O Ipec finalmente publicou a íntegra de seu relatório, com os dados estratificados (link da íntegra ao final do post).
Lembramos sempre que a margem de erro dos dados estratificados (por renda, escolaridade, região, etc) é sempre mais alta.
Enquanto margem de erro do total é de 2 pontos percentuais, as dos números segmentados oscila de 3 a 7 pontos, em alguns casos chegando a 9 ou até mesmo 11 pontos. Quanto menor o extrato avaliado, maior a margem de erro.
Independentemente dessa margem, é sempre mais apropriado realizar uma análise ou especulação baseada em dados do que não se basear em nada.
Então vamos lá.
No geral, conforme já foi amplamente divulgado, o Ipec detectou estabilidade na aprovação do presidente: 53% responderam que aprovam a sua maneira de governar, com oscilação abaixo da margem sobre a pesquisa anterior, de abril.
É uma boa notícia para Lula, portanto. Houve consolidação do elevado prestígio presidencial nos últimos meses, após a euforia dos primeiro trimestre, em que as imagens da posse e as expectativas de campanha ainda são muito forte na memória do povo.
Agora vamos aos dados estratificados.
O Ipec perguntou ao entrevistado em que ele votou no segundo turno.
Esse dado é um controle importante para se averiguar a precisão da pesquisa, porque o percentual dos que dizem ter votado em Bolsonaro no segundo turno deve ser parecido ou igual àquele mostrado nas urnas.
É por isso mesmo um comparativo valioso, um dos números cientificamente mais fortes da pesquisa.
Segundo a Ipec, 88% dos eleitores de Lula no segundo turno aprovam o presidente.
Já entre aqueles que votaram em Bolsonaro, a aprovação pessoal de Lula é de 19%.
Entre os eleitores que votaram em branco ou nulo, um grupo menor, 32% afirmaram aprovar a maneira de Lula governar, enquanto 39% dos que não foram votar responderam que apoiam o presidente.
No comparativo com as notas de avaliação do governo (ótimo, bom, regular, ruim péssimo), a tabela mostra que os entrevistados que dão notas boas à administração tendem, por óbvio, a aprovar o presidente, e os que dão notas ruim, a desaprová-lo. Já os que dão nota regular, há uma tendência maior pela aprovação.
Segundo a pesquisa, 48% dos entrevistados que marcaram regular para o governo aprovam o presidente, contra 42% que desaprovam.
Esses números significam que Lula mantém um apoio sólido entre aqueles que o elegeram.
Os números estratificados por região também são importantes, porque representam grupos bem grandes, e logo a margem de erro não é tão elevada.
Vejamos o caso do Sudeste, maior região do país: nela, Lula é aprovado por 49% dos eleitores, contra 42% de desaprovação.
No Sul, onde Lula teve um desempenho ruim nas eleições de 2022, a aprovação do presidente também é positiva: 46% o aprovam, contra 44% que não.
No Nordeste, por sua vez, a aprovação de Lula permanece alta é de 63%, contra 33% de desaprovação.
Não é interessante fazer comparativo dos estratificados da pesquisa de agora com aqueles da pesquisa anterior, em função das margens de erro elevadas.
Chama atenção ainda a elevada aprovação de Lula na periferia, no interior e nas cidades menores, com até 50 mil habitantes.
A estratificação por renda é um dos momentos mais didáticos de uma pesquisa, porque o corte de classe é sempre o mais importante para se entender a psicologia do eleitor. Sempre mantendo em mente que as margens de erro são elevadas para esses estratos, e que o valor deles é puramente especulativo, vale a pena examiná-los.
Segundo a Ipec, Lula se mantém popular em todas as faixas de renda, inclusive as superiores, com renda familiar acima de 5 salários, entre as quais o presidente é aprovado por 51%, contra 45% de desaprovação.
Na verdade, a pesquisa mostra uniformidade no prestígio do presidente em quase todas as faixas, entre 50% e 52%.
Entre o estrato mais pobre, com renda familiar até 1 salário, a aprovação de Lula explode para 58%, contra 35% de rejeição.
A mesma tabela divide os dados pela religião do eleitor, e mais uma vez se confirma que um dos maiores desafios de Lula é melhorar sua aprovação entre os evangélicos. Segundo a Ipec, Lula tem 42% de aprovação entre evangélicos, contra 51% de desaprovação. A diferença com os números dos católicos é gritante: entre estes, a aprovação do presidente é de 59%, contra 35% de desaprovação.
Por fim, falta examinar os estratos por sexo, idade e escolaridade.
Os dados por sexo não mostram nada de original, porque não divergem expressivamente dos números gerais. A mesma coisa vale para os números por idade.
Na estratificação por escolaridade, chama atenção a aprovação de 62% de Lula entre o eleitor menos instruído, com até o ensino fundamental.
Já entre eleitores com escolaridade até o ensino médio, a aprovação de Lula cai para 49%, percentual que declina para 45% entre aqules com ensino superior.
Conclusão
Dois estratos dessa pesquisa deveriam chamar atenção do governo: evangélicos e mais instruídos. Na verdade, eu acho que os ventos mais perigosos se originam entre os eleitores com nível superior. Não é mais um grupo tão pequeno, mas é sobretudo um estrato influente na opinião pública. Lula ainda consegue neutralizá-lo em virtude do apoio mais forte que, aparentemente, possui entre eleitores mais jovens com ensino superior. Mas é preciso desenvolver estratégias de comunicação específicas para esse segmento.
De qualquer forma, os números são bons para Lula porque ele mantém elevado prestígio entre quem votou nele, avança sobre setores populares do bolsonarismo e está no positivo no Sudeste e no Sul, regiões onde enfrentou dificuldades nas eleições do ano passado.
Link para íntegra do relatório.