O relatório que avalia os 100 dias da direção de Jean Paul Prates na empresa traça objetivos para contornar os prejuízos deixados pela gestão Bolsonaro.
O Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo (Ineep) divulgou, nesta terça-feira (30), um boletim referente aos 100 dias de Prates – os 100 primeiros dias do então presidente da Petrobras, Jean Paul Prates.
A gestão de Prates foi marcada por desafios em uma empresa em disputa, uma vez que a Petrobras vem sofrendo um processo de desmonte e desnacionalização desde 2016, aliado aos obstáculos implementados pelo governo de Jair Bolsonaro.
“A herança bolsonarista é desastrosa e o grande desafio da atual gestão é a revisão do planejamento estratégico da companhia”, diz o boletim. “Alterar essa rota não é simples, já que Prates enfrenta resistências tanto internas à sua própria estrutura de governança, quanto externas”.
Em 2022, o ex-presidente Jair Bolsonaro promoveu uma aceleração no processo de privatização da empresa de petróleo. Segundo os dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), as vendas de parte do patrimônio da Petrobras foram feitas, em sua maioria, durante a gestão Bolsonaro.
Conforme indica o levantamento, a partir de 2015, foram vendidos 244 ativos, que somam R$ 202,8 bilhões. Porém, o Panorama de Desinvestimentos da Petrobras indica que 89% das vendas foram feitas entre 2019 e 2022, anos de Bolsonaro na liderança do país. O ano com maior número de repasses foi 2021, com 74 ativos vendidos.
Os cálculos do Ineep avaliam a venda da Refinaria Landulpho Alves (RLAM), na Bahia, por exemplo, como sub precificada. A produtora de gasolina, diesel e derivados de petróleo foi vendida em dezembro de 2021 ao Mubadala Capital por 1,65 bilhão de dólares, cerca de R$ 8,25 bilhões na época. Os números indicam que a refinaria valia pelo menos o dobro disso – quase 4 bilhões de dólares.
A partir desse cálculo, a Federação Única dos Petroleiros (FUP) fez uma denúncia ao Tribunal de Contas da União (TCU). O caso, porém, foi arquivado.
Diante das complicações que acometem a Petrobras, o presidente informou as principais ideias para a solucioná-las. De acordo com ele, “essas posições se alinham, em parte, à plataforma política do atual Governo”.
Entre elas, estão a promoção da transição energética e justa; o avanço em energias renováveis e na exploração da Margem Equatorial Brasileira; maior transparência na governança; prática de preços competitivos e defesa da atual fatia de mercado da companhia; e a flexibilidade na aplicação da política de dividendos.
Além disso, a direção definiu quatro estratégias para “arbitrar sobre as questões incontornáveis ao futuro da estatal e do país”. São elas:
- Determinar a política exploratória da companhia, definindo a concentração nas áreas já descobertas ou o avanço para novas fronteiras;
- Decidir entre expandir a capacidade de refino da companhia ou ampliar a dependência de importação dos derivados;
- Determinar o volume de investimentos direcionados à Transição Energética e quais rotas tecnológicas são privilegiadas;
- Escolher entre manter a estratégia de negócios de curto prazo, que remunera de forma extraordinária os acionistas, mas fragiliza o futuro da empresa, ou retomar a posição de uma empresa integrada de energia, sustentável financeira e ambientalmente a longo prazo e satisfaz os interesses do povo brasileiro, segundo o relatório, “seu acionista majoritário”.
A Ineep afirma que a revisão dos pontos citados irá expressar o caráter da direção de Prates. Ele já indicou caminhos e iniciou diálogos favoráveis à empresa, mas ainda “precisa avançar na consolidação de um novo norte estratégico para a Petrobras”.
“Essa tarefa passa pela revalorização dos trabalhadores, ampliação do horizonte temporal de seus planos estratégicos e alinhamento das diretrizes da Petrobras ao interesse público, à ordem econômica constitucional e à garantia da segurança energética, industrial e tecnológica nacional”, afirma o boletim.