Após expressar críticas a Valdemar Costa Neto, presidente do partido PL, o deputado se vê sem apoio interno para seguir adiante com seu projeto eleitoral.
O ex-ministro do Meio Ambiente e deputado federal pelo PL, Ricardo Salles, anunciou nesta segunda-feira sua retirada do projeto de concorrer à Prefeitura de São Paulo.
A decisão foi tomada após as repercussões negativas de suas críticas públicas ao presidente do partido, Valdemar Costa Neto, que havia afirmado em entrevistas que o partido necessitava de um candidato de centro-direita para a eleição municipal de 2024 na capital paulista. Valdemar rotulou Salles como um político de “extrema-direita”.
— Não serei mais candidato. A ala conservadora perdeu. O grupo político predominante venceu — declarou ao jornal O GLOBO, referindo-se ao Centrão, grupo político do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB).
Nas últimas semanas, diversos acontecimentos têm causado desconforto no grupo de Salles. Além de um evento do PL Mulher, que contou com a presença de Nunes no palco, a família Bolsonaro tem se aproximado do prefeito, tanto em aparições públicas quanto em encontros para refeições.
Há duas semanas, por exemplo, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL) acompanhou o prefeito e o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) na cerimônia de entrega de títulos de posse de terra na Arena Corinthians, localizada na Zona Leste da capital. Eduardo foi vaiado pelo público, mas isso impactou negativamente no projeto do ex-ministro.
Em um tuíte publicado no último sábado, Salles criticou a aproximação do PL com o prefeito e afirmou que, para o Centrão, “tudo é negócio”.
“Não são conservadores, nem liberais e muito menos de direita. Eles jamais serão oposição. Sempre estarão no governo. Não foi para isso que lutamos contra a esquerda por quatro anos. Vergonhoso”, desabafou o deputado federal, mencionando a relação do partido com o PT. A mensagem foi considerada prejudicial pelos correligionários.
Conforme revelado pelo jornal O GLOBO no sábado, Salles vivenciava o seu momento mais crítico no PL, devido às ações de Valdemar contra sua candidatura à prefeitura no próximo ano.
Entre as ações do presidente do PL contra o ex-ministro, estavam a nomeação do marqueteiro Duda Lima, pessoa de confiança de Valdemar, para a campanha de Nunes, e declarações públicas de que o partido deveria apoiar um candidato “moderado” para concorrer com o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL).
A animosidade com o presidente do próprio partido tem como pano de fundo as críticas de Salles ao Centrão e à gestão municipal de São Paulo, da qual o PL faz parte e é aliado. Na visão dos caciques do PL, as acusações de Salles contra Nunes como um “símbolo do Centrão” e suas referências a “máfias diversas” estavam prejudicando o partido em si.
Enquanto Salles se encontrava cada vez mais isolado, Nunes fortalecia suas relações com Tarcísio, Bolsonaro e figuras influentes de seu círculo, especialmente o ex-chefe da Secretaria de Comunicação, Fábio Wajngarten, um conselheiro do ex-presidente e entusiasta da reeleição do prefeito do MDB.
Um sinal claro de aproximação ocorreu na sexta-feira, quando Tarcísio, Nunes e Bolsonaro participaram de um evento conjunto em São Paulo. Em seguida, o ex-presidente, o prefeito e o ex-secretário de Comunicação seguiram juntos para um almoço com Valdemar e empresários da região.
Durante o encontro, Bolsonaro recebeu apelos para apoiar o prefeito desde já. No entanto, ele respondeu que ainda era cedo para decidir. Em um momento descontraído, brincou dizendo que tinha “muita tubaína” para tomar com Nunes antes que o “namoro” se tornasse um “casamento”.
Apesar de ter declarado apoio a Salles quando retornou de sua viagem aos Estados Unidos, Bolsonaro vinha expressando desconforto nas últimas semanas em relação às atitudes de seu ex-ministro do Meio Ambiente. Ele demonstrou incômodo, por exemplo, com as declarações de Salles sobre as Forças Armadas gastarem grandes quantias de dinheiro dos contribuintes brasileiros com “inimigos fictícios, míssil não sei de onde”.
Por outro lado, Salles estava construindo alianças com parlamentares próximos a Valdemar. O deputado transformou sua residência na capital paulista em uma espécie de refúgio bolsonarista, onde recebia regularmente para um café da manhã a equipe de apoio do ex-presidente. Além de figuras como Eduardo, Luiz Philippe de Orleans e Bragança, Paulo Bilynskyj, Mario Frias e Lucas Bove, seu braço direito na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), eram frequentadores do local.
No entanto, desde que Bolsonaro deu publicamente seu aval à empreitada eleitoral de Salles, o grupo começou a ganhar adeptos do “PL raiz” – a ala próxima a Valdemar, que já estava no partido antes da chegada dos bolsonaristas em 2022. Carlos Cezar, líder do partido na Alesp, Luiz Carlos Motta e Jefferson Campos, próximos a Valdemar, eram alguns dos participantes desses encontros.