribunal Militar, parte do alto comando das Forças Armadas era sim simpática a teses criminosas de golpe. Desde então, nada foi feito para resolver isso.
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O Ministro da Defesa, José Múcio, não perde tempo em dizer, sempre que diante de um microfone, que não tem interesse em romper com o ciclo de ameaças que a República sofre por parte dos militares, muitas vezes se prestando ao vexaminoso papel de mero despachante dos generais da cúpula.
Até recentemente, o chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) era o general Gonçalves Dias, que há anos, ao comandar uma operação de Garantia da Lei e da Ordem devido a um motim de policiais militares, não só confraternizou com os arruaceiros, como também se emocionou com eles. Uma verdadeira demonstração de desdém com a legalidade. Anos depois, foi presenteado com a chefia da segurança presidencial.
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E mesmo com tantos problemas, Lula até hoje não sinalizou se irá manter a segurança presidencial sob as mãos dos civis da Secretaria Extraordinária de Segurança Imediata do Presidente da República (SESP) ou se devolverá a função aos militares e ao general Amaro, aquele que adora dar entrevistas quando o presidente não está em Brasília.
Por muito menos, a Alemanha do século XXI decidiu acabar com os batalhões de operações especiais ao menor sinal de infiltração extremista.
Infelizmente, não gostaria de estar repetindo esse tema que abordo periodicamente e exaustivamente em minhas colunas e redes sociais. Porém, é imperioso perguntar (mais uma vez) o que falta para Lula realmente confirmar seu compromisso com a democracia?
É muito fácil se dizer democrata e afins e cruzar os braços diante da maior ameaça ao Brasil e aos brasileiros: suas próprias forças armadas.