O Chanceler russo, Sergey Lavrov, indicou em conversa com o ministro das relações exteriores brasileiro, Mauro Vieira, um interesse em usar moedas locais para relações bilaterais entre os países. A ideia é diminuir a dependência do dólar em relações comerciais. Os representantes dos países estão reunidos na África do Sul para um encontro dos BRICS.
A possibilidade de realizar relações comerciais com outras moedas que não o dólar já foi ventilada pelo presidente Lula em outras oportunidades. Em sua viagem à Portugal e durante a cúpula do G7 no Japão o chefe do executivo brasileiro já havia mencionado esse desejo. Lula, inclusive, já fechou um acordo com a China para realizar transações bilaterais com moedas de um dos dois países, num movimento que tenta redefinir o cenário geopolítico global.
O portal UOL apurou que, segundo fontes do Itamaraty, as conversas com a Rússia acerca do assunto são apenas “exploratórias”. No entanto há um claro interesse dos Russos em fugir da dependência do dólar por conta das sanções impostas pelos estadunidenses ao país.
A Rússia foi, entre janeiro e maio de 2023, o quinto maior exportador de produtos ao Brasil, na frente, inclusive, de países como Japão, Itália e França. Além disso, em 2022 os dois países bateram um recorde em relação ao comércio bilateral, com transações superando os US$ 9,8 bilhões.
Em abril, quando o Chanceler Russo esteve no Brasil, Mauro Vieira justificou a manutenção das relações comerciais com os russos, por exportarem cerca de um quarto dos fertilizantes utilizados no país. “Tratamos de um acordo para garantir o fluxo deste insumo de vital importância para nossa agricultura. Também tratamos para que estabelecimentos brasileiros possam exportar produtos de origem animal para a Rússia”
Enquanto isso, a Rússia, assim como o Brasil, também firmou acordo com a China para relações bilaterais utilizando o Rublo ou o Yuan, moedas dos dois países, respectivamente. Durante 2022, as transações entre os dois países chegaram a US$ 190 bilhões, sendo 70% realizado com as moedas locais, superando o uso do dólar.
Os Estados Unidos não veem com bons olhos essa movimentação dos países emergentes. O assunto é alvo de debates no país, pois há o entendimento de que há uma tentativa de driblar sanções econômicas impostas pelos estadunidenses.
Encontro do Brics
Os representantes internacionais de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul se reuniram na última sexta (2) na Cidade do Cabo, ao lado de algumas outras nações, para um encontro do BRICS, que busca, principalmente, a expansão do bloco econômico.
Argentina e Irã são dois fortes candidatos a participar do grupo, visto que manifestam interesse há algum tempo. Recentemente, em reunião dos países latino americanos no Brasil, o Presidente Lula sinalizou uma possível entrada da Venezuela no bloco econômico.
Nesta sexta (2), a sul-africana, Naledi Pandor, ministra das relações exteriores da África do Sul, atual líder do Bloco, comentou sobre o relacionamento com Rússia no contexto atual, onde o país invadiu a Ucrânia e mantém uma guerra há mais de um ano sem sinais de cessar-fogo. “Não podemos permitir que o conflito em uma parte do mundo substitua a ambição de erradicar a pobreza mundial, o maior desafio global”, disse a ministra.
A cúpula definitiva do BRICS deste ano ocorre em agosto, em Joanesburgo. A reunião terá como tema “Brics e África: Parceria para crescimento mutuamente acelerado, desenvolvimento sustentável e multilateralismo inclusivo”. Na ocasião, todos os líderes dos países devem estar presentes, incluindo Lula e Putin.
A presença do presidente Russo gera discordância, visto que recentemente ele foi alvo de um mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional (TPI), em Haia. Caso Putin compareça à reunião dos BRICS o mandado não poderá ser cumprido, pois esta semana o governo sul-africano concedeu imunidade democrática às autoridades que participarão da cúpula em agosto.
Na última terça-feira (30), em comunicado, o Kremlin comentou sobre a possível participação russa na reunião. Segundo o país, eles participarão “no nível adequado” do encontro.