Em uma determinação do general Gonçalves Dias, então ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) no governo Lula, foi ordenado à direção da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) que suprimisse do relatório entregue ao Congresso Nacional os alertas enviados a ele sobre ameaças em 8 de janeiro.
A Comissão de Atividades de Controle de Inteligência (CCAI) solicitou ao GSI um documento com informações de inteligência enviadas pela Abin entre os dias 2 e 8 de janeiro. No entanto, os alertas direcionados especificamente a GDias não foram incluídos na relação enviada à comissão em 20 de janeiro.
De acordo com informações apuradas pela Folha, o general ordenou que esses alertas fossem omitidos de uma versão preliminar do relatório, alegando que a troca de informações não ocorreu pelos canais oficiais.
A existência dos alertas enviados diretamente a GDias foi revelada pelo jornal O Globo e confirmada pela Folha. A Abin era liderada na época pelo oficial de inteligência Saulo Moura da Cunha, que deixou o cargo em março e assumiu uma posição no próprio GSI a partir de abril, durante a gestão de GDias. Ele pediu exoneração em 1º de junho.
Os alertas enviados ao então ministro só chegaram ao Congresso no mês passado, por meio de um novo relatório da Abin, desta vez incluindo os informes que, segundo a agência, foram enviados diretamente para GDias.
A diferença entre as duas versões do relatório foi revelada pelo jornal O Globo e confirmada pela Folha. No total, 11 alertas enviados a GDias foram suprimidos do primeiro documento.
O primeiro pedido de informações ao GSI foi feito em 9 de janeiro pelo então presidente da CCAI, senador Esperidião Amin. Em resposta, a Abin elaborou uma planilha com os informes distribuídos pela agência por meio do aplicativo WhatsApp durante o período que antecedeu os atos de vandalismo na Esplanada dos Ministérios.
Após receber essa versão preliminar, GDias determinou que o relatório enviado ao Congresso contivesse apenas as informações distribuídas em grupos, considerados canais oficiais da Abin desde o governo de Jair Bolsonaro.
Essa decisão é controversa, pois, de acordo com a lei que institui o Sistema Brasileiro de Inteligência (Sisbin), apenas o chefe do GSI pode fornecer documentos sobre atividades e assuntos de inteligência produzidos pela Abin às autoridades.
A planilha completa permaneceu nos arquivos da agência de inteligência.
GDias pediu demissão do cargo em abril, após a divulgação de imagens que colocaram em xeque a atuação do órgão durante o ataque ocorrido em 8 de janeiro. Vídeos do circuito interno de segurança durante a invasão da sede da Presidência da República mostram uma ação colaborativa entre agentes e golpistas, além da presença de Gonçalves Dias no local durante o ataque golpista de 8 de janeiro. Os vídeos das câmeras de segurança mostram a participação conjunta de agentes e golpistas, bem como a presença de Gonçalves Dias no local.
Essas revelações levantaram preocupações sobre a conduta do ex-ministro e sobre a transparência na troca de informações de inteligência entre os órgãos do governo. A omissão dos alertas enviados pela Abin ao Congresso Nacional é vista como uma violação dos procedimentos adequados.
A defesa de GDias, por outro lado, afirma que não possui os documentos em questão e argumenta que o ex-ministro tem respondido a todas as perguntas relacionadas ao assunto. Alega-se que GDias agiu de acordo com os canais oficiais e seguiu as orientações estabelecidas no governo do presidente Bolsonaro.
As revelações trazem à tona questões sobre a integridade e a transparência dos procedimentos de inteligência no país. É essencial que as autoridades investiguem a fundo esses acontecimentos e garantam a responsabilização adequada, a fim de preservar a confiança e a credibilidade das instituições governamentais.