A Câmara dos Deputados aprovou na noite desta quarta-feira (31) a Medida Provisória 1.154/23, que criou a estrutura ministerial em vigor desde a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em janeiro deste ano. A proposta recebeu 337 votos favoráveis e 125 contrários e agora precisa ser analisada pelo Senado até quinta-feira (1º), último dia de validade da medida.
Embora seja considerada uma vitória do governo, é inegável que o Palácio do Planalto teve que dedicar uma quantidade absurda de tempo, esforço e pessoal para algo que em mandatos anteriores sempre foi secundário.
Isso significa que os problemas de Lula na articulação política foram resolvidos? Pelo contrário! Isso apenas jogou mais holofotes sobre as profundas e graves questões na base. Os partidos do centrão, que fazem parte do governo e possuem ministérios, deram apenas 25% dos votos favoráveis.
Outro problema sério está na falta de confiança entre a base petista e o Palácio do Planalto. Há um entendimento claro na bancada de que o Ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha (PT-SP), está sendo alvo de sabotagens de alguns membros do Planalto. Isso foi mencionado pelo deputado Zeca Dirceu (PT-PR) e reforçado na reunião da bancada petista do dia 31, revelada exclusivamente por esta coluna. É considerado necessário defender e fortalecer a permanência de Padilha na articulação política.
Além disso, parece haver uma movimentação discreta nos bastidores de Arthur Lira (PP-AL) e do centrão para substituir Padilha pelo deputado petista José Guimarães (PT-CE).
Como também foi revelado por esta coluna, a bancada petista tentou marcar uma reunião com Lula para denunciar as sabotagens contra Padilha. Há quem afirme que isso faz parte de um conflito silencioso nos bastidores entre o PT do sudeste, principalmente São Paulo, e o PT do nordeste, uma questão que tem sido tratada com cautela.
Outro problema que precisa ser resolvido o mais rápido possível é a distância entre Lula e a política nacional. Embora seja conhecido como um hábil articulador e tenha um histórico de vitórias políticas, parece que Lula não está muito interessado nas questões domésticas.
Não é raro ouvir de membros do Palácio do Planalto e parlamentares a frase “Lula não sabe disso” ou “Lula não está ciente daquilo”. É extremamente comum ouvir isso de qualquer ator político em Brasília, mesmo quando se pergunta sobre temas de interesse do governo. Ontem, um deputado petista afirmou a esta coluna que Lula não sabia (e ainda não está ciente) das supostas sabotagens contra Padilha.
Portanto, é preciso ter cuidado para que os pedidos para que Lula entre na articulação política não se tornem um “72 horas da esquerda” ou a infame “guinada à esquerda” de 2014. Embora Lula tenha feito um discurso na semana passada indicando que se envolveria nas articulações, até o momento não há indícios de que as movimentações feitas por Lula ontem sejam mais do que um movimento pontual, o que deixa uma incógnita sobre quando ocorrerá a tão esperada “hora da virada”.
Há uma percepção de que Lula não está tão interessado na política doméstica e que está impaciente, incomodado e decepcionado com os rumos da política nacional. É evidente que Lula está focado na política internacional, e o presidente nem mesmo faz questão de esconder isso.
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Não faltam críticas ao Planalto e aos ministros por parte dos deputados, inclusive por pessoas próximas da deputada e presidente do PT, Gleisi Hoffman. Portanto, não é surpreendente que os partidos do centrão com ministérios no governo tenham dado tão poucos votos.
Além disso, as nomeações ministeriais exóticas de David Alcolumbre (UNIÂO-AP) não renderam nenhum voto ao governo e têm causado problemas. Existe uma confusão de que essas indicações estariam relacionadas ao União Brasil, o que não é verdade e já é um fato conhecido em Brasília. O governo ainda não decidiu o que fazer com essa situação, que é um verdadeiro elefante na sala.
A própria bancada petista, em reunião no dia 31, reconheceu que a política em 2023 não é a mesma de 2003 e que as antigas estratégias não são mais tão eficazes. É necessário repensar como virar o jogo.
Além da bancada petista, há uma insatisfação generalizada entre os deputados, que afirmam ter dificuldades de diálogo com ministros e na realização de indicações para cargos em ministérios. Além disso, há a falta de verbas do orçamento devido ao fim do orçamento secreto. O líder do PT na Câmara, Zeca Dirceu, também declarou que o governo é lento para nomear cargos, liberar emendas e receber parlamentares.
Lula afirma que quer fazer um terceiro mandato histórico, o melhor de sua carreira política. No entanto, isso não pode ser alcançado apenas com a política externa.