“Se abríssemos as pessoas, encontraríamos paisagens”, dizia Agnes Varda, mãe de inúmeras obras cinematográficas marcantes para o mundo. A cineasta completaria 95 anos de idade nesta terça-feira (30).
A renomada cineasta belga, crescida na França, Agnès Varda completaria nesta terça-feira (30) 95 anos de idade. A diretora de filmes como “Cleo das 5 às 7” (1962) e “Visages, Villages” (2017) morreu em 2019, aos 90 anos de idade.
Varda fazia filmes e documentários desde a década de 50, quando se tornou um dos nomes mais importantes para a nouvelle vague (nova onda). O movimento francês, que nasceu em 1958, buscava ir na direção contrária a Hollywood, contra o cinema comercial e o convencional da época. A intenção do estilo era criar obras intimistas, autorais, fluidas, com apelo intelectual e crítico. Na maioria das vezes, retratavam temas de cunho social e davam voz à sentimentos verdadeiros – elementos, esses, muito bem trabalhados por Varda.
A cineasta foi a única mulher a ganhar a Palma de Ouro honorária, em Cannes, e a primeira diretora a ganhar o Oscar pelo conjunto de sua obra. Por vezes, Varda se colocava em cena, porém seu foco era partilhar histórias de pessoas comuns.
“Me mantive fiel ao ideal de compartilhar emoções e impressões, e tenho tanta empatia pelas outras pessoas que me aproximo daqueles sobre quem não falamos muito”, definiu assim, sua trajetória em entrevista ao jornal Hollywood Reporter. “Tenho 65 anos de trabalho na minha bolsa, e quando coloco a bolsa no chão, o que sai dela? Sai o desejo de encontrar ligações e relações com diferentes tipos de pessoas. Não faço filmes sobre a burguesia, os ricos, a nobreza. Minha escolha foi mostrar pessoas que são, de certa forma, mais comuns, e ver que cada uma delas tem algo de especial, interessante, raro e bonito. Este é o meu modo natural de olhar as pessoas”, completou Varda.
As obras de Agnès Varda atuaram com importante influência sobre o cinema até as obras atuais. Para ela, a câmera era como uma caneta, com a qual ela “escrevia” as histórias de pessoas marginalizadas e de grupos sociais distintos. A autenticidade da cineasta conferiu a ela um sucesso tremendo por todo o mundo de ficção e documentário.
Os textos de Agnès Varda, escritos e narrados por ela, davam o tato humano nas discussões politizadas e pungentes das décadas passadas. “O acaso foi sempre o melhor dos meus assistentes”, dizia ela.
No âmbito de ficção, a cineasta retratava a vida das mais variadas mulheres – a mais icônica é Cleo, de “Cleo das 5 às 7”. Com seu estilo experimental e intimista, Varda conseguia capturar com maestria as nuances da personagem e abrir um leque de novidades nunca vistas antes no cinema, intensamente liderado por e para homens.
Já com os documentários, o curta-metragem “Resposta das mulheres: Nosso Corpo, Nosso Sexo”, de 1975, por exemplo, mostra a luta feminista e as diferentes formas do que é ser mulher. Por outro lado, a força do movimento negro também foi retratada: um dos documentários mais relevantes de Varda e do gênero na história do cinema, “Os Panteras Negras”, de 1968, traz imagens de debates de conscientização do povo negro promovidos por um dos líderes do movimento, o Huey Newton.
Varda foi casada com o também influente diretor Jacques Demy de 1962 até 1990, ano da morte dele. Ela trabalhou para preservar a filmografia do marido e, um ano após o seu falecimento, lançou o longa-metragem “Jacquot de Nantes”, ficção sobre a infância do marido. Os dois filhos do casal, hoje, atuam na área audiovisual.
“La Pointe Courte” (1954), “Saudações, cubanos!” (1963), “As Duas Faces da Felicidade” (1965), “Uma Canta, Outra Não” (1977), “Os Renegados” (1985), “Os Catadores e Eu” (2000) e “As Praias de Agnès” (2008) são só algumas obras da extensa e marcante carreira.
O último longa da diretora foi “Varga por Agnès”, lançado em 2019 e é um documentário autobiográfico. Em uma reportagem para o Hollywood Reporter, ela foi questionada se o filme era sua “última palavra”. “Eu nunca quis dizer nada, só queria olhar para as pessoas e compartilhar”, respondeu.
Agnès Varda morreu em 2019, com 90 anos, em decorrência de um câncer de mama. Hoje, podemos olhar para a vida e carreira da artista belga e ter inspirações de uma passagem excepcional e singular no mundo através das lentes do cinema.
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