Em menos de 48 horas, o senador Sergio Moro, outrora tão elogiado por supostas habilidades como “estrategista”, tomou dois xeque mates.
Um veio do advogado Pedro Serrano, responsável pela defesa técnica do juiz Eduardo Appio, titular até poucos dias atrás da 13a Vara Federal de Curitiba.
Outro veio de Tony Garcia, um empresário curitibano que durante anos foi vítima de chantagens e ameaças de Sergio Moro.
Falemos da estratégia de Pedro Serrano.
Appio, o cliente de Serrano, estava à frente de uma série de investigações envolvendo juízes e procuradores que haviam integrado a força-tarefa Lava Jato.
Entre os inquéritos conduzidos por Appio, estavam as denúncias de Rodrigo Tacla Duran, ex-advogado da Odebrecht, e de Tony Garcia, que desde 2021 vinha acusando Sergio Moro de tê-lo obrigado, mediante intimidação, a se transformar em seu “agente”.
Quando Appio toma a decisão, corajosa e republicana, de enfrentar o corporativismo tão típico do judiciário, é sumariamente afastado não apenas dos processos da Lava Jato como do próprio cargo de juiz.
“Nunca testemunhei um ataque tão direto, tão vil, à independência do judiciário”, acusou Serrano, em entrevistas.
Entretanto, nem Serrano nem Appio vinham respondendo, até o momento, a um dos principais motivos do afastamento de Appio: o de que ele havia aplicado um “trote” telefônico contra o advogado João Malucelli, filho do desembargador Marcelo Malucelli.
O suposto trote foi gravado pela filha de Sergio Moro, namorada de João, e entregue pelo próprio Moro às autoridades do TRF-4 e do CNJ. Tudo muito conveniente…
A estratégia de Serrano foi simples. Assim que foi vazado à imprensa o vídeo e áudio do tal telefonema, o suposto trote de Appio, numa trama explicita e assumidamente de Sergio Moro, um senador que não deveria ter mais nenhum vínculo direto com o judiciário de Curitiba, Serrano deve ter lembrado de uma das mais famosas máximas de Napoleão Bonaparte.
“Nunca se deve interromper um inimigo quando ele estiver cometendo um erro”.
Sob orientação de Serrano, o juiz Eduardo Appio manteve um silêncio absoluto desde que essa história bizarra veio à tôna.
Serrano deixou que os inimigos de Appio, que são os suspeitos de sempre, aliás, se esbaldassem nas redes sociais. A começar pelo próprio Moro, que fez inúmeras postagens e compartilhamentos com acusações a Appio.
Serrano usou a cabeça, uma postura sempre aconselhável para um advogado.
O prejuízo que seu cliente teria permanecendo em silêncio por uns dias seria largamente compensado pela desmoralização ampla, geral e irrestrita de seus inimigos, começando por Sérgio Moro, quando a mentira fosse devidamente desmascarada.
O plano de Serrano era simples. Se Appio simplesmente viesse à público defender que não tinha feito nenhum telefonema, seria apenas a sua palavra contra toda uma mídia lavajatista, que, como vimos, ainda é forte (e sem vergonha). Muito mais estratégico seria encomendar um laudo de um especialista independente e respeitado para contestar (ou confirmar) se a voz era mesmo de Eduardo Appio.
Serrano, aparentemente, nem teve muita pressa. Deu um tempinho para que os inimigos de Appio mordessem bem a isca. Daí procurou Pablo Arantes, professor no Laboratório de Fonética da Universidade de São Carlos, e conseguiu um laudo que contesta categoricamente a “perícia” feita às pressas por setores corrompidos da Polícia Federal de Curitiba.
Xeque mate!
O laudo de Arantes explicita que Sergio Moro tentou uma armação suja contra Eduardo Appio. E terá que pagar, uma hora ou outra, por mais esse crime.
A outra marretada que Moro levou nos últimos dias veio na forma das revelações devastadoras de Tony Garcia, em especial nas entrevistas de Tony Garcia ao 247 e à Forum.
O empresário curitibano é um arquivo vivo das tramóias da Lava Jato. Ele foi partícipe de tudo. Recebia instruções claras de agentes corruptos do Ministério Público e do Judiciário do que deveria falar em depoimentos e mesmo em entrevistas à imprensa.
“Eu era agente infiltrado”, diz Garcia, revelando ainda que Sergio Moro o obrigou a andar junto com um “agente da Abin”. Há ainda o detalhe sórdido de que Moro determinou que o empresário deveria custear hotel, locação de carro e compra de equipamentos usados por este agente.
A força do depoimento de Garcia é devastadora. O mínimo que se espera, por parte da justiça, é que investigue a veracidade de suas acusaçòes.
Ele assegura que tem provas de todas as suas afirmações, e que tudo que tem revelado consta de seu depoimento à Gabriela Hardt, juíza da 13a Vara, em 2021, que em seguida mandou arquivar tudo.
“Eu fui prisioneiro deles”, denuncia Garcia, referindo-se a como se sentia perante Moro e seus cúmplices no MPF e na Polícia Federal.
Na entrevista para a Forum nesta terça-feira, Tony Garcia explicita ainda o papel do judiciário na série de manipulações midiático-judiciais iniciada pelo chamado escândalo do mensalão e, em seguida, da Lava Jato.
O inferno astral de Sergio Moro está só começando.