Estamos em junho e se houvesse frustação com Lula, ela já teria aparecido em pesquisas. Não apareceu. Lula mantém alta popularidade entre seus eleitores e, em todas as sondagens, avança sobre setores populares que votaram em Bolsonaro.
A Ipec divulgada hoje, paga pela Globo, confirma o que temos visto em outras pesquisas. Passada a ressaca da euforia dos primeiros meses, quando todo governo iniciante aparece como salvador da pátria, a popularidade de Lula e de sua administração estabilizaram-se em níveis elevados, especialmente quando se olha para a média de outros chefes de Estado no mundo.
E nem irei distinguir entre regimes supostamente democráticos e outros supostamente autocráticos. Basta considerar a popularidade internacional. Lula é popular no Brasil e mais ainda popular no mundo. Viaje para qualquer país, enfie-se nos becos revolucionários e socialistas, que existem em toda parte, e confira o que Lula simboliza para os movimentos de esquerda no mundo hoje.
Ser líder atualmente é mais difícil do que no passado, sobretudo em regimes (supostamente) democráticos onde ainda existe alternância e competição pelo poder.
Como devemos analisar a última Ipec?
Agora que as pesquisas de aprovação começarão a fazer sentido, por termos um histórico de seis meses, e pela diluição saudável dos entusiasmos e ódios excessivos, nascidos de uma disputa eleitoral apaixonada, devemos reiterar alguns preceitos importantes.
Pesquisa não é realidade. É uma tentiva de se interpretar a realidade.
Numa democracia com as nossas características, não há outra pesquisa melhor do que as urnas eletrônicas. As urnas serão, por muito tempo, a única e verdadeira âncora da democracia brasileira. Uma pesquisa precisa se escorar, necessariamente, nos números das últimas eleições. É a partir deles que devemos fazer comparações e análises objetivas.
Outro ponto importante é estabelcer um critério rigoroso para se julgar uma pesquisa. Por exemplo, dados estratificados valem pouco, em função da sua altíssima margem de erro. A gente pode fazer especulações com base neles por amor ao debate, mas sempre com prudência. Os dados que valem mais são os que apresentam menor margem de erro. O dado mais valioso, neste sentido, é o que mede a popularidade pessoal do presidente.
Segundo o Ipec, 53% dos brasileiros adultos aprovam a maneira de Lula governar.
A oscilação de 1 ponto para baixo, em relação à pesquisa anterior, de abril, é tratada equivocadamente pelo Globo como “tendência desfavorável”. Como esse 1 ponto representa metade da margem de erro, que é de dois pontos, pela própria matemática da pesquisa Lula poderia ter avançado 1 ponto.
Ao contrário do que diz o Globo, a pesquisa Ipec sinaliza uma estabilidade benéfica para o governo Lula, após um semestre tumultuado que começou com o dia 8 de janeiro e terminou com os primeiros desacordos entre o executivo e o parlamento.
Além das urnas, uma análise de pesquisa deve se ancorar também nos índices econômicos do país. Estão bons?
No caso do Brasil, os índices econômicos seguem estáveis ou positivos, e isso, por si só representa uma vitória política gigante do presidente Lula. Inflação, dólar e PIB estão bons. Falta só queda nos juros, mas isso virá uma hora ou outra.
Há muitos projetos em andamento com potencial para geração de emprego, e se o governo terminar o seu primeiro ano com melhora no mercado de trabalho, o presidente Lula se tornará uma grande referência para os candidatos a prefeito em 2024.
As urnas eletrônicas de 2024 darão um veredicto mais confiável acerca da aprovação de Lula.
Não seria honesto avaliar a aprovação de Lula no Brasil sem considerar a estratégia geopolítica do presidente. Lula é um player internacional. Só ele foi capaz de estabelecer uma posição para o Brasil autenticamente soberana, imparcial e corajosa, fugindo de todas as armadilhas midiáticas do neoimperalismo.
Entretanto, o que dá um frio na barriga, é perceber que Lula está conseguindo – só ele o podia! – ganhar a confiança dos mais diferentes blocos do mundo, China, Europa, Japão, EUA, Rússia, América Latina, África do Sul e países africanos. É claro que isso representa um ponto extremamente sólido na aprovação geral do presidente. Como a internet é uma “aldeia global”, ter aprovação boa no mundo ajuda muito a segurar a popularidade em casa.