Este é um assunto que venho abordando indiretamente nas minhas últimas colunas (ver aqui e aqui), mas acho importante discutirmos de forma direta. Mesmo que o Ministro das Relações Institucionais (SRI), Alexandre Padilha, cometa seus erros, alguns corretamente pontuados por lideranças de seu próprio partido, o chefe do SRI é mais vítima do que culpado.
Primeiro, é preciso entender que a Câmara dos Deputados, hoje, tem sua própria agenda de governo e, de forma sistemática, tenta impô-la ao governo eleito. Arthur Lira (PP-AL), hoje, só joga com golpes abaixo da cintura.
Ameaças de trancamento de pauta, chantagens e criação intencional de crises (basta ver como a Câmara deixou a MP ministerial para ser votada no último segundo).
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Lira gastou os primeiros 6 meses do ano legislativo trancando todas as medidas provisórias do governo em uma briga com o Senado. Quando Lira, lá no começo do ano, começou a brigar para alterar as tramitações de MPs, ele não estava brigando com o Senado, ele estava brigando com a Constituição! E quando ele disse ao STF que a decisão sobre a tramitação de MPs cabe ao Congresso, na verdade, ele estava mandando a Constituição às favas como um bom bolsonarista.
E mesmo depois de toda essa questão, ele deliberadamente demorou para colocar em pauta as MPs do governo que permitem que o presidente da República possa implementar o plano de governo vencedor das urnas?
Ou seja, há sim uma evidente má fé e perversidade por parte considerável do Congresso Nacional. E mesmo que Padilha fosse o articulador mais hábil do planeta, como ele irá lidar com um cenário desses?
E se não bastasse o “lado de lá”, ao seu lado também há aqueles que podem estar trabalhando contra ele.
Esta semana, a bancada do PT na Câmara pensou seriamente em marcar uma audiência com o próprio presidente Lula para pontuar algumas suspeitas de sabotagem de ministros palacianos contra Padilha. Uma das suspeitas que correm na boca miúda de Brasília é contra o próprio ministro Rui Costa, que hoje comanda a Casa Civil.
Padilha até hoje não conseguiu nomear e ocupar todas as posições de seu ministério; todas estão represadas na Casa Civil. Além disso, não conseguiu cumprir diversas promessas para parlamentares devido à pouca colaboração com ele e até mesmo à falta de autonomia.
Também ninguém mais esconde que Padilha pode estar sendo vítima do silencioso conflito entre o PT de São Paulo e os diretórios do partido no Nordeste; segundo alguns, até mesmo o Rio de Janeiro estaria sendo arrastado para isso.
E para piorar, ainda temos ministros de outras pastas que estão cometendo um show de indelicadezas com parlamentares em suas viagens aos estados.
Geralmente, é de bom tom que um ministro do governo federal, ao ir para um determinado estado, notifique os políticos da base que sejam da região, para que participem das agendas públicas, e isso não vem ocorrendo de forma tão efetiva assim.
Se falta mais “tato” político a Padilha, definitivamente falta mais lealdade e honestidade dos atores políticos de Brasília. Hoje, qualquer crítica feita ao ministro precisa partir do pressuposto de que ele também é vítima.